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Entenda a crise de saúde yanomami, que levou o governo a decretar emergência

Órgão de saúde visitaram tribos e encontraram crianças expelindo vermes pela boca


Por Folhapress Publicado 22/01/2023

A tragédia de saúde pública dos yanomamis em Roraima, que motivou a ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Boa Vista e o anúncio de medidas sanitárias aos indígenas, é marcada por um cenário de desnutrição -especialmente entre as crianças- e de doenças.


Neste sábado (21), a reportagem viu crianças internadas na Casai (Casa de Saúde Indígena), onde o presidente esteve, com sinais de verminose, como abdome inchado.


Além disso, imagens divulgadas por indígenas da etnia mostram crianças e idosos em situação de desnutrição e necessitando de amparo e auxílio médico.

As fotos são de Junior Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye´kuana


Na avaliação de especialistas, a situação tem como vetores, pois, as principais a invasão de garimpeiros ilegais e a degradação contínua e acelerada no atendimento de saúde para essa população, ambos nos últimos anos.

A URIHI (Associação Yanomami) divulgou fotos e faz arrecadação de dinheiro para ajudar as tribos.


A falta de assistência chegou ao ponto de a PF (Polícia Federal) e o MPF (Ministério Público Federal) fazerem uma operação em novembro para combater suposto desvio de recursos públicos destinados à compra de medicamentos para os yanomamis.

O Ministério da Saúde decretou estado de emergência nesta sexta-feira (20).


Segundo a operação Yoasi -nome na cultura yanomami do “irmão de Omama e responsável pela morte no mundo”-, as supostas fraudes resultaram na retenção de remédios como vermífugos, que deixaram 10.193 crianças desassistidas.


O resultado, segundo a PF, foi o “aumento de infecções e manifestações de formas graves da doença, com crianças expelindo vermes pela boca“.


O MPF recebeu áudios com relatos desesperados de falta de medicamentos, especialmente para malária e verminoses, além de imagens de crianças já em avançado estado de desnutrição, como ainda estão atualmente.


Em suma, de 13.748 crianças aptas ao tratamento de verminoses no primeiro semestre do ano passado, só 3.555 foram tratadas, conforme a Procuradoria.


“É uma das maiores tragédias que a gente tem observado nos últimos anos no território brasileiro e acho que agora a questão está um pouco mais compartilhada com a opinião pública”, disse Estêvão Benfica, pesquisador do ISA (Instituto Socioambiental), que trabalha com os yanomami desde 2013.


De acordo com ele, que é geógrafo e analista do ISA, a combinação do garimpo ilegal com a falta de assistência médica amplifica os impactos nos indígenas.


A isso são somados ainda os casos de abandono dos pontos estratégicos de atendimentos de saúde próximos às pistas de pouso utilizados pelas equipes do Dsei-Y (Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami), por temor dos funcionários às investidas de garimpeiros ilegais na região.


“Acaba por produzir a situação em que doenças simples e facilmente tratáveis começassem a evoluir para quadros complexos”, disse.


Ainda segundo o MPF, 52% das crianças yanomamis estavam desnutridas no fim de 2022, índice que em comunidades de difícil acesso chegava a 80%.


O cenário de degeneração da saúde indígena em Roraima é critico.


Beto Marubo, membro da Univaja (União dos Povos Indígeas do Vale do Javari), que atua na proteção de 16 grupos isolados no Amazonas, por exemplo, disse que “a tragédia dos yanomami não é novidade para ninguém”.


Ele disse que não basta apenas o deslocamento de Lula e seus ministros para dar atenção ao caso e que é preciso também retirar os garimpeiros ilegais.


As críticas não se restringem ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas também à gestão do governador bolsonarista Antonio Denarium (PP), reeleito em 2022.

Na segunda-feira (23), uma equipe da Força Nacional do SUS (Sistema Único de Saúde) chega a Boa Vista com 13 profissionais, que farão a operação de um hospital de campanha.

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