Fuga do volante Ralf da cena de crime teve segurança armado e risco de linchamento
Segundo pessoas próximas ao jogador, Ralf e os outros presentes no veículo fugiam de um assalto no momento do acidente.
Testemunhas da confusão após o acidente de carro envolvendo o volante Ralf, do Corinthians, na noite de sexta-feira (11), na Zona Leste de São Paulo, dizem ter visto uma pistola com o homem que tirou o atleta do local antes da chegada da Polícia Militar. O veículo do jogador atingiu um idoso de 68 anos, bateu num ponto de ônibus e destruiu dois portões de uma casa do bairro da Água Rasa. Ninguém morreu.
A reportagem esteve no local na manhã de sábado e ouviu relatos de moradores da região. Várias pessoas dão conta de que Ralf correu risco de linchamento. O clima ficou tenso porque o idoso atingido foi atendido na calçada por socorristas enquanto o carro estava preso em uma garagem, sem ligação visual com a rua.
Segundo pessoas próximas ao jogador, Ralf e os outros presentes no veículo fugiam de um assalto no momento do acidente.
Quem estava no local só descobriu se tratar do jogador quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local para auxiliar na retirada dos ferros retorcidos dos dois portões que bloqueavam a garagem em que o carro, com motorista e dois passageiros, estava. Como essa garagem é fechada e com acesso apenas pela porta que estava bloqueada, ninguém conseguiu ver quem estava ao volante no momento do acidente.
Segurança armado e risco de linchamento
Um homem identificado pelos moradores da rua como segurança do volante corintiano já aguardava no local quando o Corpo de Bombeiros chegou. Acredita-se que enquanto aguardavam a equipe de resgate, os acidentados chamaram o rapaz para ajudá-los.
Uma série de imagens e vídeos que rapidamente viralizou nas redes sociais (no vídeo acima) mostra o jogador, ao sair da garagem claramente transtornado, cercado por diversas pessoas durante a caminhada em direção à rua. Neste momento, o suposto segurança discute com os populares enquanto conduz Ralf a um outro automóvel. Em um dos vídeos, aparenta empurrar a pessoa que filmava a cena.
Com Ralf já dentro de outro veículo, a confusão no local do acidente ganhou contornos mais perigosos. O jogador e o homem que o acompanhava temeram ser linchados quando as pessoas cercaram parcialmente o carro, que estava estacionado em frente a uma residência vizinha. “Era muito homem aqui na rua. E todo mundo querendo agitar confusão”, recorda a dona da casa atingida.
Vou sair fora”
Frase que teria sido dita pelo segurança de Ralf, de acordo com o dono da casa atingida, se referindo à suposta tentativa de evitar linchamento
Até falei para ele [segurança] levar o Ralf mesmo. O pessoal estava enfurecido, havia risco grande de o Ralf ser linchado”
Dono da casa em que o carro de Ralf se chocou
Nesse momento, duas testemunhas ouvidas pela reportagem do UOL dizem ter visto uma arma de fogo com o homem que tentava tirar Ralf do local. O suposto segurança ainda teria se apresentado como policial na tentativa de afastar as pessoas para deixar a cena do crime. A assessoria do jogador foi contatada e questionada sobre tais fatos, mas não retornou até o momento da publicação.
“Eu vi [a arma com o segurança]. Foi para proteger, porque, quando ele colocou o Ralf no carro, o povo ficou bravo e foi para cima dele. Aparentemente ele se anunciou como policial”, conta um vizinho que assistiu à confusão primeiro da janela de casa e depois na própria rua. Por conta do tumulto durante a confusão, as testemunhas não conseguiram entender se o homem chegou a sacar a pistola.
Ainda há relatos de outra ameaça de linchamento, desta vez contra o pai de Ralf, depois que o filho e o suposto segurança já tinham deixado o local. Nesse momento, estavam presentes outros conhecidos da família do volante, que chegaram ao local durante a confusão.
Embriaguez e fuga do local
De acordo com policiais militares ouvidos pela reportagem, já é possível confirmar crime de lesão corporal de autoria por ora desconhecida em decorrência de atropelamento. O caso foi registrado como culposo no 31º Distrito Policial, do bairro Carrão, e também como embriaguez ao volante e fuga do local do acidente e é investigado pelo 30º DP, do Tatuapé.
