Palmeiras já encarou calendário ainda mais cheio por título da Libertadores
O grande objetivo é a conquista continental, ainda que a equipe não abra mão das duas outras possibilidades de título, exatamente como ocorreu em 1999, ano em que o clube alviverde levou a Libertadores pela primeira vez
Vivo no Campeonato Brasileiro, na Copa do Brasil e na Copa Libertadores, o Palmeiras paga um preço pelo sucesso. O calendário apertado tem imposto uma série de dificuldades ao técnico Abel Ferreira, que vem rodando as peças de seu elenco para continuar na luta pelos três troféus.
O grande objetivo é a conquista continental, ainda que a equipe não abra mão das duas outras possibilidades de título. Exatamente como ocorreu em 1999, ano em que o clube alviverde levou a Libertadores pela primeira vez.
Naquela temporada, a sequência de jogos foi ainda mais desafiadora. Até levantar a taça em 16 de junho, o time entrou em campo impressionantes 51 vezes. Da primeira partida à jornada em que chegou ao topo da América do Sul, o Palmeiras atuou, em média, a cada 2,8 dias.
O calendário hoje segue outro modelo, com a Libertadores se estendendo durante todo o ano. E o cronograma foi bastante alterado por uma paralisação de quatro meses devido à pandemia do novo coronavírus, com a conclusão dos torneios de 2020 ficando para 2021.
Desde que as competições foram retomadas, em julho, a equipe paulistana disputou 48 duelos. Se ela confirmar nesta terça (12), a partir das 21h30 (SBT e Conmebol TV), contra o River Plate, a classificação à final sul-americana, serão 55 compromissos até a decisão. Nesse caso, a média será de um compromisso a cada 3,5 dias.
Serão dez apresentações só de 30 de dezembro a 30 de janeiro, data do embate derradeiro da Libertadores. É muito, mas tente incluir em um período semelhante mais três partidas e você terá noção do que viveu o Palmeiras entre 16 de maio e 16 de junho de 1999.
Naquele semestre, após uma eliminação na primeira fase do Torneio Rio-São Paulo, o time dirigido por Luiz Felipe Scolari foi avançando nas outras disputas. Em junho, estava na briga em três frentes: Campeonato Paulista, Copa do Brasil e Copa Libertadores.
O jeito foi adotar um rodízio de atletas, algo que não era comum no futebol brasileiro naquela época. De janeiro até a final continental, Felipão usou 37 jogadores. O elenco teve 27 peças utilizadas nos 13 jogos, entre maio e junho, que culminaram na grande conquista.
Havia uma prioridade clara à busca pela glória internacional. Mas, mesmo recheado de reservas, o time foi deixando adversários para trás, quase sempre de maneira dramática. Foi assim nas quartas de final da Copa do Brasil, contra o Flamengo, e nas semifinais do Paulista, contra o Santos.
“É uma decisão atrás da outra. Não sei como vou aguentar isso”, disse Scolari, em meio à sequência mais dura, dando crédito ao preparador físico Paulo Paixão pelo desempenho. “Nunca vi um time correr tanto. O time corre do primeiro ao último minuto.”
“A cada jogo eu tenho medo de que estoure uma lesão em alguém”, respondeu o preparador, apreensivo, em reportagem publicada pela Folha em 28 de maio. “Com essa maratona, o que tenho feito é somente recuperar os jogadores, não condicioná-los fisicamente.”
Os próprios atletas demonstravam essa preocupação. Na virada para junho, o Palmeiras já tinha presença assegurada na final da Libertadores, porém ainda buscava ir à fase de mata-mata do Paulista e avançar à decisão da Copa do Brasil.
“A gente entra em campo apreensivo. Estamos no limite. Temos jogado dentro do nosso máximo, gastando todas as nossas reservas. Contra o River Plate, teve uma hora em que o Paulo Nunes sentiu uma dor, eu fiquei imaginando algo pior”, contou César Sampaio.
A situação fez o volante cobrar um engajamento maior da classe de jogadores na montagem das tabelas, uma demanda que continua atual: “Já que os sacrificados somos nós, poderíamos usar mais o nosso sindicato para participar da elaboração do calendário”.
Sampaio viria a sentir uma fisgada na coxa, contra o Santos, na partida que valeu a classificação à decisão estadual. Júnior Baiano e Cléber também tiveram problemas musculares, mas todos estavam à disposição na noite da conquista da América do Sul.
O período de afastamento maior foi o de Cléber, que ficou 20 dias fora. No entanto, de maneira geral, funcionou bem o trabalho de Paixão. Ele contou com a ajuda dos fisiologistas Ivan Piçarro e Paulo Zogaib, que ministravam doses diárias de carboidratos, aminoácidos, potássio e magnésio.
