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Nova série brasileira reinventa anjos da guarda, mas sem falar de religião

Quase todo o elenco despontou na internet


Por Folhapress Publicado 21/11/2019
Divulgação/Netflix

Os angelus seguem quatro regras: cumprir a ordem do dia, não aparecer para os humanos, não proteger humanos fora da ordem do dia e jamais entrar na sala do chefe.

Mais nada. Nenhuma razão é dada para a ordem do dia – isto é, o humano aleatório a quem o angelus deve proteger durante algumas horas. Também não há explicação sobre quem é o chefe, apesar de todas as unidades de angelus pelo mundo terem um corredor que dá direto na sala dele.

Os angelus lembram os anjos da guarda do cristianismo, mas não são a mesma coisa. Têm um par de asinhas no alto das costas, só que nunca voam. Não atravessam paredes. Não ouvem preces. Não atendem promessas. Usam todos o mesmo uniforme: calça preta, camisa branca, gravata vermelha. E todos são ruivos.

Essas criaturas são protagonistas de “Ninguém Tá Olhando”, série cômica brasileira produzida pela Gullane que chega nesta sexta (22) à Netflix.

O diretor-geral é Daniel Rezende (“Bingo: O Rei das Manhãs” e “Turma da Mônica: Laços”), que desenvolveu a ideia original com Teodoro Poppovic e Carolina Markowicz.

“Nós não falamos em céu ou inferno. Nem em Deus. Quem disse que Deus é o chefe?”, pergunta Rezende. “O objetivo de ‘Ninguém Tá Olhando’ é questionar os padrões pré-estabelecidos. As regras que o ser humano cria para si mesmo e que não o deixam evoluir.”
De fato, os angelus são submetidos a uma burocracia rígida. Comportam-se feito funcionários públicos à moda antiga, que batem ponto, cumprem tabela e só. Até que surge Ulisses (Victor Lamoglia), o primeiro angelus criado em mais de 300 anos. E que, já de cara, exige ser tratado por Uli.

“O Uli é novinho e está na fase do ‘por quê?’. O problema da humanidade é que, um dia, ela sai dessa fase”, acrescenta Rezende. “Se ficássemos curiosos para sempre, talvez estivéssemos em outro lugar.”

Uli enche de perguntas seus colegas Greta (Júlia Rabello) e Chun (Danilo de Moura), mas nenhum deles sabe as respostas. E provoca a ira de seu superior, porque quebra as regras logo nos primeiros episódios.

Para complicar, Uli se apaixona pela humana Miriam (Kéfera Buchmann). Isto faz com que, em alguns momentos, “Ninguém Tá Olhando” lembre exatamente o filme que os angelus mais detestam: o xaroposo “Cidade dos Anjos”, em que Nicolas Cage faz um anjo que quer virar humano por causa do amor.

Mas a série tem um humor cáustico e pretensões mais amplas. “Estamos discutindo o capitalismo, as regras sociais, a filosofia, mas não a religião. A fé verdadeira é o questionamento”, afirma Rezende.

Para compor a expressão corporal dos angelus, sempre empertigados, os atores treinaram com o mímico Álvaro Assad e participaram de debates e leituras sobre o papel dos anjos em diversas religiões.

Quase todo o elenco despontou na internet. Kéfera é uma das maiores influenciadoras digitais do país. Victor e Júlia vêm de canais de humor no YouTube –respectivamente, Parafernalha e Porta dos Fundos.

Este também é o caso de Leandro Ramos, do Choque de Cultura. Já Projota (intérprete de Richard, o namorado de Miriam) ficou famoso como rapper.

“Ninguém Tá Olhando” impressiona pelos cenários suntuosos, quase inteiramente construídos em computação gráfica. E também merece aplausos pelas ousadias do roteiro –em determinado episódio, que se passa em uma balada, todos os personagens consomem MDMA, o princípio ativo do ecstasy. Mas o maior risco que a série corre é atiçar os religiosos. O universo dos angelus não tem um Deus onisciente. Ou será que tem?

NINGUÉM TÁ OLHANDO
Onde: disponível na Netflix a partir desta sexta (22)
Classificação: 16 anos
Elenco: Kéfera Buchmann, Victor Lamoglia e Júlia Rabello
Produção: Brasil, 2019
Criadores: Daniel Rezende, Carolina Markowicz e Teodoro Poppovic

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