Ação de Bolsonaro diferencia gripe espanhola da pandemia atual
Jair Bolsonaro se opõe às medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos pelo país
Pelos registros da história, o Brasil nunca enfrentou pandemias tão fortes como a gripe espanhola (de 1918 a 1920), e a atual, causada pelo novo coronavírus.
A gripe espanhola matou em torno de 35 mil pessoas ao longo desses três anos no Brasil. Só na cidade de São Paulo, morreram cerca de 5.300.
Pouco mais de um mês depois do primeiro diagnóstico da Covid-19, já foram registradas 92 mortes no Brasil, de acordo com dados desta sexta (27) do Ministério da Saúde. Existem 3.417 casos diagnosticados até este momento.
João Gabbardo dos Reis, secretário-executivo do ministério, evita fazer projeções, mas afirmou na quinta-feira (26) que serão “30 dias muito difíceis” pela frente.
Embora o país tenha hoje mais condições técnicas de enfrentar uma pandemia do que um século atrás, ambas são crises de efeitos devastadores. No entanto, historiadores ouvidos pela reportagem apontam uma diferença principal.
Segundo eles, os três políticos que passaram pela Presidência nos anos de gripe espanhola agiam em consonância com a equipe federal de saúde pública e, de modo geral, guiavam as decisões a partir de critérios científicos.
Não é o que acontece hoje com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que tem minimizado continuamente os impactos da Covid-19.
Wenceslau Braz governou até novembro de 1918; Delfim Moreira foi até julho de 1919; e Epitácio Pessoa comandou o país até novembro de 1922.
Coube a Braz administrar a fase mais aguda da crise. O Rio, então capital do país, parou, com fechamento de lojas, fábricas, escolas e quartéis.
O presidente mineiro delegou ao sanitarista Carlos Chagas o combate à epidemia. Braz confiou em Chagas.
Ao assumir o governo, Moreira seguiu as diretrizes implantadas pelo antecessor. “A novidade nessa crise atual é a negação por parte do presidente daquilo que é praticamente consenso entre os especialistas em saúde pública”, diz o historiador Pietro Sant’Anna, que estuda a Primeira República (1889 a 1930).
Cláudia Viscardi, professora de história da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), concorda que é nítida a diferença da ação do chefe do Executivo nos dois momentos.
“Wenceslau Braz acatava, sim, as condutas de Carlos Chagas”, lembra Viscardi. Gisele Sanglard, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), endossa a avaliação. Ela cita o caso do norte da Itália como um alerta.
“O prefeito de Milão lançou no fim de fevereiro a campanha para a cidade não parar, vejam o que aconteceu”, afirma. Na quinta (26), a cidade do registrava quase 4.500 mortes.
Os historiadores também põem lado a lado 2020 e 1904 ao comentar grandes campanhas na área de saúde pública.
Naquele ano, o Rio se inflamou com a imunização compulsória contra a varíola, doença que matou cerca de 3.500 pessoas na então capital do país. Era a Revolta da Vacina.
Ocorreram motins contra a campanha de Oswaldo Cruz, um dos homens fortes do presidente Rodrigues Alves.
De lá pra cá, nunca houve uma reação, de fato, ostensiva diante de uma ação que tivesse o aval dos principais especialistas em epidemias.
Agora, porém, as ruas voltaram a reclamar de modo eloquente contra medidas sanitárias –por ora, sem a violência vista no Rio em 1904.
Carreatas pela reabertura do comércio ocorreram nesta sexta (27) e outras estão previstas para este fim de semana em capitais e no interior.
Jair Bolsonaro se opõe às medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos pelo país.
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