Copom reduz taxa básica de juros para 4,5% ao ano
Esse foi o quarto corte anunciado pelo Banco Central na gestão do presidente Jair Bolsonaro
O Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu a taxa básica de juros nesta quarta-feira (11) de 5,0% para 4,5% ao ano, confirmando a expectativa unânime do mercado financeiro.
O BC não se comprometeu com novos cortes, como fez na reunião passada, o que pode significar que o ciclo de redução pode estar próximo do fim.
Esse foi o quarto corte anunciado pelo Banco Central na gestão do presidente Jair Bolsonaro. Desde dezembro de 2017 os juros vêm renovando as mínimas históricas. Ou seja, a Selic está novamente no menor patamar desde que passou a ser utilizada como instrumento de política monetária, em 1999.
Na reunião anterior, a instituição já havia afirmado que a consolidação de um cenário benigno para a inflação permitiria um corte adicional em dezembro de 0,50 ponto percentual.
No comunicado desta quarta, a instituição não se comprometeu com um novo corte na próxima reunião, em fevereiro de 2020. Apenas repetiu que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, mas que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela.
“O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, disse o BC.
O Copom afirmou também que dados de atividade econômica a partir do segundo trimestre indicam que o processo de recuperação da economia brasileira ganhou tração, em relação ao observado até o primeiro trimestre de 2019, mas que essa recuperação seguirá em ritmo gradual.
Apesar do aumento do IPCA (índice de preços ao consumidor calculado pelo IBGE) em novembro, em grande parte por causa dos preços das carnes, o mercado financeiro não projeta uma disparada da inflação no próximo ano, período para o qual o BC olha ao fazer esse novo corte de juros. Nem o BC.
De acordo com as projeções do relatório Focus, levantamento do BC feito junto a economistas, a inflação deve cair de 3,84% em 2019 para 3,60% em 2020. Pesquisa Datafolha, no entanto, mostra o brasileiro mais preocupado com a inflação.
Em uma das suas simulações para a inflação, o BC utilizou um câmbio de R$ 4,20 (a moeda fechou esta quarta a R$ 4,12) e trajetória de juros prevista na Focus. Nesse caso, a projeção para o IPCA fica em torno de 4% neste ano e 3,7% em 2020. Na simulação feita na reunião anterior, com dólar a R$ 4,05, o IPCA ficava em 3,4% neste ano e nos mesmos 3,7%.
Para a taxa básica, a mediana das projeções do Focus aponta para um novo corte, dessa vez de menor magnitude (0,25%), na próxima reunião do Copom, em fevereiro. Depois, se espera uma elevação, para 4,5%, no último quadrimestre de 2020.
Entre algumas grandes instituições financeiras, a avaliação é que a taxa pode cair para 4% ao ano em 2020 e ficar nesse patamar até o ano seguinte. Cresce, no entanto, a avaliação de que o ciclo atual de queda juros, que começou em julho, quando a taxa estava em 6,50% ao ano, esteja próxima do fim.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Carlos Thadeu de Freitas Filho, afirmou que projetava o fim do ciclo de cortes em 4,5%, mas agora avalia que a chance maior é terminar em 4,25% e que não pode ser descartada uma Selic de 4%.
“Foi um comunicado dúbio. Por um lado, o BC diz que a previsão de inflação permite novos cortes, mas ele coloca mais riscos associados a essa projeção, diz que o cenário ficou mais arriscado. Se tudo correr como o BC espera, pode cortar mais 0,25 ou até 0,50 [ponto percentual]. Se o câmbio piorar mais ou o choque agrícola for maior, pode parar”, afirma o economista.
“Novos cortes dependem do comportamento da economia. O comunicado deixou em aberto tanto a manutenção da taxa em 4,5% quanto novos cortes”, diz Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
O professor da Faculdade Fipecafi, George Sales, diz que o BC não fechou as portas para um eventual corte adicional e que a manutenção das projeções de inflação para 2020 feitas no comunicado indicação isso. Destaca também que a decisão foi unânime. “Nenhum diretor viu risco de aumento de inflação.”
