Ribeirinhos e índios da Amazônia vendem artesanato pela internet
Peças de artesanato produzidas a partir de pedaços de madeira, fibras, sementes, pedras e cipós coletados na floresta por famílias ribeirinhas e indígenas da Amazônia começaram a ser vendidas a todo o Brasil pela internet neste mês
Lucineide Garrido, 48, a Neide, é artesã na comunidade ribeirinha Tumbira, no rio Negro, a cerca de três horas de barco de Manaus. Lá, vende direto a turistas produtos como um jogo de sousplat (suporte de prato) feito de fibras de banana e de bacaba (palmeira nativa amazônica). Agora, está feliz por mostrar seu trabalho a clientes do Sul e de outras partes do país graças a um mundo que não conhece: a internet.
Peças de artesanato produzidas a partir de pedaços de madeira, fibras, sementes, pedras e cipós coletados na floresta por famílias ribeirinhas e indígenas da Amazônia começaram a ser vendidas a todo o Brasil pela internet neste mês.
A venda por site envolve diretamente 121 famílias de dez comunidades indígenas e ribeirinhas dos rios Negro, Amazonas e Solimões. São comercializados, além de “biojoias”, mochilas e redes, óculos, chaveiros, fruteiras, cestos, adegas de madeira, jogos americanos, porta copos, entre outros produtos.
O projeto é da FAS (Fundação Amazonas Sustentável), ONG ambiental que atua no Amazonas, em parceria com a B2W Digital, detentora da marca americanas.com. O comércio online funciona na seção “Jirau da Amazônia” do site, e os preços das peças que vão de R$ 20 a R$ 754.
O Fundo Amazônia, o maior projeto de cooperação internacional para preservar a floresta amazônica, tem participação na ideia. Os recursos empregados em projetos de turismo e artesanato também serviram para viabilizar a primeira compra de produtos para o site, como um capital de giro. O custo do frete fica por conta do cliente. É justamente esse um dos maiores entraves para o sucesso da iniciativa, uma vez que o custo da entrega pode ultrapassar o preço do produto.
Um chaveiro de madeira itaúba feito pelos índios barés, por exemplo, é vendido no site a R$ 30, mas o frete chega a R$ 36,41 se o endereço de entrega for na avenida Paulista, em São Paulo, por exemplo.
Apesar deste obstáculo, ribeirinhos se mostram esperançosos com a possibilidade de levar seus produtos para além das fronteiras das unidades de conservação onde vivem.
Na comunidade de Neide, são mais de 40 peças criadas com fibras de bacaba e banana, seringas (como são chamadas as sementes da seringueira), sementes de açaí e morototó (árvore nativa da América do Sul), fios de tucum (outro tipo de palmeira, comum na região do Alto Rio Negro) e escamas de pirarucu e pedras, como a jarina.
Tudo é confeccionado na oficina montada no pátio da casa dela. Por mês, são produzidas mais de 200 peças, que até então eram vendidas para os turistas que visitam a comunidade e, agora, também pela internet.
Além da família de Neide, o trabalho na oficina envolve outros 15 vizinhos e rende a ela R$ 1.500 mensais. Por ano, Neide movimenta mais de R$ 10 mil só com a compra de matéria-prima e o pagamento de mão de obra. “Tenho tudo anotadinho nos cadernos. Registro tudo”, diz ela, que também é assessorada pelo Sebrae.
Antes da criação da unidade de conservação, a extração ilegal de madeira era a principal atividade econômica dos ribeirinhos das 19 comunidades que compõem a RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) Rio Negro, que é vizinha do Parque Nacional de Anavilhanas.
Hoje, quem ocupa esse posto é o turismo, segundo o gestor da unidade de conservação, Miquéias Souza, da SEMA (Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amazonas).
Segundo a FAS, o artesão fica com cerca de 40% do valor anunciado no site. O restante vai para custos de levar o produto de barco da comunidade até uma unidade dos Correios ou transportadora, de embalagem, de impostos e de reinvestir no projeto.
Assim, como exemplo, se no site o jogo de sousplat da Neide custa R$ 50 (sem frete), ela, a artesã, fica com R$ 21,50 (43%). Outros R$ 9,15 vão pra embalagem (18,13%), R$ 8,50 para levar a peça de Tumbira até os Correios ou transportadora (16%), mais R$ 3,23 de impostos e tributos (cerca de 7%) e outros R$ 7,13 à FAS para manter o projeto de venda no site (15%).
Segundo a B2W Digital, não há lucro para a marca -a empresa se beneficia em oferecer um produto ecologicamente correto e em estimular um consumo sustentável aos clientes do site, segundo o diretor de sustentabilidade da empresa, Carlos Padilha.
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