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Alunos de escolas privadas usam nota do Enem de anos anteriores para sair do país

Por causa da pandemia, diversos países do mundo cancelaram ou adiaram seus vestibulares


Por Folhapress Publicado 23/01/2021
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Com a mesma nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que a garantiu uma vaga em uma universidade federal brasileira no início do ano passado, Mariannah Barcellos, 19, agora tenta ser aprovada para estudar em Portugal.

Por causa da pandemia, diversos países do mundo cancelaram ou adiaram seus vestibulares, mas alunos brasileiros, principalmente os que estudaram em escolas particulares, têm usado a nota do Enem de anos anteriores para tentar uma vaga nas principais instituições de ensino do exterior.

Preocupada com os impactos da redução de recursos federais para o ensino superior e pesquisa no país, Barcellos avalia que terá mais chances de seguir a carreira de bióloga em Portugal.

“Sempre quis estudar fora e achava que o caminho seria conseguir uma bolsa pelo governo para isso. Mas depois de entrar na universidade vi os cortes de verba no ensino e decidi que seria melhor já tentar fazer a graduação em outro país por minha conta mesmo”, diz a jovem, que se candidatou para uma vaga na Universidaded do Porto.

Ela se formou no colégio Rio Branco, em São Paulo, em 2019, quando fez o Enem. Como a decisão de ir para Portugal só veio ao final do ano passado, ela usou a nota do exame daquele ano para a candidatura.

“Também acho que não estaria preparada para fazer o Enem agora, já que quase não estudei no ano passado com o ensino remoto. E teria medo de fazer a prova nessa situação atual”, conta.

Depois de ter resistido a adiar o Enem, marcado inicialmente para novembro de 2020, o MEC (Ministério da Educação) decidiu manter a realização do exame em janeiro, em meio ao agravamento da pandemia em todo o Brasil. O primeiro dia de prova, no domingo (17), teve candidatos barrados por conta de salas superlotadas e a maior abstenção da história, com a ausência de mais da metade dos inscritos.

Luigi Rigato, 17, foi um dos que fez a prova a no último domingo, apesar de já ter se candidato para universidades dos Estados Unidos com a nota do Enem de 2019, que fez quando ainda estava no 2º ano do ensino médio, como treineiro.
Ele sempre quis estudar fora do Brasil, por isso, tinha se preparado para fazer o ACT (espécie de vestibular americano). No entanto, as provas foram canceladas três vezes pela situação da pandemia nos Estados Unidos –uma nova data foi remarcada para abril.

“Com o adiamento, algumas universidades de lá flexibilizaram o processo de candidatura e passaram a permitir os exames de outros países como parte da avaliação. Aproveitei a nota do Enem de 2019 para tentar entrar ainda no início deste ano”, conta.

Aluno do colégio Móbile, ele quer estudar engenharia na New York University. A nota do Enem deste ano servirá como um plano B para ele, caso não consiga a aprovação no exterior.

Renata Condi, do Departamento de Estudos Internacionais do colégio Rio Branco, diz que, apesar do receio de parte dos estudantes sobre a possibilidade de conseguir visto para morar em outros países no meio da pandemia, muitas famílias têm incentivado a candidatura diante da situação no Brasil.

“Percebo que muitas vezes a decisão é motivada por uma preocupação com o bem estar dos jovens, de que possam ir morar em um país com melhores oportunidades de ensino, qualidade de vida”, diz. Há ainda quem tenha adiado a candidatura por conta da alta do dólar e euro.

Ela diz que a possibilidade de usar o Enem de anos anteriores também incentivou os jovens a tentar uma vaga no exterior, já que tinham receio de fazer o exame deste ano durante a pandemia. “Muitos relataram medo de fazer a prova sem saber como seriam as condições de segurança.”

Para Aline Chmatalik, coordenadora de estudos internacionais do colégio Móbile, a flexibilização de novos países e universidades para a candidatura em meio a pandemia permitiu que os alunos seguissem com o sonho de estudar no exterior.
“Universidades dos Estados Unidos, por exemplo, que não permitiam o uso do Enem passaram a aceitá-lo como um dos requisitos de avaliação. Essa mudança foi importante para os alunos.”

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