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Ato contra Bolsonaro no 15 de novembro fracassa, e oposição vê desmobilização das ruas

Líderes de movimentos sociais e de partidos, no entanto, rejeitam a avaliação de fracasso, defendem o legado das manifestações ocorridas desde maio e projetam a retomada das ações de maior impacto para 2022


Por Folhapress Publicado 13/11/2021
Foto: Matheus W Alves/Futura Press/Folhapress

Sem a ampliação ideológica nos bastidores e com a perda de fôlego dos participantes, a oposição a Jair Bolsonaro desistiu de sair às ruas contra o presidente no feriado da Proclamação da República, na próxima segunda-feira (15), e começou a admitir o fim do ciclo de grandes marchas.

Líderes de movimentos sociais e de partidos, no entanto, rejeitam a avaliação de fracasso, defendem o legado das manifestações ocorridas desde maio e projetam a retomada das ações de maior impacto para 2022, apesar das incertezas e da crescente contaminação pela disputa eleitoral.

Por ora, o retorno das passeatas críticas a Bolsonaro será no próximo sábado (20), Dia da Consciência Negra. Atos de entidades da causa antirracista vão incorporar a bandeira contrária ao governo, sob o mote “fora, Bolsonaro racista”, em esforço para garantir o protagonismo do combate ao preconceito.

Articuladora de seis manifestações no Brasil e no exterior ao longo do ano, a Campanha Nacional Fora Bolsonaro –fórum de organizações e partidos sobretudo à esquerda– evita tratar o 20 de novembro como sua sétima mobilização e diz estar se somando à iniciativa dos coletivos negros.

“Fazendo uma avaliação realista, as possibilidades de impeachment neste momento são muito remotas”, diz Raimundo Bonfim, da CMP (Central de Movimentos Populares), ligada ao PT e uma das principais agitadoras. Para ele, a blindagem a Bolsonaro no Congresso arrefeceu as ruas.

O número de manifestantes chegou ao teto, na visão de organizadores, que apontam a necessidade de expandir o perfil do público. O diagnóstico foi o de que as marchas atraíram gente da militância e da classe média urbana, sem conseguir seduzir faixas mais pobres e moradores de periferias.

A esperança de reeditar no 15 de novembro um palanque diverso e representativo como nas Diretas Já, o movimento pelo voto direto para presidente que aproximou políticos divergentes, artistas e nomes da sociedade civil no fim da ditadura militar (1964-1985), acabou frustrada diante dos conflitos e impasses.

A ideia de aproveitar a data cívica surgiu como reação aos atos de tom golpista organizados por Bolsonaro e apoiadores no 7 de Setembro. Nomes da oposição pensavam ser capazes de agregar líderes políticos e sociais de peso, avançando em relação ao levante convocado para 2 de outubro.

O cenário, porém, estava cada dia mais desfavorável. Uma das causas foi a fragmentação no segmento da esquerda, dividida entre as pré-candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT) para o Planalto no ano que vem, e a resistência à participação de forças à direita.

A avenida Paulista, por exemplo, foi palco de agressões de militantes do PCO a filiados do PSDB e de vaias a Ciro durante discurso do presidenciável. Os episódios ocorreram nos atos capitaneados por siglas como PT e PSOL e entidades do chamado campo progressista.

O único protesto puxado por grupos à direita, como o MBL (Movimento Brasil Livre), o VPR (Vem Pra Rua) e líderes de partidos como Novo e PSL, foi um fiasco. Ficou marcado pela ausência da esquerda e pelo boicote de alas do PT, irritadas com o slogan “nem Bolsonaro nem Lula” usado na divulgação.

“O sentimento é de que era possível ter uma frente ampla nos protestos e não aconteceu porque a oposição falhou. Tomara que a gente não tenha que pagar por isso no ano que vem”, diz Marco Martins, líder estadual do movimento Acredito e um dos que vinham trabalhando pela aproximação.

