Qual o papel do líder no momento da crise?

Um dos principais intelectuais do século XX, o sociólogo polônes Zigmund Bauman escreveu: “Todos estão em uma solidão e em uma multidão ao mesmo tempo. É época de tempo líquido e de certezas voláteis”. Esta reflexão sobre a vida contemporânea, a fluidez e as efemeridades ganhou força com a crise imposta pelo Covid-19, com o isolamento social somado a viver mais conectados do que nunca. Para os líderes o momento é de questionamento: Qual a verdadeira essência e o propósito deste novo rumo?

Líderes, gestores e empreendedores enfrentam a crise atual entendendo a necessidade de adaptações abruptas. É questão de sobrevivência. Muitas empresas encerraram suas atividades devido ao COVID-19. Também é verdade que no Brasil o índice de nascimento e mortalidade de empresas é grande. O Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo. De acordo com o Indicador de Nascimento de empresas da Serasa Experian, foram abertas em agosto de 2019, 284.143 organizações. Os microempreendedores individuais (MEIs) representaram 82% deste montante, enquanto 6,8% dos novos empreendimentos foram de natureza Sociedade Limitada e 5,4% Empresas Individuais. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF) houve um crescimento de 5,1% no número de unidades franqueadas no ano passado. Entretanto, uma pesquisa realizada pelo SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), 1 a cada 4 empresas encerram suas atividades antes de dois anos de vida, ou seja, 80% das micro e pequenas empresas desaparecem já no 1º ano. Com a recessão econômica ocasionada pela crise do COVID-19, é possível que este número aumente.

Há diversos fatores para que uma empresa fracasse e feche as portas, falta de planejamento, não observância do mercado e do mapeamento do nicho, descuido com as finanças, ausência de comunicação e de espírito empreendedor, porém de todos os fatores a desmotivação é sem dúvida o ponto de partida para uma sucessão de erros. E o fator predominante em uma crise. O rumo da empresa está nas mãos de uma pessoa: o líder.

Com mais de 15 anos de experiência em liderança de área e subsistemas de Recursos Humanos em empresas nacionais e multinacionais como Unibanco, Grupo Mapfre, Atento e Indra, Lucélia Moreno que atualmente é consultora de carreira na Success People — empresa de desenvolvimento pessoal e gestão de carreira, situada em São Paulo— aponta as principais características que um líder precisa possuir para enfrentar duras épocas de crise: “É função do líder atender as expectativas dos outros e dar o apoio desejado. Ter habilidade para se adaptar e promover mudanças importantes neste momento de dificuldade. Um bom líder possui quatro características essenciais: automotivação, autoliderança, autodisciplina e autogestão”. Estas características citadas por Lucélia, são segundo estudiosos de desenvolvimento prioridades na vida de um profissional que está no cargo de liderança  Neiva Gonçalves, diretora de Carreira da Success People descreve ações de implementação para líderes e gestores:

1-Automotivação

O princípio da automotivação está em administrar o cotidiano: “Líderes motivados são focados em seus objetivos e seguem uma rotina disciplinada. Eles se apegam a bons hábitos, procuram conteúdos inspiradores ou motivacionais, seguindo um estilo de vida responsável. Possuem metas e prazos estipulados, mantendo o pensamento com foco permanente. Conseguem se divertir promovendo felicidade e bem-estar, assim conseguem manter a mente aberta e criativa”.

2-Autoliderança

Pesquisas em psicologia do desenvolvimento demonstram que autoridade exercida em outras pessoas, grupos e instituições é devido a busca para determinar códigos de conduta. “Líderes excepcionais se distinguem por causa da autoliderança, gerenciar a si mesmo é mais desafiador. Com a autoliderança, tornamo-nos responsáveis ??por nossas ações e comportamentos, não se trata de autocrítica, que acaba por ser nociva e sim guiar-se com gentileza, humildade e compaixão ao longo de sua existência diária”.

3-Autodisciplina

As pessoas com maior grau de autocontrole passam menos tempo debatendo sobre comportamentos prejudiciais à saúde e são capazes de tomar decisões positivas mais facilmente, não deixam impulsos ou sentimentos ditarem suas escolhas. Em vez disso, tomam decisões equilibradas. Como resultado, tendem a se sentir mais satisfeitos com suas vidas. “Autodisciplina incide em conhecer as próprias fraquezas, quer seja doces, tecnologias ou consumos exagerados, é importante reconhecer as deficiências. Definir metas claras e o plano de execução. É necessário entender para onde se está indo, um plano claro descreve cada passo para alcançar os objetivos. Passos pequenos ditam regularidade e acompanhamento de prazos. Estudos mostram que  pessoas com autodisciplina são mais felizes ” De acordo com um estudo da Universidade de Stanford, a quantidade de autodisciplina que uma pessoa possui é determinada por sua crença. São as concepções internas que determinam o nível de autodisciplina.

4-Autogestão

Construir a automotivação, autoliderança e autodisciplina. A autogestão é a organização de pensamentos: “Nós não nascemos prontos. Nossos comportamentos são aprendidos, como qualquer outra habilidade. Requer prática e repetição diária. Assim como ir à academia. Estas capacidades exigem muito trabalho. O esforço e o foco podem ser desgastantes tenha força de vontade”. Os psicólogos usam uma técnica para aumentar a força de vontade chamada intenção de implementação, quando há a necessidade de lidar com uma situação potencialmente difícil, recompense a si mesmo: “Dê a si mesmo algo para se entusiasmar planejando uma recompensa quando atingir os objetivos. A antecipação é poderosa. Um líder exemplar, não se deixa envolver por culpa, raiva ou frustração. Não são as emoções que o dominam elas não impedirão o progresso. Não basta somente conhecer os seus potenciais e obstáculos internos para desenvolver uma boa liderança, também é preciso saber administrá-los”. 

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