SP registra em outubro 1.306 queixas de estupro, recorde de série histórica
O estado de São Paulo atingiu no mês de outubro deste ano a maior quantidade de ataques sexuais já registrada em único mês pela polícia desde 2010, início da histórica paulista.
O estado de São Paulo atingiu no mês de outubro deste ano a maior quantidade de ataques sexuais já registrada em único mês pela polícia desde 2010, início da histórica paulista. Foram 1.306 queixas recebidas no mês -o que representa 42 ataques por dia, quase dois por hora.
O recorde anterior era de outubro de 2012, sete anos atrás, quando houve 1.239 relatos de ataques. A segunda maior marca havia sido em setembro último, com 1.201. Essas 1.306 queixas representam um acréscimo de 14,4% em comparação aos 1.142 crimes registrados em outubro de 2018, completando o terceiro mês seguido de elevação.
Os números foram divulgados na tarde desta sexta-feira (29), dentro do pacote de dados estatísticos divulgado todos os meses pelo governo paulista.
Segundo o secretário executivo da PM, coronel Alvaro Camilo, o governo paulista não detectou ter havido um aumento real no número de crimes, mas, sim, um crescimento das notificações -o que não é de todo ruim, porque ajuda no combate ao problema.
Camilo diz, porém, que esse é um tipo de incidente criminal com alta complexidade de enfrentamento.
“Estamos fazendo estudos aqui na secretaria a respeito de como conseguir evitar o estupro. Que medidas podemos adotar?”, disse. “No estupro, ainda não se identificou como, de que forma a polícia pode agir para impedir que uma pessoa seja vítima dentro da própria casa. Que peça eu mexo para fazer com que o estupro deixe de acontecer?”, disse.
O secretário declara que o que já está definido é continuar com as campanhas incentivando que os casos sejam denunciados e não seguirem desconhecidos em sua maioria. Para Rafael Alcadipani, professor da FGV, é preciso um estudo mais aprofundado para que entender os motivos do crescimento dos casos de estupro, mas, segundo ele, é claro que o combate a esse tipo de crime é relegado pelas autoridades.
“Olham para crimes contra o patrimônio e homicídios. O crime contra vulneráveis, contra crianças, contra mulheres, praticamente inexiste no pensamento e na formulação nesse tipo de política. É um completo ponto cego na política de segurança pública”, declarou.
A presidente da comissão Mulher Advogada, da OAB-SP, Claudia Patricia de Luna Silva, disse que o aumento das denúncias é um sinal de mudança de uma cultura no Brasil que, entre outras distorções, via a mulher como culpada ao ser alvo de violência sexual.
“Há uma mudança cultural. Há uma mudança, inclusive, na forma como se trata a violência contra mulher. A própria vítima hoje, por meio de acesso a informações mais qualificadas, sendo essas informações mais acessíveis, ela consegue reconhecer que a culpa não é dela. Ela entende isso e dá maior materialidade (denuncia).”
O estupro foi, praticamente, o único tipo de crime relevante a registrar aumento. Os homicídios (2%), roubos (3%) e furtos (4%), por exemplo, todos registraram queda.
Uma das maiores quedas dos chamados crimes patrimoniais se deu com os roubos de veículos, com uma redução de 27%. Em outubro do ano passado, foram roubados 5.251 veículos e, agora, foram registradas 3.821 queixas desse tipo de crime -1.430 a menos.
Essa redução nos crimes de roubo de veículo é a 36ª consecutiva registrada no estado, ou, três anos seguidos de queda -comparando o mês de um ano com igual do período do ano anterior.
No último aumento registrado no estado, em outubro de 2016, foram anotadas 7.119 queixas -quase o dobro registrado agora (3.821).
O recuo constante dessa estatística, assim como a de furtos de veículos (31º mês de queda), é atribuído à política que regulamentou o funcionamento de desmanches, após a publicação de lei, em 2014.
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