Manaus tem caos em emergências e corpo de vítima de Covid-19 sem identificação
Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas diz que o avanço da pandemia no estado e o aumento rápido do número de casos sobrecarregou os serviços de saúde
Na tarde de sexta (17), João foi ao hospital Vinte e Oito de Agosto, em Manaus, retirar o corpo de sua mãe, morta aos 69 anos após contrair o novo coronavírus. Porém, ao chegar ao local com os documentos solicitados por telefone, não encontravam o corpo de sua mãe.
Ana (nomes fictícios estão sendo usados a pedido da família) deu entrada no hospital no último dia 5, ficou dois dias na enfermaria e, com o quadro de pneumonia intensificado, foi levada à UTI. O teste para Covid-19 realizado no local deu positivo. Ela morreu nesta sexta.
João diz que, após ser informado de que o corpo de sua mãe não estava sendo encontrado, teve de esperar cerca de 30 minutos. Quando já estava perdendo o horário do enterro, um funcionário do hospital pediu que ele entrasse na câmara fria onde ficam os corpos de mortos para localizar o de sua mãe.
Segundo João, foi dada a ele apenas uma máscara para que entrasse no local, e o primeiro corpo sem identificação a que teve acesso era o de sua mãe. Ele diz estar indignado com a situação. João diz ainda que os pertences de sua mãe não foram localizados pela equipe do hospital desde que ela entrou na UTI.
A Secretaria de Saúde do estado diz que vai apurar as circunstâncias em que o corpo foi liberado. Em nota, afirmou que os corpos são levados ao necrotério após a identificação, que geralmente é realizada ainda na UTI ou o local do óbito.
A secretaria disse ainda que, para evitar contaminações, não é permitida a entrada de acompanhantes no acolhimento dos pacientes e os pertences devem ser entregues aos familiares no momento da admissão nos hospitais. Neste sábado (18), circulam pela internet ao menos três vídeos gravados por moradores de Manaus em que pacientes estão em pronto-socorros e não há médicos ou enfermeiros para atendê-los.
Os vídeos foram gravados nos pronto-atendimentos São Raimundo, na zona oeste da capital amazonense, e Alvorada, na zona norte. Em um deles, uma família chega com um paciente com falta de ar e ninguém aparece à área de atendimento da emergência. As pessoas passam então a gritar e a bater nas portas. Uma funcionária aparece, mas logo em seguida volta para trás da porta.
Em outro vídeo, gravado na área de desembarque de carros de um pronto-socorro, diversas pessoas gritam e reclamam da falta de médicos. Uma das pessoas ali fala de pacientes que chegaram, não tiveram atendimento e morreram. Num terceiro vídeo, um homem está em uma maca e a pessoa que filma, que diz ser seu filho, percorre os corredores ao redor sem encontrar nenhum funcionário. A legenda do vídeo diz que o pai morreu sem atendimento.
Na manhã deste sábado (18), um médico, ao sair do pronto-atendimento Alvorada, ainda usando máscara, falou à imprensa. Sem se identificar, ela diz não haver material o suficiente para atender os pacientes e narra falta de profissionais para trocar cilindros de oxigênio usado pelos casos mais graves.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas diz que o avanço da pandemia no estado e o aumento rápido do número de casos sobrecarregou os serviços de saúde. Diz ainda que a capacidade de atendimento dos serviços de urgência e emergência está sendo afetada pelo afastamento de profissionais de saúde. Segundo a secretaria, são 983 os profissionais afastados.
O governo diz estar convocando 517 profissionais de saúde aprovados no concurso do Corpo de Bombeiros e que abriu processo seletivo para contratar 704 técnicos de enfermagem, além de pedir ajuda ao Governo Federal.
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