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Bombeiro que realizou cortejo de Ayrton Senna há 30 anos relembra dia marcante

Na época capitão, ele teve "carta branca" do coronel João Antônio Brás, que atuou em Limeira, para organizar cortejo que levou o caixão com o corpo do piloto


Por Redação Educadora Publicado 03/11/2024
Bombeiro que realizou cortejo de Ayrton Senna há 30 anos relembra dia marcante
O capitão Paulo de Freitas, que se aposentou como coronel da corporação em 2006 – Foto: Divulgação/SSP-SP

Há 30 anos, milhares de pessoas foram às ruas e avenidas de São Paulo se despedir de Ayrton Senna, tricampeão mundial de Fórmula 1, que morreu após bater o carro em um muro durante uma corrida em Ímola, na Itália.

O cortejo que levava o corpo do piloto foi organizado pela Polícia Militar de São Paulo, que começou no aeroporto de Guarulhos, passou pelo velório aberto ao público na Assembleia Legislativa e encerrou no dia seguinte na chegada ao cemitério do Morumbi, na zona sul da capital.

Pelo Corpo de Bombeiros, responsável por levar o caixão de Senna, todo o planejamento e transporte foi comandado pelo capitão Paulo de Freitas, que se aposentou como coronel da corporação em 2006. Ao relembrar o episódio, Freitas não conteve as lágrimas.

“Nunca vai ter nada igual àquele dia. Eu chorei várias vezes. Depois fiquei sabendo que todos no carro também choraram. O motorista chorava do meu lado, as pessoas ao redor, foi uma despedida digna de um herói”, relembrou.

O militar recebeu com surpresa a notícia de que iria comandar a operação. Ele teve “carta branca” do comandante da época para ter todo o efetivo que precisasse à disposição. No total, foram sete viaturas e cerca de 35 bombeiros e bombeiras que participaram dos dois dias de cortejo.

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O coronel da reserva João Antônio Brás e o capitão Paulo de Freitas em frente a viatura – Foto: Divulgação/SSP-SP

Velocidade, pomba branca e bilhetes

Algumas curiosidades marcaram a despedida dos fãs com o ídolo das pistas. A primeira delas foi a velocidade que a viatura andava, que teve que diminuir pelo mar de gente que tinha nos dois lados já na saída do aeroporto.

“Eu tinha recebido uma ordem de que era para a viatura seguir a 20 quilômetros por hora. Mas não tinha como. Era o último momento deles com aquele herói, eu queria que o público pudesse se despedir com calma. Então eu fui a cinco”, contou.

Outro fato curioso é que durante o trajeto uma pomba branca pousou na viatura e os acompanhou durante boa parte do percurso. “Ela seguiu conosco até a esquina da avenida Brasil com a Rebouças. Não achei apenas uma coincidência”, opinou.

Isso sem contar a multidão que aguardava ansiosamente para dar o último adeus ao piloto. “Tinha muita gente chorando, segurando cartazes, em cima das pontes, penduradas em postes, alguns jogavam flores e bilhetes na viatura”, detalhou o bombeiro aposentado. “Guardei todas essas recordações para mim. Eu tenho quase um museu do Ayrton Senna em casa”, brincou.

Para o coronel, Senna era um exemplo de determinação, que ajudou a projetar o Brasil para o mundo, fazendo com que muitas pessoas passassem a olhar para o país. O próprio militar era um dos que acompanhava os feitos do piloto nas manhãs de domingo.

A corrida mais marcante para Freitas foi a do Grande Prêmio do Brasil de 1991. “Ele nunca tinha ganhado correndo no seu país. E fez isso usando apenas uma marcha no carro, que teve problemas no final. Quando acabou a corrida ele não conseguia nem mexer o braço. Ele era um gênio”, disse.

Por tudo que representou ao esporte e ao país, o militar não queria que nada desse errado nos dias do cortejo de Senna. “A gente estava sendo visto pelo mundo inteiro, não tinha margem para erro. Disse para o meu efetivo que se nos considerávamos bons, naqueles dias teríamos que ser melhores ainda”, contou o bombeiro.

No final, o cortejo foi realizado sem nenhuma intercorrência. “Apesar de ser a ocorrência mais triste da minha carreira, foi tudo perfeito. Nós mostramos ao mundo o que era a Polícia Militar do Estado de São Paulo”, recordou com orgulho o bombeiro.

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Cortejo fúnebre de Ayrton Senna que ocorreu no dia 5 de maio de 1994. Foto: SSP/Governo de SP

Viatura eternizada

A viatura que carregou o caixão com o corpo de Senna está eternizada no acervo do Corpo de Bombeiros de São Paulo. O local fica dentro do Centro de Suprimento e Manutenção de Material Operacional de Bombeiros, na avenida Morvan Dias de Figueiredo nº 4.221, na zona norte da capital paulista.

O museu foi inaugurado em 2004 e é aberto ao público para visitação. Lá, há 40 viaturas históricas que participaram de eventos marcantes ou que foram importantes na construção da história da corporação. O carro mais antigo do acervo é de 1936. Quem conhece tudo sobre o museu é o coronel da reserva João Antônio Brás, que trabalhou por 24 anos na unidade. Ele se lembra até hoje de como surgiu a ideia de colecionar viaturas.

“Lá em Limeira, no interior de São Paulo, meu comandante uma vez viu uma viatura abandonada e me pediu para fazer uma reforma nela. A partir disso, quando vimos ela reformada, começamos a pensar em reunir essas viaturas e guardá-las em um museu”, explicou.

Influenciado pelos tios a ir para o setor de manutenção, Brás se emociona ao revisitar o local por onde serviu por duas décadas. “Traz muitas recordações, a gente viveu por muito tempo ao lado desses carros”, acrescentou. E entre todas as viaturas que fazem parte do museu, o coronel considera a do Senna como a mais marcante de sua vida. “Não tinha quem não amasse ele. Essa se tornou muito especial”, explicou o militar.

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Viatura que carregou o corpo de Senna. Foto: SSP/Governo de SP

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