Apoiadores de Lula tomam Brasília para posse divididos entre receio e euforia
Autoridades do Governo do Distrito Federal e integrantes do grupo de transição avaliam que o evento na capital federal deve receber cerca de 300 mil pessoas
Tomada por apoiadores do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a cerimônia de posse, Brasília se divide entre a euforia pela mudança de governo e o medo de violência por parte de bolsonaristas inconformados com a derrota.
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Autoridades do Governo do Distrito Federal e integrantes do grupo de transição avaliam que o evento na capital federal deve receber cerca de 300 mil pessoas -muitas dispostas a ver o petista de perto neste domingo (1º).
O motorista Pedro Ribeiro Cruz Junior passou quase dois dias viajando de ônibus para chegar a Brasília saindo de Carutapera, município com cerca de 25 mil pessoas no interior do Maranhão.
Ele conta que quase desistiu da ideia ao ver que uma bomba tinha sido colocada perto do aeroporto de Brasília, mas decidiu encarar a viagem.
“Acredito que tudo correrá da forma mais democrática e pacífica possível”, diz. “Estar nessa posse, conhecendo Brasília, é algo único na vida de qualquer nordestino”, completou.
Antônio Nascimento, que saiu de São Paulo com mãe, irmã, tia e namorada, está hospedado em uma chácara de amigos da família próxima a Brasília, mas passaria a virada do ano no acampamento do PT, no Parque da Cidade.
“Estou um pouco receoso, sim, com medo de dar algum problema de segurança no dia da posse. Talvez também com ônibus, pode ser que tenham problemas nas estradas, de repente podem acontecer novos bloqueios de bolsonaristas”, afirma ele.
Cerca de 50 mil pessoas de outras cidades se cadastraram no PT para informar que participariam da cerimônia de posse.
Para acomodar os apoiadores, o partido conseguiu autorização para usar escolas públicas como alojamento, e distribuiu o restante do grupo em barracas no Parque da Cidade, no estádio Mané Garrincha, e na Granja do Torto.
“É um sentimento de mudança. Isso é muito marcante na vida de todo mundo que compreendeu o que estava em jogo e se dedicou a fazer com que esse momento se tornasse real”, afirma a vice-presidente do PT-DF, Rosilene Corrêa, uma das responsáveis pela infraestrutura.
“Por isso tem tanta gente vindo de tão longe, apesar do medo. Tanta gente querendo chegar aqui para viver essa emoção de perto. Mesmo sabendo que não vai chegar perto do presidente, quer estar aqui.”
O movimento também animou a Secretaria de Turismo do DF. “Nós sabemos que muitos brasileiros ainda não visitaram a capital do país, então é uma grande oportunidade”, afirma a assessora especial da pasta, Daniela Furtado.
“É uma cidade belíssima. É uma cidade segura, que vai garantir essa experiência diferente, com grandes pontos turísticos a serem visitados. A dica é para que as pessoas andem bastante, conheçam a capital.”
Há também quem mora em Brasília e passará a virada (ou mais dias) fora do próprio apartamento.
Amanda Borges é turismóloga e anunciou seu apartamento de um quarto na noite do dia 19 de dezembro em uma plataforma online. Na manhã seguinte, já existiam duas propostas para alugar o espaço.
“Duas pessoas mandaram mensagem praticamente implorando, porque não estavam conseguindo lugar para ficar e os hotéis estavam muito caros”, conta ela, que acabou fechando com um casal que ficará do dia 31 ao 3.
Ela, que também organiza um evento de couchsurfing (plataforma de hospedagem gratuita para viajantes), conta ainda que teve dificuldade para conseguir uma casa de amigo para ficar nesse período, porque outros também cederam a própria residência a viajantes para conseguir uma verba extra.
Para a posse, mais de 60 delegações de outros países estão confirmadas no evento, que contará com a presença de ao menos 30 chefes de Estado.
A Inframérica, que administra o aeroporto de Brasília, estima que cerca de 150 mil passageiros passem pelo local de 30 de dezembro a 2 de janeiro.
Mesmo assim, a taxa de ocupação dos hotéis está abaixo do que costuma ser para transições de governo, segundo o presidente da Abih (Associação Brasileira da Indústria dos Hotéis) do Distrito Federal, Henrique Severien.
De acordo com ele, em anos de posse, normalmente os hotéis apresentam taxa de ocupação de 95% na sexta anterior ao Natal -mas neste ano, a taxa estava em 84% na mesma data.
“É razoável dizer que o conjunto de notícias, aliados a fatores econômicos, como passagens caras e diárias também no patamar máximo, influencia bastante a decisão das pessoas de vir ou não a Brasília”, diz.
Esse conjunto, acrescenta, são os atos de vandalismo por parte de bolsonaristas na noite de 12 de dezembro, como também a série de ameaças de bomba, além do acampamento permanente de manifestantes em frente ao quartel-general do Exército.
Severien afirma que a noite de vandalismo, inclusive, serviu de aviso para todos os hotéis, que desde então estão trabalhando em alerta. “Aquilo nos fez entender que a posse já tinha começado muito antes do dia 31”.
Ele lembra ainda que, na ameaça de bomba no setor hoteleiro (que era falsa), foi acionado o protocolo de segurança máximo, com toda a área evacuada com sucesso. E diz que o setor fez reuniões com as autoridades e está com protocolos excepcionais, como os aplicados em megaeventos, na posse.
“No final, a rede hoteleira está até que bem, porque em outras viradas de ano, Brasília mal chega a 50% de ocupação”, completa.
Além dos ritos tradicionais, como o desfile do presidente e do vice eleitos pela Esplanada dos Ministérios e a colocação da faixa, a cerimônia deste ano contará com um festival de música com mais de 50 atrações.
O evento -batizado de Festival do Futuro- terá shows de artistas de samba, pop, funk e MPB, como Martinho da Vila, Odair José, Maria Rita, Chico César, Geraldo Azevedo e Pablo Vittar.
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