O dia seguinte ao acidente foi marcado por ações da Polícia Civil para investigar quem dirigia o veículo no momento do acidente — Ralf e seu irmão são suspeitos. Os donos da casa parcialmente destruída afirmam que Ralf estava no carro com o irmão e o pai e que têm convicção de que os três estavam alcoolizados, mas dizem não terem visto quem estava no banco do motorista.Pela manhã de sábado, o DIPOL (Departamento de Inteligência Policial) tirou fotos da cena e coletou imagens de câmeras de segurança da região. À tarde, o IIRGD (Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt), braço do DIPOL, fez uma segunda perícia em busca de impressões digitais — o órgão é acionado quando há dúvida sobre o autor de eventuais crimes.
Idoso quebrou fêmur e dedo indicador
O senhor de 68 anos vítima do atropelamento segue internado na Santa Casa de Misericórdia. Ele fraturou o fêmur e um dedo indicador após ser atingido pelo carro e atirado por aproximadamente dez metros na calçada em que o ponto de ônibus foi destruído. De acordo com pessoas que prestaram os primeiros socorros, o idoso tem deficiência auditiva e, por isso, não teria ouvido o automóvel se aproximar.
Os próprios moradores da rua chamaram o resgate e levaram água para tranquilizar o senhor. A ambulância chegou à rua antes de Ralf e os demais acidentados conseguirem sair da garagem onde ficaram presos após o acidente.
“Poderia ser eu aqui no ponto”, diz mulher que esperava ônibus
Como o carro ficou preso em uma garagem em frente ao ponto de ônibus destruído, é difícil precisar a rota que o veículo com Ralf fez. “Coisa de ninja isso aí, o carro bater no ponto de ônibus, acertar o senhor e parar dentro da garagem daquele jeito. E eu pego ônibus aqui todo dia, geralmente pela noite. Poderia ser eu aqui no ponto [no momento do acidente]”, diz uma mulher que, na tarde de sábado, esperava por um ônibus justamente em frente ao ponto destruído.
A rua Marechal Barbacena, onde aconteceu o acidente, tem duas mãos — uma faixa para cada. Especula-se que o veículo subia a via quando bateu no ponto e atropelou o senhor. Ao menos uma casa do quarteirão tem câmeras apontando para os dois sentidos e já teve as imagens solicitadas pela Polícia Civil.
“Acho que quem dirigia se assustou quando atropelou o senhor e, na hora de virar o volante, perdeu o controle e bateu nos portões”, diz a dona da casa atingida. Ela também relata ter ouvido um barulho constante após as primeiras batidas, dando a impressão de que algo estava sendo arrastado por instantes até arrebentar os dois portões e parar na parede, “caprichosamente” quase estacionado ao lado do carro da família.
Umas 22h30. A gente achou que era perseguição, tinham batido e daí estavam trocando tiro. Depois de bater na garagem, o motor do carro ainda deu vários pipocos”.
Relato de um morador da rua
Em conversa informal com a reportagem, o funcionário da seguradora contatada por Ralf para retirar o veículo do local opina acreditando ter havido tentativa de manobra após as primeiras batidas — no idoso e no ponto de ônibus — para aí então o condutor ter enfrentado supostos problemas com o freio até parar dentro da garagem, no outro lado da rua. “Esses carros automáticos dão muitos problemas de controle de direção. Esses dias mesmo eu guinchei também uma Santa Fé cuja dona tinha entrado com o carro e tudo na piscina de casa”, conta.
Região tem assaltos e reclamações de alta velocidade
Um dos policiais militares que ajudava na preservação do local para o trabalho de perícia da Polícia Civil afirmou que “tem muitas ocorrências de assalto com moto pela região, desta mesma forma que foi relatado por eles [Ralf e familiares]. Indivíduos em motos.”
Moradores não souberam falar sobre a questão dos assaltos, mas relataram ser comum, principalmente à noite, carros passarem em alta velocidade pela rua em ambos os sentidos da via. “Ô! Os carros correm muito aqui. É um ‘pega pra capar’ de madrugada”, diz uma vizinha. “Carros correm muito aqui em frente. Uma lombada já resolveria”, acrescenta um outro morador, da casa de frente à atingida pelo carro de Ralf.
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