Após Bolsonaro compartilhar vídeo, PT vê motivo para impeachment, mas evita defesa pública
"Quem pode realmente garantir a democracia no Brasil é o povo nas ruas", afirma a nota do partido
O impeachment do presidente Jair Bolsonaro deixou de ser tabu no PT, mas o partido ainda prefere evitar sua defesa em público.
A avaliação no partido é que já é possível fazer uma argumentação jurídica de que o presidente cometeu crime de responsabilidade.
O problema, na visão interna, é que não haveria ainda condições realistas para iniciar uma campanha pelo afastamento do presidente.
O apoio do mercado financeiro e de parte do empresariado e da classe média às reformas econômicas ainda dá fôlego a Bolsonaro. Seria preciso esperar uma piora substantiva no humor popular para o impeachment ter chance de prosperar.
Nesta quarta-feira (26), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou membros da cúpula petista e entidades aliadas para discutir a resposta do partido aos seguidos ataques de Bolsonaro ao Congresso, Supremo, imprensa e agentes políticos de forma geral.
Participaram representantes da direção nacional e lideranças como o ex-prefeito Fernando Haddad. Também estiveram na reunião a CUT e movimentos sociais. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, que não estava em São Paulo, se fez presente por meio de videoconferência.
A reunião resultou numa nota, que diz que “o novo ataque de Jair Bolsonaro à democracia e às instituições é mais uma etapa da escalada que passou pelo golpe do impeachment de Dilma Rousseff e pela prisão e cassação da candidatura de Lula”.
O PT marcou três atos para março: dia 8, em prol das mulheres, dia 14, para marcar os dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e dia 18, em defesa da democracia. Além disso, na próxima terça-feira (3), partidos de esquerda vão se reunir para debater uma estratégia conjunta de reação ao presidente.
“Quem pode realmente garantir a democracia no Brasil é o povo nas ruas”, afirma a nota do partido. “É assim que mostraremos nossa indignação com a situação do país, enfrentando Bolsonaro e seu governo neoliberal de extrema-direita.”
Até agora, o partido vinha criticando a administração Bolsonaro, mas evitando a defesa do impeachment.
A orientação partiu do próprio Lula, que, ao deixar a prisão, em novembro do ano passado, descartou a defesa do afastamento do presidente. Em discurso em São Bernardo do Campo, argumentou que o partido não deveria defender um impeachment em bases frágeis, como julga ter sido o caso do processo contra Dilma, em 2016.
Com o acúmulo de declarações polêmicas do presidente, o assunto vem lentamente ocupando espaço no partido.
Nesta quarta (26), o líder do PT no Senado, Rogerio Carvalho (SE), disse que Bolsonaro pode ter cometido um crime de responsabilidade, o que poderia levar a um pedido de impeachment.
Haddad também se referiu às declarações do presidente como crime de responsabilidade, após ele ter repassado um vídeo convocando para manifestação em 15 de março.
O ex-prefeito, contudo, não defendeu o afastamento de Bolsonaro. “Impeachment é algo muito complexo, envolve uma dimensão política que norteia toda e qualquer reação”, afirmou.
Para ele, mais importante é o Congresso reagir às agressões. “Se o Congresso não tiver uma reação à altura, é algo tão grave quanto a mensagem que o Bolsonaro repassou”, afirmou.
Na mesma linha, o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, defende cautela. “Motivos para impeachment não faltam, mas precisamos avaliar com cuidado as condições antes de usarmos essa palavra de ordem”.
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