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Imagens mostram médico e prefeito abusando de pacientes no CE

A denúncia foi veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, e as imagens mostram Paiva, que é prefeito da cidade, realizando procedimentos impróprios e considerados criminosos contra as vítimas


Por Estadão Conteúdo Publicado 16/07/2019

Vídeos gravados no interior do consultório mostram o médico ginecologista José Hilson Paiva, de 70 anos, abusando sexualmente de diversas pacientes na cidade de Uruburetama, no interior do Ceará. A denúncia foi veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, e as imagens mostram Paiva, que é prefeito da cidade, realizando procedimentos impróprios e considerados criminosos contra as vítimas.

O partido de Paiva, o PCdoB, decidiu na segunda-feira, 15, após a veiculação das denúncias, expulsá-lo dos quadros. A presidente da Câmara Municipal da cidade, Maria Stela Gomes Rocha, baixou o decreto legislativo 2/2019, afastando provisoriamente o acusado do cargo de prefeito, “até decisão final do processo que apura a denúncia por infração político-administrativa”.

As denúncias contra o médico não são novas. De acordo com o programa, há relatos que datam da década de 1990 sobre supostos crimes de estupro cometido por ele. Os casos voltaram à tona após uma série de gravações mostrarem que o comportamento abusivo era recorrente.

A reportagem mostra vídeos de, pelo menos, 23 mulheres sendo abusadas e filmadas pelo próprio médico. À Globo, uma mulher afirmou ter sido abusada pela primeira vez aos 14 anos de idade e diz que só voltou à consulta porque ele era o único ginecologista da cidade.

Outra mulher disse que o médico usava a boca para examinar os seios, com o pretexto de verificar se havia secreção nas mamas. As gravações mostram ainda que Paiva posicionava as pacientes de costas para realizar exames, alegando que “era o procedimento”. Em todos os vídeos, é possível perceber que o médico tratava suas pacientes por “bebê”.

Especialistas da Associação Médica Brasileira assistiram aos vídeos sem os recursos de edição e afirmaram que Paiva claramente praticou o crime de abuso sexual.

O Sindicato dos Médicos do Ceará afirmou inicialmente ao jornal O Estado de S. Paulo que Paiva não era sindicalizado. Horas depois da publicação deste texto, o sindicato entrou em contato para corrigir a informação. Em nota, o órgão disse que o médico acusado de abusar sexualmente das pacientes em seu consultório está inscrito no sindicato desde 1978 e que o associado poderá perder seus direitos. “O sindicato acompanhará os trabalhos do conselho em relação a José Hilson Paiva e, após as deliberações sobre o caso, tomará as medidas cabíveis”, declarou.

O presidente do sindicato, Edmar Fernandes, afirmou que o conselho tem 180 dias para o tomar uma posição definitiva, por exemplo, decidindo pela cassação do CRM dele. “Falando como cidadão, se há provas de que ele exerceu qualquer atitude criminosa, deve ser julgado e condenado como qualquer outro cidadão”, considerou Fernandes.

A Sociedade Cearense de Ginecologia de Obstetrícia (Socego) e a Cooperativa dos Ginecologistas e Obstetras do Ceará (Coopego) declararam que repudiam com veemência o conteúdo dos vídeos divulgados. “A violência sexual tem efeitos devastadores nas esferas física, mental e social das vítimas. Além dos prejuízos à saúde, atinge toda a sociedade ao colocar o medo do estupro como um elemento cotidiano da vida das mulheres, podendo prejudicar seu pleno potencial de desenvolvimento e sua liberdade.”

Carreira Política

José Hilson Paiva é integrante do partido PCdoB do Ceará. De 2012 a 2016, foi vice-prefeito de Uruburetama e, em 2018, foi eleito prefeito para administrar o município até 2020.

Esta não é a primeira vez que Paiva é acusado pelos crimes de abuso sexual e estupro. De acordo com Andreia Oliveira, membro da direção executiva do PCdoB do Ceará, foi em 2018 que apareceram as primeiras denúncias e, diante disso, o partido decidiu pelo afastamento do integrante.

“Mas existe uma questão estatutária que diz que todo e qualquer filiado tem direito à defesa; o partido não pode simplesmente expulsar. Naquele momento, decidimos pelo afastamento e dar início a um processo que caminhava para a expulsão, com a necessidade de ouvi-lo”, afirmou Oliveira. “Esse processo acabou há pouco tempo e hoje (segunda-feira, 15) à tarde, diante das novas denúncias, o PCdoB se reuniu e decidiu novamente pela expulsão.”

No Conselho Federal de Medicina, José Hilson Paiva não tem registro de especialidade e área de atuação. Há um ano, após divulgação de filmagens de sexo e de estupro entre o médico e pacientes, o marido de uma das mulheres que aparece na gravação morreu após ver o vídeo. Ele passou mal e foi encaminhado ao hospital da cidade, mas não resistiu.

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