Assaí relata ‘erro de procedimento’ em abordagem a homem negro em Limeira
Segurança demitido pela rede de supermercados ainda não foi ouvido pela polícia para a conclusão do inquérito
A rede de supermercados Assaí Atacadista relatou um “erro de procedimento” na abordagem ao aposentado Luiz Carlos da Silva, de 56 anos, na sexta-feira (7), na loja de Limeira, quando o homem foi constrangido pela ação dos seguranças e precisou tirar as calças para mostrar que não estava tentando furtar a loja. Ele também prestou esclarecimentos no domingo (15) mas, segundo o delegado, apenas confirmou o que já havia dito no ato do registro do caso e não acrescentou nenhum ponto importante na investigação. O caso ganhou repercussão nacional depois que imagens gravadas por celulares viralizaram nas redes sociais.
Acompanhados de um advogado vindo do Rio de Janeiro, cinco funcionários da rede estiveram no 1º Distrito Policial (DP) de Limeira na última sexta-feira (13), para prestar esclarecimentos ao delegado Francisco de Paula Lima. O delegado conversou com a Educadora depois das oitivas.
De acordo com o policial civil, a rede de supermercados alega que as abordagens a pessoas suspeitas no interior da loja são provocadas pelo sistema de monitoramento. O vigia que assiste a movimentação dentro da loja pelas câmeras avisa a equipe da situação suspeita e determina a abordagem. Segundo o relato dos funcionários do supermercado, o aposentado levantou suspeita por estar com um volume estranho embaixo da blusa que vestia.
Um segurança da loja desconfiou e acionou o sistema de monitoramento. No entanto, o funcionário que opera as câmeras estava em horário de jantar, disse que não poderia verificar as imagens e pediu para que um segurança ficasse observando a movimentação de Luiz Carlos da Silva no interior da loja.
Ainda segundo os funcionários do Assaí, não foi possível acompanhá-lo pelos cerca de 10 minutos que o homem ficou no supermercado. Na dúvida, os funcionários o abordaram na saída e, segundo representantes da loja, estaria aí o erro interno de procedimento.
O relato da vítima de racismo à Educadora reforça o suposto erro relatado: “Se depois que eu tivesse mostrado que não escondia nada, os seguranças tivessem me liberado, nada disso teria acontecido”.
CALÇAS
Os advogados do Assaí afirmam que o aposentado não foi obrigado a baixar as calças e que levá-lo para o canto onde tudo aconteceu faz parte do protocolo de segurança. Nas entrevistas, o aposentado contou que tirou as calças por vontade própria. Segundo o delegado, a rede de supermercados afirmou que não há uma sala para esse tipo de procedimento, pois isso, seria contra a política de trabalho das lojas. O advogado ainda apresentou uma cartilha e certificados de cursos internos feitos pelo funcionário demitido. Conforme o advogado, a rede de supermercados faz treinamentos com os funcionários sobre temas como racismo e homofobia, por exemplo. As imagens do sistema de monitoramento não mostram a ação toda, pois os banheiros da loja estão na região do prédio onde ocorreu a confusão. “As imagens que a imprensa tem veiculado mostram mais coisas do que as da própria loja”, diz o delegado.
PRÓXIMOS PASSOS
Conforme mostrou a Educadora, a polícia havia recebido as cenas gravadas pelas câmeras de segurança. O delegado requisitou mais imagens e confirmou que as câmeras mostram que o aposentado entrou na loja, foi ao setor de congelados e se apoiou em um dos congeladores. “Essa é a única imagem diferente de Luiz Carlos. O restante da movimentação não teve nada de anormal”, confirma Lima.
Ainda falta ser ouvido o segurança que realizou a abordagem e que foi desligado da empresa. A rede de supermercados afirmou à polícia que não houve caso de racismo, até pelo fato deste ex-funcionário também ser negro. A partir daí, o delegado deve formar a convicção dele e se, entender pelo crime de racismo, encaminhar o caso para o Ministério Público, responsável em fazer a denúncia a Justiça.
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