Boticário deixa de usar termo ‘Black Friday’ por suposta origem racista
Termo Black Friday (sexta-feira preta, na tradução literal) é recorrentemente questionado por ter possível relação com a escravatura nos Estados Unidos
O Grupo Boticário decidiu que não vai mais usar o termo Black Friday (sexta-feira preta, na tradução literal) por entender que ele pode ter uma conotação racista. Em publicação no seu perfil da rede LinkedIn, Artur Grynbaum, presidente da companhia, afirmou na terça-feira (29) que há anos é debatido se a origem do termo tem relação com o período escravocrata, discussão ainda em aberto, segundo o empresário.
A decisão foi anunciada exatamente dois meses antes da data comercial, que acontece em novembro e é considerada uma das principais em vendas no varejo brasileiro.
“Há anos conversamos sobre a possível origem do termo ‘Black Friday‘, sobre a ausência de dados científicos que comprovem que ele realmente não se relaciona à questão da escravatura. Então, respeitando os movimentos que sentem desconforto com o termo, decidimos parar de refletir e começar a agir –não teremos mais o termo Black Friday no Grupo Boticário“, escreveu.
A empresa decidiu chamar o período de promoções de “Beauty Week” (semana da beleza, na tradução).
O anúncio vem menos de duas semanas depois de a Magazine Luiza pautar a questão racial no mundo corporativo ao anunciar que seu programa de trainees de 2021 aceitará apenas candidatos negros. Outras empresas têm adotado iniciativas recentemente para promover maior diversidade racial em seus quadros, como a Bayer.
Grynbaum afirma que a diversidade e a inclusão têm sido trabalhados na empresa “de maneira bem estruturada desde 2013”, com foco em equidade de gênero, LGBTQIA+, pessoas com deficiência, pessoas de diferentes gerações e equidade racial.
Também citou a criação de programas de desenvolvimento e mentoria a jovens negros e um de “Workshop de Equidade Racial para os colaboradores estudarem sobre como combater o racismo”.
Sobre a eliminação do termo, o presidente empresa afirmou que o portfólio do grupo de beleza tem de atender a toda a população, “incluindo os mais variados tons de pele e tipos de cabelo”, e que é preciso provocar discussões na sociedade.
“Sei que este não é o meu lugar de fala enquanto um CEO homem e branco e, por isso, todo o trabalho é realizado junto ao nosso grupo de afinidade ‘Além da Pele’ e o apoio de muitos especialistas.”
O termo Black Friday é recorrentemente questionado por ter possível relação com a escravatura nos Estados Unidos.
A data designa o Dia de Ação de Graças (Thanksgiving Day) no país, comemorado na quarta quinta-feira de novembro. Segundo a agência Lupa, de checagens, os primeiros registros da expressão e sua relação com uma data comercial partem da década de 1950. Há críticas, no entanto, de uma relação pejorativa entre o termo e o racismo.
Reportagem recente do jornal Folha de S. Paulo mostrou que a representatividade está longe de ser solucionada no alto escalão. Em 2018, apenas 2 em cada 10 profissionais que ocupavam cargos de gerência e direção em empresas privadas do país eram negros, embora brasileiros que se autodeclaram pretos e pardos somem 55,4% da população.
No primeiro semestre deste ano, homens e mulheres brancos com ensino superior foram contratados para 59,6% das quase 42 mil novas vagas de alta liderança abertas no país. Homens e mulheres negros, também com formação universitária, ficaram com 23,7% desses postos. O quadro mostra pouca alteração em relação ao mesmo período de 2019.
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