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Gravações em portaria de Bolsonaro não sofreram adulteração, aponta perícia

A informação consta de laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Rio


Por Folhapress Publicado 11/02/2020

As gravações do interfone na portaria do Condomínio Vivendas da Barra, usadas como prova na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes, não sofreram adulteração de seu conteúdo original.

A informação consta de laudo do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), da Polícia Civil do Rio, em cinco HDs apreendidos no condomínio, onde moravam tanto o presidente Jair Bolsonaro como o policial militar aposentado Ronnie Lessa, um dos acusados e preso pelo homicídio.

A informação sobre o laudo foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pela reportagem.

O sistema de gravação do condomínio passou a ser analisado após um porteiro afirmar em dois depoimentos que foi Bolsonaro, morador da casa 58, quem autorizou a entrada do ex-PM Élcio de Queiroz, também acusado no crime, a entrar no condomínio no dia do homicídio.

A planilha de controle de entrada também mostrava a casa 58 como destino do visitante.

Élcio e Lessa se encontraram no Vivendas da Barra pouco depois das 17h para em seguida, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, partirem juntos até o local do crime, ocorrido às 21h15.

Um fato já apontava contradição na versão do porteiro: Bolsonaro estava em Brasília no momento em que o ex-PM foi autorizado a entrar no condomínio. Uma análise técnica feita pelo MP-RJ também indicou um erro no depoimento do porteiro, pois identificou como sendo Lessa o responsável por autorizar a entrada de Élcio.

À época, quando o depoimento do porteiro veio à tona, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, divulgou em suas redes sociais que o nome do arquivo indicava que a ligação da portaria havia sido feita para a casa 65, de Lessa.

A Folha de S.Paulo revelou, contudo, que a análise da Promotoria não avaliou a possibilidade de algum arquivo ter sido apagado ou renomeado antes de ser entregue às autoridades. A Polícia Civil, então, apreendeu os HDs para avaliar a eventual adulteração dos arquivos.

Dias depois, o porteiro afirmou à Polícia Federal ter cometido um erro ao mencionar o presidente. A PF apura um suposto crime de denunciação caluniosa no episódio.

Após a divulgação pela TV Globo da citação a seu nome nas investigações, no final de outubro, Bolsonaro reagiu em tom irritado e agressivo e fez uma transmissão em redes sociais na qual atacou a emissora e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).

Na época, em viagem à Arábia Saudita, Bolsonaro acordou de madrugada para responder a uma reportagem do Jornal Nacional. Além de negar envolvimento no assassinato de Marielle, Bolsonaro chamou o governador do Rio de inimigo e ameaçou não renovar a concessão da Globo em 2022.

Nesta terça (11), Bolsonaro comemorou o laudo da Polícia Civil do Rio. “Viu que a perícia descobriu? A voz não é do porteiro!”, disse ele pela manhã a apoiadores que o aguardavam na portaria do Palácio da Alvorada.

O laudo, apresentado à Justiça na semana passada, diz que não foram encontrados “indícios sugestivos de edição fraudulenta do disco analisado, correspondente ao sistema de gravação do interfone”.

Os seis peritos que assinam o documento analisaram os arquivos de logs do HD que armazena as gravações. De acordo com eles, não há qualquer registro de manipulação nos documentos.

O ICCE aponta ainda que o porteiro que interfonou para Lessa não é o mesmo que prestou depoimento apontando o envolvimento de Bolsonaro.

Investigadores afirmam que isso se deve ao fato de um atender ao visitante e anotar o destino na planilha de controle de entrada (papel do porteiro que mencionou o presidente) e outro fazer a ligação para a casa de destino.

A gravação feita no dia indica que isso ocorreu, pois enquanto um porteiro conversa com Lessa, outro orienta Élcio a afastar o carro da entrada para a passagem de outro veículo.

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