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Clubes discutem criar grupo para negociar direitos de TV

A maior preocupação dos dirigentes é com a arrecadação do sistema de transmissão por pay-per-view (PPV) do Grupo Globo


Por Folhapress Publicado 26/09/2019
Reprodução/TV Globo

Presidentes de clubes das Séries A e B do Brasileiro articulam, em um grupo de Whatsapp, a criação de uma frente de agremiações para negociar em conjunto contratos de direitos de televisão. A maior preocupação dos dirigentes é com a arrecadação do sistema de transmissão por pay-per-view (PPV) do Grupo Globo, que está em queda, e com as mudanças que a emissora pretende implantar para a plataforma. O movimento de descontentes inclui times com pequenas e grandes receitas televisivas.

Os clubes negociam individualmente os contratos de TV do Campeonato Brasileiro desde o fim do Clube dos 13, em 2011. Cartolas ouvidos pela reportagem, no entanto, descartam ressuscitar o nome, até porque a forma de organização do grupo deve ser diferente. Eles consideram formar uma associação ou sindicato.

A extinção do Clube dos 13, que agregava os principais times do futebol brasileiro, começou com uma manobra que uniu Globo, CBF e alguns dirigentes de clubes do próprio grupo, como Andrés Sanchez, presidente do Corinthians.

As disputas entre os clubes se acirraram em 2010, quando, com apoio da confederação e da emissora, Kleber Leite, ex-presidente do Flamengo, foi derrotado na eleição para a presidência do Clube dos 13 por Fabio Koff. A ideia é juntar no novo grupo as 40 agremiações das duas principais divisões do país. Há uma reunião marcada entre os presidentes para a próxima segunda-feira (30).

O grupo de Whatsapp em que os dirigentes discutem a formação do grupo existe pelo menos desde o início de 2019 e tem sido usado para debates sobre os principais temas do futebol nacional, sobretudo a arbitragem, o uso do árbitro assistente de vídeo (VAR) e os direitos de transmissão.

Na última sexta-feira (20), os dirigentes viajaram a São Paulo para reunião com executivos do Grupo Globo. Como eles já esperavam, a emissora sinalizou queda na venda de pacotes de pay-per-view, mas não revelou os valores. Isso vai interferir na renda das equipes, que recebem 38% do valor bruto que o grupo arrecada com o serviço.

Os clubes alegam que, pela receita obtida no pay-per-view de maio a junho deste ano, os sete meses de contrato resultariam, ao fim do Brasileiro, em R$ 413 milhões. Seriam R$ 237 milhões a menos do que os R$ 650 milhões imaginados inicialmente.

Os cartolas também se queixam da intenção do Grupo Globo de aumentar seu lucro eliminando o intermediário na venda dos pacotes ao mesmo tempo em que propõe reduzir o percentual repassado às equipes de 38% para 25%.

Na teoria, o contrato só poderia ser renegociado em 2024, quando vence o atual acordo assinado pelas 20 equipes para TV aberta, 19 para pay-per-view (a exceção é o Athletico-PR, que não aceitou a proposta) e 13 para TV fechada (Palmeiras, Santos, Bahia, Ceará, Fortaleza, Athletico-PR e Internacional-RS assinaram com a Turner, o clube gaúcho apenas até 2022).
Eles veem, porém, a possibilidade de a Globo querer renegociar o contrato para mudar o modelo atual.

Em trocas de mensagens no grupo de Whatsapp, a emissora foi ironizada por, ao mesmo tempo em que deve reduzir o dinheiro que os clubes têm a receber, desejar que as agremiações façam campanhas de marketing para os torcedores assinarem seu serviço de PPV.

De acordo com os dirigentes, a ideia da detentora dos direitos é faturar mais com o pay-per-view vendendo de maneira direta aos clientes, sem intermediários, como companhias de TV a cabo. Antes da reunião da última sexta em São Paulo, os presidentes discutiam no grupo o que seria apresentado no encontro e qual seria a reação apropriada da parte deles.

Uma das preocupações era a pretensão da emissora de unir todas as plataformas (TV aberta, fechada, PPV e internet) em apenas um contrato, diferentemente do que acontece atualmente. Para a empresa, segundo os dirigentes dos clubes, seria a simplificação do acordo e uma forma de dividir os recursos de maneira mais justa. Mas por trás disso estaria a intenção de barrar empresas digitais, como Google, Facebook e Amazon, que poderiam se interessar no futuro pelos direitos de transmissão.

Essa unificação poderia ser impedida pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), autarquia federal que zela pela livre concorrência no mercado. Na avaliação de presidentes ouvidos pela reportagem, a aposta da emissora seria que nenhum clube iria reclamar ao órgão.

Eles acreditam também que o Grupo Globo gostaria de ter acesso à base de sócios-torcedores dos clubes para vender seus produtos sob o argumento de que poderia atrair mais público e receita para o PPV.

Nas discussões, um dirigente afirmou que o Grupo Globo havia mostrado interesse em uma mudança de calendário, para que o Brasileiro fosse disputado de fevereiro a novembro. O torneio deste ano começou no final de abril. Cartolas veem o tema com desconfiança. Temem que, com isso, a emissora tente deixar os times ainda mais dependentes de seus recursos, abrindo caminho para uma redução dos valores dos direitos de transmissão.

Em 2018, as receitas de televisão representaram, para quase todos os clubes, a maior fonte de renda. Exceção é o caso do Palmeiras, no qual os R$ 137 milhões significaram a terceira maior receita, 20% do total do ano passado.

No Flamengo, clube que mais recebeu (R$ 222 milhões), e no Ceará, que menos recebeu (R$ 28 milhões), por exemplo, a televisão representou pouco mais de 40% da receita. Em ambos os casos, foi a principal fonte de renda.

A reportagem entrou em contato com o Grupo Globo na segunda (23) e na terça (24) para tratar dos temas citados, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.

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