Ação da Americanas cai quase 40% com cenário incerto sobre o futuro da empresa
Segundo analistas, a negociação com os credores deve ficar cada vez mais difícil, e os bancos devem oferecer poucas alternativas à varejista
A ação da Americanas volta a despencar nesta segunda-feira (16), depois de ensaiar uma recuperação na última sexta-feira (13), quando subiu pouco mais de 15%. Segundo analistas, a negociação com os credores deve ficar cada vez mais difícil, e os bancos devem oferecer poucas alternativas à varejista.
Às 16h, a ação ordinária da Americanas (AMER3) recuava 38,41%, cotada a R$ 1,94. Na última sexta-feira, a ação fechou cotada a R$ 3,15, com os investidores ainda tentando entender o que aconteceria com a empresa nos dias posteriores.
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Mas logo após o fechamento do pregão da última sexta, e no decorrer do fim de semana, após notícias como a de que a empresa havia pedido proteção na Justiça contra credores, analistas e investidores colocam no preço da ação da Americanas um cenário ainda mais negativo do que da semana passada.
Para um analista que prefere não ser identificado, a petição do BTG Pactual contra o pedido de proteção conseguido pela Americanas na Justiça deve resumir a posição de todos os grandes bancos credores com a Americanas.
“Os acionistas de referência estão propondo um aporte pequeno de capital perto do que é necessário, e a Americanas não tem ativos assim tão valiosos para vender. O mais relevante é a rede Natural da Terra”, diz o analista.
A Americanas pagou R$ 2,1 bilhões para comprar a rede Natural da Terra, com o anúncio feito em agosto, pouco antes da nomeação de Sergio Rial para o comando da varejista.
Segundo a equipe da Levante Ideias de Investimentos, o pedido de tutela cautelar feito pela Americanas serve para aumentar a desconfiança sobre a empresa, principalmente junto aos credores.
“O pedido pegou os credores de surpresa, elevando o clima de tensão e desconfiança entre a Americanas e os bancos, visto que a empresa omitiu durante as reuniões da sexta-feira que já havia protocolado o pedido na Justiça, tendo a maioria dos credores recebido a informação através da imprensa”, afirma a equipe da Levante.
Além das ações, outro mercado que já sente o efeito Americanas é o de crédito privado. Igor Cavaca , head de gestão de investimentos na Warren, diz que ainda não sentiu um movimento relevante de resgates de fundos que possuem títulos emitidos por empresas, como a Americanas.
“Mas já observamos um choque no mercado, e as taxas cobradas em boa parte dos ativos, não só com as debêntures da Americanas, têm aumentado nos últimos dias”, explica Cavaca.
A tendência é que, com o valor das cotas sendo recalculado para baixo ao longo desta semana, as pessoas físicas aumentem os saques dos fundos que têm esses títulos na composição.
O valor da dívida também assusta investidores e credores. Cálculo feito por Einar Rivero, do TradeMap, mostra que os R$ 40 bilhões de dívida bruta estimada da Americanas, após a exposição da inconsistência contábil, corresponde ao valor de mercado da Raia Drogasil, que era de R$ 39,5 bilhões na última sexta, a 20ª maior da Bolsa.
Ainda segundo o levantamento do TradeMap, a relação entre dívida bruta e valor de mercado da Americanas era de 14,07 vezes ao final da semana passada, a maior entre as empresas com endividamento superior a R$ 40 bilhões, seguida pela Marfrig com 11,39 vezes, e Simpar, com 7,17 vezes.
Por isso, as ações dos grandes bancos também caem, por serem os maiores credores da Americanas. As preferenciais (sem direito a voto em assembleia, com preferência no recebimento de dividendos) e as ordinárias (com direito a voto em assembleia) do Bradesco recuam 3,5% e 2,5%, respectivamente. As preferenciais do Itaú Unibanco recuam 1,6%, e as units do Santander recuam 3,7%.
As outras grandes varejistas listadas em Bolsa estão em alta nesta segunda. A ação ordinária do Magazine Luiza (MGLU3) sobe 9%, e a ordinária da Via Varejo (VIIA3) avança 10%.
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