Felipão, por sua vez, procurava manter o grupo na rédea curta. Irritado com as informações recebidas sobre a movimentação noturna de alguns jogadores, ele apertou o regime de concentração.
Na segunda partida da semifinal contra o Santos, o comandante manteve confinado até quem não estava à disposição, caso do zagueiro Júnior Baiano e do volante Rogério. “Com eles perto, podemos controlar alimentação, descanso…”, explicou.
Naquele jogo, o treinador adotou uma estratégia que funcionou repetidas vezes. Escalou um time misto e, no segundo tempo, acionou titulares importantes. Diante do Santos, Paulo Nunes saiu do banco para definir a vitória por 2 a 1 e a vaga na final.
“Quando os titulares que ficam no banco entram no jogo, estão fisicamente iguais ou melhores do que os adversários”, disse Scolari. “Eles colocaram na cabeça que podem vencer sempre. A mente, então, comanda as pernas. O fator emocional ajuda muito no físico”, emendou Paixão.
A satisfação não foi a mesma quando a CBF se recusou a adiar ao menos um dos jogos contra o Botafogo nas semifinais da Copa do Brasil. Após dois empates por 1 a 1, a formação carioca acabou levando a melhor nos pênaltis.
No Paulista, a tática de começar a disputa com reservas, certeira contra o Santos, acabou não funcionando no duelo com o Corinthians. Com reservas, o Palmeiras perdeu o jogo de ida da final por 3 a 0. O empate por 2 a 2 na segunda partida deu o título ao arquirrival.
A formação alternativa adotada em confrontos decisivos levou o presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), Eduardo José Farah, a anunciar uma multa de R$ 750 mil ao clube alviverde. Um preço que os palmeirenses viram como pequeno diante do triunfo continental.
Quando perdeu a final estadual, em 20 de junho, na tarde das embaixadinhas de Edílson, o Palmeiras já era campeão da Libertadores. Quatro dias antes, havia derrotado o Deportivo Cali nos pênaltis, em jornada inesquecível para sua torcida.
“Não tinha como a gente conquistar os três torneios. Ganhamos o que nos interessava. Estamos satisfeitos com a Libertadores”, afirmou o volante Rogério, antes mesmo da confirmação do vice-campeonato paulista.
Mais de 20 anos depois, a equipe verde se vê de novo em uma maratona, dividida em três frentes e com chance de título em todas elas. A prioridade, mais uma vez, é a Libertadores, porém a Copa do Brasil e o Brasileiro estão ao alcance.
O Palmeiras já está classificado à decisão do mata-mata nacional, contra o Grêmio. Na disputa por pontos corridos, está nove pontos atrás do líder São Paulo, mas com duas partidas a menos e um confronto direto a cumprir com o rival.
Antes de pensar nisso, os comandados do português Abel Ferreira se concentram em confirmar a vaga na decisão sul-americana. Depois de abrir 3 a 0 sobre o River Plate na Argentina, eles tentarão proteger a vantagem para brigar pelo título contra Santos ou Boca Juniors.
TIME DESFALCADO
Abel Ferreira não repetirá o time que conquistou o ótimo resultado no primeiro jogo contra o River. Nesta terça, ele não poderá contar com o volante Patrick de Paula, suspenso. Zé Rafael deverá ocupar seu lugar no Allianz Parque.
Também não está à disposição o atacante Gabriel Veron, que seria opção de velocidade no banco de reservas. Ele sofreu uma lesão muscular na coxa esquerda na vitória sobre o Sport, no último sábado (9), e virou baixa.
O Palmeiras pode até perder por dois gols de diferença. Caso leve 3 a 0, ainda terá a chance de avançar à decisão da Libertadores na disputa por pênaltis. Como os gols fora de casa são critério de desempate, o River poderá se classificar ganhando por 4 a 1, 5 a 2 e assim por diante.
O único alviverde pendurado é o técnico Abel Ferreira. Se o português receber cartão amarelo e sua equipe obtiver a vaga na final, ele não poderá ir ao gramado do Maracanã no dia 30 de janeiro, no duelo com Santos ou Boca Juniors.
Estádio: Allianz Parque, em São Paulo
Horário: 21h30
Árbitro: Esteban Ostojich (URU)
PALMEIRAS
Weverton; Marcos Rocha, Gustavo Gómez e Empereur; Gabriel Menino, Zé Rafael, Danilo e Matías Viña; Gustavo Scarpa, Rony e Luiz Adriano. T.: Abel Ferreira
RIVER PLATE
Armani; Gonzalo Montiel, Javier Pinola, Robert Rojas e Fabrizio Angileri; Enzo Pérez, Ignacio Fernández e Nicolás De La Cruz; Matías Suárez, Borré e Federico Girotti (Julián Álvarez). T.: Marcelo Gallardo
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