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Filmes, dublagens e parques da Disney entram na mira de protestos antirracistas

Ele classifica ainda a recente onda de alertas em filmes nas plataformas de streaming como "algo tardio"


Por Folhapress Publicado 29/06/2020
Foto: Reprodução/Disney World

“As pessoas têm uma ideia de que a liberdade é a ausência de responsabilidade. Mas, na verdade, liberdade envolve parâmetros de convivência”, diz o filósofo e professor Silvio Almeida, autor de “Racismo Estrutural”.

Na opinião dele, defender a ausência de contextualizações em obras artísticas gera uma paralisia crítica que prejudica a formação de conhecimento. Ele classifica ainda a recente onda de alertas em filmes nas plataformas de streaming como “algo tardio”.

“Acho que não tem ninguém proibindo nada. O que está sendo discutido é que existe democracia e existem direitos civis”, diz a escritora e historiadora Lilia Schwarcz. Tanto ela quanto Almeida afirmam que a inserção de materiais críticos ao conteúdo da obra original não pode ser vista como censura.

“Eu estava [como curadora-adjunta] no Masp quando teve o Queermuseu. Eu brinco que essa foi a primeira vez que tive uma tarja preta no meu currículo. Isso sim é censura”, afirma Schwarcz.

A contextualização de obras é mais comum e consolidada na literatura. Editoras vêm há anos acrescentando notas de rodapé em livros que possam gerar leituras preconceituosas, como algumas obras de Monteiro Lobato, entre elas títulos da série do Sítio do Picapau Amarelo e “Negrinha”.

“Por que privilegiar uma história em que a tia Nastácia é subjugada e tem um autor notoriamente eugenista?”, questiona a escritora Bianca Santana, autora de “Quando Me Descobri Negra”. Já o cineasta Bruno Barreto diz que cresceu lendo trabalhos do autor e que jamais teve essa interpretação de racismo nas histórias. “Se for assim, teremos que colocar um aviso ao lado dos quadros do [Paul] Gauguin?”, questiona.

Para acirrar ainda mais os recentes debates, que ganham mais tempero no bojo dos protestos antirracistas ao redor mundo, as atrizes Kristen Bell e Jenny Slate -ambas brancas- anunciaram na última terça-feira (24) que deixarão de dublar personagens negras. A atitude foi vista com bons olhos pela cineasta Sabrina Fidalgo. “É algo simbólico, elas entenderam o lugar de privilégio delas e estão dando espaço a atores negros.”

Na mesma semana, uma carta foi assinada por mais de 300 pessoas solicitando mudanças nas produções americanas. “Nós exigimos que Hollywood se afaste da polícia, de conteúdos contra negros; invista em nossas carreiras, em conteúdos antirracistas e em nossa comunidade”, diz o texto.

A retirada de atrações extrapolou o mundo das artes e atingiu até os parques da Disney. A empresa anunciou que retirará o brinquedo Splash Mountain suas unidades na Califórnia e na Flórida, pois ele é inspirado no filme “A Canção do Sul”, longa-metragem de 1946 que foi acusado de racismo tantas vezes que levou a empresa a cancelar o seu lançamento em VHS anos depois e que tampouco consta na plataforma de streaming Disney+.

Desde os anos 1940 que o filme é acusado de estereotipar a população negra e de açucarar as relações entre brancos e escravos nos Estados Unidos. No lugar da Splash Mountain, a companhia do Mickey decidiu homenagear a “A Princesa e o Sapo”, animação do estúdio que foi lançada em 2009 e que traz a primeira princesa negra.

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