Trump retoma campanha eleitoral para tentar reverter queda de popularidade
Apesar das críticas e dos pedidos de autoridades de saúde para evitar aglomerações, Trump discursou diante de 20 mil pessoas em uma arena de Tulsa, no Estado de Oklahoma
Apesar das críticas e dos pedidos de autoridades de saúde para evitar aglomerações em razão da pandemia, Donald Trump retomou neste sábado, 20, os megacomícios para conter a queda de popularidade dos últimos dois meses. Diante de 20 mil pessoas em uma arena de Tulsa, no Estado de Oklahoma, ele relançou sua campanha presidencial.
A menos de cinco meses da eleição, Trump tem um déficit de pouco mais de 12 pontos porcentuais em seu índice de popularidade, segundo o site Real Clear Politics, que calcula a média diária de pesquisas – 42,7% aprovam o desempenho do presidente, enquanto 54,8% desaprovam. No portal Five Thirty Eight, que leva em conta mais sondagens, 41,4% aprovam e 55,2% desaprovam.
Historicamente, presidentes que em junho tinham aprovação abaixo de 45% não foram reeleitos.
Para reverter a queda, Trump decidiu retomar o contato direto com os eleitores em comícios como o deste sábado, em Tulsa, apesar da situação crítica da pandemia, que avança em 22 dos 50 Estados americanos. O presidente anunciou que em breve a campanha passará pelos Estados do Texas, Florida, Arizona e Carolina do Norte.
Mas discursos como o deste sábado não servem apenas para aumentar o entusiasmo dos eleitores. Marcado para começar às 19 horas (horário local, 21 horas em Brasília) de uma noite de sábado, a ideia foi aproveitar o horário nobre e a cobertura gratuita da mídia nacional, que transmitiu o evento ao vivo.
Nos bastidores, o comício teve também outro objetivo: coletar dados de eleitores para que a campanha de Trump possa usar nas eleições de novembro. No Twitter, o presidente anunciou que quase um milhão de pessoas se inscreveram para participar do evento em Tulsa – a arena comporta 20 mil pessoas e o acesso foi determinado por ordem de chegada.
As inscrições são importantes, porque inundam o banco de dados da campanha com informações preciosas, como nome, registro partidário, celular, e-mail e endereço. Brad Parscale, chefe da campanha de Trump, descreveu o comício deste sábado como “a maior coleta de dados” de todos os tempos.
Com as informações, os estrategistas do presidente sabem, por exemplo, que cerca de 15% a 20% das pessoas que compareceram aos comícios de Trump votaram em apenas uma das quatro eleições passadas, ou não votaram. Em dois dos mais recentes comícios – em New Jersey e em New Hampshire ,- mais de 25% das pessoas que se inscreveram para entrar eram democratas. Com dados valiosos nas mãos, é possível fazer uma campanha de marketing mais segmentada e eficiente.
Nos últimos anos, os republicanos gastaram US$ 350 milhões construindo um banco de dados centralizado de eleitores, o que colocou o partido à frente dos rivais na última eleição presidencial. Em fevereiro de 2019, os democratas lançaram um novo banco de dados, mas Howard Dean, ex-presidente do Comitê Nacional Democrata, reconhece que ausência de eventos de campanha prejudica a coleta de informações.
Nos últimos três meses, Biden tem recuperado o terreno perdido. De acordo com assessores do ex-vice-presidente americano, as campanhas dos principais rivais democratas nas primárias compartilharam suas listas de eleitores e doadores, o que triplicou o número de pessoas registradas no banco de dados do candidato – acrescentando 1,2 milhão de novos nomes apenas na primeira semana de junho.
Até o momento, a melhor organização de campanha parece ser a grande vantagem do presidente contra Biden. No mais, todos os outros sinais mostram que a reeleição corre sério risco – e os estrategistas republicanos precisarão mais do que grandes comícios para mudar a imagem de Trump, envolvido em múltiplas crises.
A primeira dificuldade é explicar os 120 mil mortos e 2,3 milhões de infectados pela covid-19. Em quatro meses de pandemia, Trump minimizou o vírus, rejeitou o uso de máscara e fez de tudo para que o país abandonasse o isolamento social, mas não conseguiu evitar que os problemas sanitários criassem uma crise econômica. Além dos 40 milhões de desempregados, o PIB americano deve encolher 6% este ano, segundo o FMI.
Outro golpe foi a morte de George Floyd, negro assassinado em maio por um policial branco em Minneapolis – que desatou uma onda de protestos raciais nos EUA. Trump optou por uma resposta radical, defendendo a repressão aos manifestantes. A estratégia chegou ao ponto mais baixo no início de junho, quando a polícia dispersou com violência a multidão que protestava pacificamente diante da Casa Branca, para que o presidente fizesse uma sessão de fotos diante de uma igreja segurando uma Bíblia na mão.
Esta semana, Trump deixou claro que quer comícios cheios, que não pretende discursar em locais vazios ou olhar para uma fileira de rostos cobertos por máscaras. Sua equipe de epidemiologistas, no entanto, garante que a pandemia está longe do fim. Questionado esta semana se teria coragem de ir ao comício de Trump em Tulsa, Anthony Fauci, principal especialista em doenças infecciosas do governo, foi seco na resposta. “É claro que não.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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