“É inegável também uma certa estafa do fim do ano. E há o desânimo de algumas pessoas, de terem se dedicado tanto e as coisas não terem andado. Mas acho que as mobilizações ainda vão continuar”, completa ele.
A proposta do 15 de novembro ganhou impulso a partir de uma reunião com porta-vozes de nove siglas (PT, PSOL, PC do B, PSB, PDT, Rede, PV, Cidadania e Solidariedade) feita dias após as marchas bolsonaristas do feriado da Independência.

O Direitos Já, fórum com representantes de 18 siglas –do PT ao PSDB, passando por MDB, DEM e Cidadania–, endossou a ideia e pregou a inspiração nas Diretas Já. O coordenador do grupo, Fernando Guimarães, defendia algo nos moldes de um festival, com shows e personalidades.

Segundo ele, a manifestação não foi cancelada, apenas adiada, mas ainda sem nova data. “A tendência é que esse tipo de ato político volte a ganhar força em 2022. É um ano em que a sociedade terá uma agenda política e o importante papel de decretar se teremos eleições em um ambiente democrático ou mais quatro anos de autoritarismo no país”, diz o sociólogo.

Para Guimarães, as rixas que sabotam a coesão nas ruas podem ser superadas. “Até mesmo as Diretas tiveram suas pedras no caminho, que foram vencidas. É algo muito mais relacionado à forma como se convoca. Um ato não pode ser chamado de maneira que exclua, mas, sim, que agregue.”

Uma das razões para a desarticulação do 15 de novembro foi a proximidade com o Dia da Consciência Negra, que já tinha atividades previstas. Também houve o temor de adesão baixa durante o feriado prolongado e de coincidência com atos bolsonaristas –que também não se confirmaram.

“Os protestos do dia 20 são uma tradição do movimento negro. E, por serem contra o racismo, pela vida do povo negro, naturalmente são contra este governo da morte. É um ato que exige o ‘fora, Bolsonaro'”, diz Douglas Belchior, da Coalizão Negra por Direitos, que integra a Campanha Fora Bolsonaro.

“Todas as ações dele enquanto chefe da nação foram de ataque à vida do povo negro, com seu discurso que autoriza e estimula a violência das polícias, além do desmonte social do Estado, que nos atinge diretamente. A gestão da pandemia foi de radicalização do genocídio da população negra.”

Uma outra manifestação temática está sendo preparada para 4 de dezembro por entidades do segmento de mulheres que compõem a campanha. Bolsonaro será criticado sob o ponto de vista de coletivos feministas, que dizem querer ressaltar medidas do presidente prejudiciais às brasileiras.

“Não vejo o atual momento como o fim da Campanha Fora Bolsonaro”, diz Bonfim, da CMP. “O impeachment era um objetivo, mas tínhamos e temos outros, como denunciar a fome, o desemprego, o autoritarismo, os crimes durante a pandemia, a política econômica fatal para os mais pobres.”

O ativista admite, entretanto, ser praticamente impossível ver neste ano outra manifestação com a estrutura e o alcance das feitas até outubro. “A não ser que ocorra algo extraordinário.”

Bonfim diz que um dos méritos da campanha foi retirar dos movimentos bolsonaristas a exclusividade sobre as ruas. Durante os primeiros meses de pandemia, somente apoiadores do governo estavam se reunindo. “A atuação do campo progressista criou um fato político”, analisa.

Em linha com esse pensamento, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) afirmou em artigo no jornal Folha de S.Paulo na segunda-feira (8) que “é mais do que necessário continuar apostando nas ruas, aumentando a mobilização popular e a ação nas redes sociais pelo ‘fora, Bolsonaro'”.

O parlamentar escreveu que a manutenção da agenda contrária ao Planalto “é fundamental, não só para brecar a agenda conservadora, mas também para combater e inibir a milicianização da política e enfrentar a onda de mentiras propagadas com o apoio de empresários criminosos”.

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