Polícia de SP terá efetivo 25% maior no Carnaval para evitar arrastão e tumulto
De acordo com informações do comando da PM da capital, seriam 3 milhões de foliões a mais do que em 2019 espalhados pela cidade, em 761 blocos e em 880 eventos (um bloco pode sair mais de um dia) nos oito dias de festa
A escadaria da Igreja da Consolação, no centro de São Paulo, estava tomada. Mal dava para se mexer. Atrás de um trio elétrico, milhares de foliões desceram a passos de pinguim pela rua Augusta e se juntaram a essa massa. O encontro das multidões, naquela noite de Carnaval de 2017, quase termina em tragédia. Sem vias suficientes para escoamento, as pessoas começaram a ser espremidas contra as paredes do prédio da esquina da rua João Guimarães Rosa. Houve gritos, empurra-empurra, choro e discussões.
A noite só não terminou com mortos e feridos porque, por sorte, ninguém chegou a cair no chão, e as ameaças de brigas não prosperaram.
Para evitar que cenas como essa voltem a ocorrer e tenham um desfecho pior, a Polícia Militar de São Paulo vai colocar nas ruas durante o Carnaval deste ano número recorde de policiais – 10.218, efetivo 25% maior que os cerca de 8.000 homens e mulheres fardados que foram às ruas durante o Carnaval passado.
Vai, também, implementar medidas de segurança extras diante da expectativa também recorde de público de cerca de 15 milhões de pessoas.
De acordo com informações do comando da PM da capital, seriam 3 milhões de foliões a mais do que em 2019 espalhados pela cidade, em 761 blocos e em 880 eventos (um bloco pode sair mais de um dia) nos oito dias de festa.
Isso inclui o pré-Carnaval (dias 15 e 16 fevereiro), o Carnaval (de 22 a 25 fevereiro) e o pós-Carnaval (de 29 fevereiro e 1º de março).
O número de blocos e eventos pode oscilar até o próximo fim de semana, mas é certo que haverá festejo em todas as regiões da capital. “A principal preocupação nossa é que que não tenha morte. Mortes por pisoteamento”, disse o comandante da PM na capital, coronel Vanderlei Ramos. “Nossa preocupação é um carro [de som] desses travar e começar a ter empurra-empurra”, disse.
A maior atenção dos policiais será para os chamados megablocos, aqueles eventos com previsão de reunir mais de 40 mil pessoas cada um. Para 2020, estão previstos 41 desses blocos gigantescos, em especial na zona oeste da capital.
A previsão inicial de megablocos era maior, mas alguns foram cancelados por questões de segurança, como o bloco das Poderosas, da cantora Anitta, que sairia na região da Berrini, na zona sul. Outro local para o cortejo está em estudo.
O total de policiais previsto para ir às ruas no Carnaval paulistano deste ano não inclui o policiamento ostensivo normal (de radiopatrulha) nem o grupo que acompanha os desfiles no sambódromo.
Para aumentar esse contingente, a corporação vai trazer de volta 50% do efetivo enviado para o litoral para reforçar a segurança na chamada Operação Verão. Desceram 1.206 policiais, e metade deles (603) volta para o início do Carnaval.
Também será montada uma sala de crise, que reunirá vários órgãos estaduais e municipais a fim de controlar todas as ações em tempo real.
Como o estudo para o Carnaval deste ano teve início em setembro, algumas medidas preventivas já foram adotadas, como a proibição de eventos em pontos considerados perigosos para o público, como o largo da Batata, e regiões das ruas Roque Petrônio, Gastão Vidigal (todos na zona oeste) e Laguna (zona sul).
Outra mudança para o Carnaval deste ano que visa reduzir as chances de acidentes em tumultos é a mudança de horário de encerramento dos desfiles de trios elétricos, que terminarão às 19h, uma hora mais cedo – no ano passado, o horário de verão ajudou a claridade a perdurar até mais tarde. O cuidado, porém, tem outros motivos.
“Neste ano, uma das sugestões que colocamos para a prefeitura foi que termine mais cedo, para ter mais tempo para dispersão e mobilidade urbana”, disse o oficial.
Essas medidas de segurança também vão incluir a proibição de instrumentos que possam provocar ferimentos, como guarda-chuvas, pedaços de madeira e garrafas de vidro.
“A orientação é não levar objetos que podem provocar lesão corporal, como sombrinha, guarda-chuva, garrafa de vidro. Com a garrafa quebrada é possível atacar alguém. Também há os cacos no chão que alguém pode pisar. A PM vai tomar esse material”, afirma o coronel.
De acordo com a PM, mais de um terço (35%) de todos os atendimentos médicos realizados na capital em durante o Carnaval de 2019 foi por causa de cortes.
Outra mudança para este ano, segundo a PM, é a implantação de um plano de segurança que todos os blocos precisarão adotar para tentar mitigar os riscos de acidente.
Ainda de acordo com Ramos, outra preocupação são os arrastões –no jargão policial, “roubos ou furtos múltiplos”. Nos carnavais anteriores, um dos principais problemas enfrentados pelo policiamento foi os furtos e roubos de celulares.
Foi no mês de março de 2019 que a polícia registrou o maior número de queixas de furtos na capital. Houve 23.693 queixas feitas pela população, 49% dos crimes anotados no ano anterior (15.895) inteiro.
A PM também passará a infiltrar policiais militares disfarçados de foliões entre os blocos. Eles usarão roupas civis e passarão as informações para as equipes uniformizadas atuarem. “O nosso desejo é terminar o Carnaval sem morte, e mitigar o número de roubos e furtos”, disse o coronel.
“Para isso, nós precisamos da colaboração da sociedade. Menos ingestão de bebidas e drogas, pois isso reduz a atenção das pessoas.”
Desde o ano passado, a capital paulista superou o Rio em número de blocos. Em 2019, foram 490 –número que, se confirmadas as previsões, crescerá 55% neste ano. Entre as novas atrações esperadas estará um desfile do tradicional bloco pernambucano Galo da Madrugada.
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