‘Histeria injustificada’, diz chefe da embaixada do Brasil nos EUA sobre repercussão da Amazônia
Nestor Forster alinhou publicamente seu discurso ao do Planalto e disse nesta quarta-feira (28) que é "desonesto" relacionar as queimadas na Amazônia à política ambiental do governo
O encarregador de negócios da embaixada do Brasil nos EUA, Nestor Forster, alinhou publicamente seu discurso ao do Planalto e disse nesta quarta-feira (28) que é “desonesto” relacionar as queimadas na Amazônia à política ambiental do governo Jair Bolsonaro. Segundo o embaixador, a repercussão internacional negativa dos incêndios na floresta é uma “histeria injustificada.”
Em entrevista para a NPR (Rádio Pública Nacional, na sigla em inglês), Forster afirmou que a Amazônia não deve servir apenas para o turismo de europeus e que o problema na região é ambiental e não político.
“No último mês de junho tivemos a maior operação conduzida contra desmate ilegal. A maior já feita, em junho, antes da primeira manchete dizendo que a Amazônia está queimando e toda essa histeria injustificada, se me permite dizer”, afirmou Forster.
“Baseado em fatos, se as queimadas estão dentro da média dos últimos 15 anos, por que toda a gritaria agora? Tentar ligar isso ao presidente Bolsonaro parece desonesto para mim.”
Próximo ao ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e ao polemista Olavo de Carvalho, guru ideológico do governo, o diplomata era o favorito para assumir a embaixada brasileira em Washington antes de Bolsonaro anunciar que indicará seu filho mais novo, Eduardo, para o posto.
Assim como o presidente, Forster afirmou que as queimadas fazem parte de um “fenômeno sazonal que acontece na época mais seca na Amazônia”, com números dentro ou até mesmo abaixo da média dos últimos anos, mas que o governo reconhece a gravidade do cenário.
“O presidente Bolsonaro fez um pronunciamento à nação na última sexta-feira na televisão dizendo que mobilizaria 43 mil tropas para prover suporte logístico para os que estão em campo lutando contra o fogo.”
Segundo dados do próprio governo, porém, o desmatamento cresceu e os focos de incêndio aumentaram 82% em relação ao ano passado e eram os maiores dos últimos sete anos no período que abrange janeiro a agosto.
Bolsonaro tem sido acusado pelos adversários de estar conduzindo uma política ambiental negligente, com diminuição das multas e fiscalização.
Mas o mandatário brasileiro sustenta a tese de que há um interesse internacional na floresta e se escora na teoria de soberania nacional para defender os interesses da região.
Na entrevista desta quarta, o embaixador em Washington ecoou a mesma linha e disse que não quer ver a Amazônia “rodeada de grandes fãs europeus com dinheiro que vão durante as férias visitar a fauna exótica enquanto 25 milhões de brasileiros estão lá sem oportunidade.”
As queimadas na Amazônia levaram o Brasil ao centro de críticas de diversos países da Europa, liderados pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Ele afirmou que as queimadas eram uma crise internacional e que o G7, grupo de países ricos e industrializados, deveria discutir as soluções do problema durante reunião no fim de semana passado.
Macron anunciou uma ajuda de R$ 83 milhões para o combate às queimadas ao final da cúpula, o que foi inicialmente recusado por Bolsonaro. O presidente brasileiro, porém, voltou atrás e disse que aceitaria o dinheiro se Macron retirasse o que considerava como “insultos” à soberania brasileira.
Forster, por sua vez, disse que o país está aberto à cooperação internacional “desde que não tenha nós atados.”
“Não gostamos de ver pessoas com ‘a Amazônia pertence ao mundo, à humanidade”. Não, a Amazônia dentro das fronteiras brasileiras, pertence aos brasileiros.”
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