No 1º semestre, Bolsonaro recebeu mais escolas que Temer, Dilma e Lula
Instituições de ensino que fazem o passeio evitam abordar polarização política e pautas polêmicas do governo
Enquanto uma criança de 9 anos se alegra ao ser erguida pelo presidente da República, outra na mesma faixa etária dispara que Jair Bolsonaro deveria ser mais simpático na televisão. Ambas cursam o 4º ano no Centro Educacional 1 da Estrutural, situado fora do centro de Brasília, e conheceram pessoalmente o chefe máximo do Executivo durante uma visita guiada ao Palácio do Planalto no mês de maio deste ano.
A professora Nadjonei Castro acompanhou os alunos e disse que o presidente quebrou o protocolo e agiu de forma muito espontânea na presença das crianças. “Parecia um vovô”, comentou. Os assuntos das conversas foram desde a importância da família até comidas preferidas e times de futebol.
Com 77 visitas escolares nos primeiros seis meses de governo, Bolsonaro fica à frente de seus antecessores considerando esse tipo de recepção. Cerca de 3,5 mil estudantes de escolas públicas e particulares foram recebidos pelo Planalto neste ano até agora. Em quatro oportunidades, houve contato direto com o presidente.
No mesmo período dos respectivos mandatos, Michel Temer recebeu 36 visitas, e Dilma Rousseff, 69. Luiz Inácio Lula da Silva teve 74 visitas no primeiro semestre da segunda gestão, quando os registros começaram a ser feitos pela Secretaria-Geral da Presidência. Os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Divisão política
O presidente mais visitado, porém, costuma dispensar filtros nas falas públicas e defende propostas consideradas polêmicas.
Exemplos de percepções distintas sobre Bolsonaro, as opiniões dos estudantes que participam da atividade, segundo funcionários das escolas, geralmente refletem o que escutam dentro de casa. A polarização política que marca o histórico de ascensão do atual presidente, no entanto, não é detalhada pelas instituições que fazem o passeio.
A diretora da Escola Classe 19 de Taguatinga, Thais Macedo, considera os alunos muito novos para esse tipo de abordagem. Helen de Oliveira, professora do 5º ano que acompanhou uma das visitas, disse ter conversado previamente com os estudantes, que têm idades entre 10 e 12 anos.
“Todos têm sua escolha política e isso não influencia. Essa conversa foi bem imparcial. Claro, em um primeiro momento, queriam se pronunciar”, explicou.
A supervisora pedagógica da Escola Classe 1 do Guará, Gislaine Rodrigues da Cunha, disse que precisou intervir quando a flexibilização da posse e do porte de armas de fogo no Brasil foi assunto no colégio, ainda durante a campanha de Bolsonaro.
“Tem coisa que a gente tem que cortar. Em relação às armas, por exemplo. Até antes da eleição, eles diziam que iam votar no Bolsonaro porque ele ia ‘dar arma’. A gente teve que conversar com eles a respeito”, contou.
Questionada, a educadora negou problemas com pais de alunos, mas disse que é necessário ter cuidado para orientar sem influenciar politicamente. “É um ou outro que tem consciência política. Nesse caso, eu tive que falar porque não era uma coisa verdadeira. O Bolsonaro não ia sair dando armas para as pessoas”, explicou.
No Centro Educacional 1 da Estrutural, os estudantes do 4º ano têm abertura para o debate uma vez por semana. A professora Nadjonei Castro disse que incentiva os alunos a argumentarem sobre diferentes temas, respeitando o que é dito por cada um.
“Eles têm partido assim como têm time de futebol”, contou. “Cada um vai colocar sua opinião. Aí é a hora em que entra a posição partidária que se vivencia dentro de casa, mas nada extravagante, nada além do normal”, relatou.
Tentando fugir da polarização política, as instituições de ensino aproveitam a oportunidade para que os alunos entendam com mais facilidade o conteúdo transmitido em sala de aula. Isso porque história de Brasília e o funcionamento dos Poderes da República fazem parte do aprendizado.
Vilma Cavalcanti de Sousa, diretora da Escola Classe 27 de Ceilândia, destacou que muitas crianças, residentes em regiões administrativas do Distrito Federal nem sequer têm acesso ao Plano Piloto.“Quando passa na televisão e eles veem, é uma realidade tão distante, mas está tão pertinho”, disse.
A diretora acredita que a manifestação política dos alunos é inevitável. Ainda assim, a escola escolhe incentivar um posicionamento neutro, distanciando-se do partidarismo.
“Sempre surge alguma pergunta. O que eles trazem de questão de política é o que ouvem em casa. Eles não têm compreensão. Aí, não se trabalha política escola, até para evitar o estresse mesmo. Nessa situação política em que nós estamos, se ficar questionando muita coisa, você levanta uma polêmica desnecessária”, comentou a diretora.
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