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Polícia Federal vai investigar relato sobre vazamento de operação a Flávio Bolsonaro

Em nota, a corporação afirmou que a reportagem aponta "a eventual atuação em fatos irregulares de pessoa alegadamente identificada como policial federal, no bojo da denominada operação"


Por Estadão Conteúdo Publicado 18/05/2020
Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz
Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz Foto: Reprodução

A Polícia Federal informou neste domingo (17) que vai investigar a denúncia de um suposto vazamento da Operação Furna da Onça para o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), noticiada pelo jornal Folha de S.Paulo.

Em nota, a corporação afirmou que a reportagem aponta “a eventual atuação em fatos irregulares de pessoa alegadamente identificada como policial federal, no bojo da denominada operação”.

Todas as notícias de eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi determinada, na data de hoje [domingo, 17], a instauração de novo procedimento específico para a apuração dos fatos apontados”, informa a nota.

Em entrevista, o empresário Paulo Marinho, 68, suplente de Flávio no Senado e pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio de Janeiro, disse ter sido procurado pelo congressista na campanha, em 2018, em busca de traçar uma estratégia de defesa contra possível investigação sobre seu ex-assessor na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Fabrício Queiroz, que o envolveria num suposto esquema de “rachadinha”.

Ele relatou que um delegado da PF vazou a Flávio e seus auxiliares, uma semana após o primeiro turno, que seria deflagrada a Furna da Onça contra deputados estaduais do Rio, a qual atingiria Queiroz.

A PF afirmou neste domingo que a operação policial foi deflagrada no Rio de Janeiro em 8 de novembro de 2018, tendo os mandados judiciais sido expedidos pelo TRF-2 ​(Tribunal Regional Federal da 2° Região), a partir de representação do Ministério Público Federal, em 31 de outubro, “portanto, poucos dias úteis antes da sua deflagração”.

A corporação disse ainda que notícia anterior de vazamento da operação foi apurada por meio de um inquérito já relatado -a nota não diz quais foram as conclusões dessa apuração. “A Polícia Federal se notabilizou por sua atuação firme, isenta e imparcial no combate à criminalidade, dentro de suas atribuições legais e constitucionais”, acrescentou.

Também neste domingo, a PGR (Procuradoria-Geral da República) informou que vai analisar o relato do empresário. O procurador-geral, Augusto Aras, discutirá a denúncia com a equipe de procuradores que atua em seu gabinete em matéria penal.

Deve decidir se cabe investigar o caso no âmbito do inquérito que apura, com base em denúncias do ex-ministro Sergio Moro (Justiça), se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou interferir indevidamente na Polícia Federal. Ele poderá requerer o depoimento de Marinho, o que não está definido por ora.​

Segundo auxiliares do procurador-geral, ainda não houve tempo para uma análise aprofundada do caso.

Na entrevista à Folha de S.Paulo, Marinho, que rompeu com o clã Bolsonaro após as eleições, disse que a operação teria sido “segurada” para que não atrapalhasse Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2018.

Os desdobramentos da Furna da Onça revelaram um suposto esquema de “rachadinha” na Alerj e atingiu Fabrício Queiroz, policial militar aposentado amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor de Flávio na Assembleia.

Paulo Marinho foi um dos mais importantes e próximos apoiadores de Jair Bolsonaro na campanha de 2018.

Ele não apenas cedeu sua casa no Rio de Janeiro para a estrutura de campanha do então deputado federal, que ainda hoje chama de “capitão”, como foi candidato a suplente na chapa de Flávio Bolsonaro, que concorria ao Senado.

Em reação às revelações, senadores e deputados cobraram no domingo (17) investigação para apurar se Flávio foi informado antes pela Polícia Federal sobre operação contra ele e então integrantes de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou as declarações como “gravíssimas” e afirmou que elas revelam “a interferência de Bolsonaro e de sua família na Polícia Federal antes mesmo do início de seu governo”.

Líder da minoria no Senado, ele disse que vai pedir que Marinho seja ouvido no inquérito que tramita no STF para apurar as suspeitas de interferência de Bolsonaro na PF.

Assim como Randolfe, a defesa do ex-ministro da Justiça Sergio Moro estuda pedir o depoimento de Marinho no inquérito. A avaliação é a de que o relato pode reforçar a narrativa de Moro.

O ex-ministro da Justiça disse em depoimento à PF que Bolsonaro queria interferir na corporação.

Os advogados do ex-juiz da Lava-Jato irão esperar até terça (19) uma manifestação da PGR (Procuradoria Geral da República) sobre as declarações do empresário.

Oposicionistas também foram às redes sociais para propor a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) e a anulação da última eleição.

O candidato derrotado no pleito presidencial de 2018, Fernando Haddad, postou em conta no Twitter: “Conforme suspeita, suplente de Flávio Bolsonaro confirma que PF alertou-o, entre o 1° o o 2° turno, de que Queiroz seria alvo de operação, que foi postergada para evitar desgaste ao clã durante as eleições. Isso se chama fraude!”.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) usou a mesma rede social para se manifestar. “Fraude eleitoral! A operação que revelou o esquema das rachadinhas gerenciadas pelo Queiroz no gabinete do Flávio Bolsonaro foi adiada pela PF para depois da eleição presidencial para não prejudicar o chefe da máfia, Jair Bolsonaro. CPI já para investigar esse crime”, escreveu o congressista.

O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), do MBL (Movimento Brasil Livre) afirmou que a denúncia é grave. “Sendo comprovada, o TSE pode cassar a chapa de Bolsonaro e Mourão, dando margem para que ainda em 2020 haja novas eleições presidenciais, pois se trata de uma clara interferência da PF do Rio no pleito”, publicou Kataguiri.

Não é a primeira vez que é levantada a suspeita de vazamento na operação Furna da Onça.

No momento da prisão dos investigados em novembro de 2018, os policiais encontraram um cenário com casas sem computadores, WhatsApp sem conversas e um investigado vestindo roupa social às 6h com um diploma devidamente separado.

Com base nesses indícios, o juiz federal Abel Gomes, relator da Operação Furna da Onça no TRF-2 converteu em prisão preventiva (sem prazo para acabar) a prisão temporária de dez investigados, entre eles seis deputados. Na ocasião, o magistrado também manteve outros três parlamentares na cadeia.

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