Para Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual digital, o comunicado não surpreendeu e dá a entender que um corte de 0,25 ponto percentual deve ser feito na próxima reunião.
“O Copom indicou que a taxa de juros na mínima histórica ainda é estimulativa e aponta que economia precisa ser estimulada. O documento também deu mais ênfase a cautela do que nas outras reuniões. Para prescrever uma taxa estimulativa com cautela, vemos um corte de 0,25 ponto percentual em fevereiro”, diz Frasson.
Além do corte de 0,25 ponto percentual no próximo Copom, o BTG projeta um corte de mesma magnitude em março.
“A projeção de inflação em queda nos próximos anos com um crescimento mais robusto da economia nos faz acreditar que uma nova queda pode acontecer”, diz o economista.
A Guide Investimentos, por outro lado, diz que, com a mudança na linguagem do comunicado do Copom, que volta a prescrever maior grau de cautela, indica que o BC deverá encerrar o ciclo de cortes, principalmente por causa da expectativa de uma economia mais robusta na entrada de 2020.
“Na nossa visão, a Selic deve ficar estável, a 4,5%, durante a maior parte do próximo ano, com algum ajuste no último trimestre de 2020 para 5%. Vemos o PIB [Produto Interno Bruto] acelerar de 1% em 2019 a 2,5% m 2020, enquanto o IPCA deve ser de 3,9% em 2019 e de 3,85% em 2020”, disse o banco suíço UBS, em relatório.
A queda esperada para o dólar no próximo ano, para algo mais próximo de R$ 4,00, é outro motivo que tem mantido as expectativas para o IPCA abaixo da meta perseguida pelo BC para 2020, de 4%.
A nova rodada de cortes da taxa básica se dá em um contexto de fraco de crescimento da economia, apesar da recuperação modesta do PIB (Produto Interno Bruto) no último trimestre, inflação abaixo da meta, desemprego elevado e juros baixos (até negativos) em países desenvolvidos e emergentes.
Com o panorama, o mercado espera que os juros continuem em níveis baixos nos próximos anos. As projeções do Focus para a taxa básica nos próximos anos são de 6,25% (2021), 6,50% (2022) e 6,50% (2023), ainda próxima das mínimas históricas.
A Selic chegou a 7,25% em 2012, no governo Dilma Rousseff, mas voltou a subir durante a gestão da petista. No governo Michel Temer, os juros atingiram a mínima de 6,50% ano.
Apesar de a taxa estar na sua mínima histórica, o ICC (Indicador de Custo do Crédito) do BC mostra que a redução ainda não chegou totalmente a consumidores e empresas. Enquanto a Selic caiu 2 pontos percentuais, a taxa média de juros das operações contratadas em outubro atingiu 23,9% ao ano, diminuição de 0,6 ponto em 12 meses.
Nas operações com pessoas físicas, a taxa média estava em 49,7% ao ano. No crédito às empresas, atingiu 17,6% ao ano.
BC AMERICANO MANTÉM TAXA DE JUROS E SINALIZA ESTABILIDADE EM 2020
Nesta quarta (11), o Fed, banco central americano, manteve sua taxa básica de juros na faixa de 1,5% a 1,75% ao ano, após três cortes em 2019, e indicou que não deve fazer mudanças em breve.
“Tanto a economia quanto a política monetária estão, agora, em um bom lugar”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell.
Segundo Powell, o cenário econômico americano é favorável, apesar do fraco desempenho da economia mundial e continuidade de riscos, como a guerra comercial com a China.
Ele afirmou ainda que para subir o juros seria necessário “uma alta significativa da inflação” americana que hoje está perto da meta de 2% ao ano.
Em comunicado de sua decisão, o Fed indicou que o nível de desemprego deve permanecer inalterado em 2020, em 3,5%, o menor desde 1969. A previsão para para o PIB (Produto Interno Bruto) é de crescimento de 2% em 2020 e de 1,9% em 2021. Em 2019, estima-se que a economia americana cresça 2,2%.
Na decisão anterior, de outubro, constava a palavra “incertezas” a respeito das perspectivas econômicas no comunicado. A palavra foi retirada do comunicado desta quarta.
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