PSL decide expulsar deputado Alexandre Frota após críticas a Bolsonaro
"A decisão foi pela desfiliação do deputado", afirmou o presidente da legenda, Luciano Bivar (PE)
O PSL decidiu em reunião nesta terça-feira (13) expulsar o deputado Alexandre Frota (SP) da legenda. Eleito na onda do bolsonarismo para o primeiro mandato, com 156 mil votos, Frota não tem poupado críticas ao presidente Jair Bolsonaro.
“A decisão foi pela desfiliação do deputado”, afirmou o presidente da legenda, Luciano Bivar (PE).
Segundo ele, Frota, que era filiado ao PSL desde abril de 2018, foi enquadrado em artigo do regimento que fala sobre desalinhamento partidário. A reportagem tentou contato com Frota, mas não conseguiu localizá-lo.
Segundo Bivar, a expulsão está relacionada às declarações do deputado sobre o presidente Bolsonaro e sobre seus correligionários, e não a seu voto na reforma da Previdência.
No segundo turno da votação, na Câmara, ele foi o único deputado do partido que se absteve de votar. De acordo com a cúpula do PSL, a decisão pela expulsão foi unânime dentre os presentes na reunião.
“Foi um sentimento da executiva nacional do partido, de que não foi a primeira vez que ele vem se comportando dessa forma apesar de já termos conversado com ele”, disse.
Bivar afirmou que Bolsonaro não foi consultado antes da expulsão do parlamentar.
Foram 9 votos pela expulsão do deputado (dos 9 presentes, de um total de 14 membros da executiva nacional). A representação foi feita pelo próprio Bivar.
O artigo do estatuto partidário utilizado para fundamentar a desfiliação diz que “ocorre a expulsão por inobservância dos princípios programáticos, infração grave às disposições de lei e do estatuto, infidelidade partidária ou qualquer outra em que se reconheça extrema gravidade”.
Antes, o deputado teve um prazo de cinco dias para se defender. De acordo com Bivar, a defesa apresentada por Frota se baseou no direito à liberdade de expressão.
O PSL afirma que a decisão e a ata da reunião serão protocolados nesta quarta-feira (14) na Câmara e também no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Segundo o líder da bancada na Câmara, Delegado Waldir (GO), que fez parte do colegiado que determinou a saída, a desfiliação ainda não foi efetivada.
“O Frota era um excelente quadro, um soldado espetacular, mas em razão da repetição dos fatos houve uma ação legítima do presidente [Bivar]”, afirmou Waldir, um dos que votou pela desfiliação.
A situação de Frota no partido se complicou nos últimos meses, e o deputado foi retirado da vice-liderança do partido na Câmara e da comissão da reforma tributária.
Em maio, Frota criticou o filho do presidente, o também deputado federal Eduardo Bolsonaro, e questionou seu posto como presidente estadual do partido. Ele chegou a dizer que “colocaria fogo” no partido.
O deputado depois criticou a indicação de Eduardo para o posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
Ele chegou a ser o coordenador do PSL na comissão especial da Previdência e se consolidou como um dos principais articuladores do partido na questão, o que levou a uma aproximação sua com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Expulso, Frota não poderá ser acusado de infidelidade partidária e pode buscar outra legenda. Segundo informou a coluna Painel, duas novas casas possíveis são o PSDB e o DEM. O parlamentar chegou a ser convidado para a legenda de Maia, mas ainda não há definição.
Em abril, em entrevista à Folha de S.Paulo, Frota já havia feito uma série críticas ao governo, num reflexo das dificuldades do Executivo com o Congresso após cem dias de mandato.
Integrante da tropa de choque de Bolsonaro (PSL) durante a campanha de 2018, o deputado disse que o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, era o maior responsável pela falha na articulação política.
Ainda segundo Frota, o escritor Olavo de Carvalho, que deveria ter tido seu espaço reduzido por Bolsonaro, tinha mais influência do que os militares.
Logo no início do mandato, o deputado esmagou uma laranja na tribuna do plenário da Câmara ao comentar as acusações contra seu partido, que vive uma crise após a Folha de S.Paulo revelar esquema de candidaturas de laranjas do PSL.
“Laranja podre, no PSL, será esmagada”, disse Frota, esmagando com a mão a fruta que retirou do bolso ao final do discurso.
Como ator, Frota estrelou novelas da Globo (“Roque Santeiro”), pornôs (“Bad Boy” e extenso cardápio da produtora Brasileirinhas) e reality show (“Casa dos Artistas”). Como empresário, tentou emplacar a banda Funk Sex.
GUERRA INTERNA
A guerra interna no PSL ganhou um novo capítulo praticamente ao mesmo tempo em que se consumava a expulsão de Alexandre Frota.
Para não ser o próximo, o deputado Bibo Nunes (PSL-RS) entrou com representação no Conselho de Ética da sigla contra o presidente nacional do partido, Luciano Bivar (PE).
O motivo alegado é o fato de Bivar ter xingado Nunes numa troca de mensagens por WhatsApp.
Após Nunes ter compartilhado uma notícia referente ao caso dos candidatos laranjas, Bivar o teria mandado “tomar no cu”.
“A referida conduta é incompatível com o decoro do cargo de presidente nacional do partido que elegeu o presidente da República, Jair Bolsonaro, e não merece ficar impune”, diz a representação.
A notícia compartilhada mostrava a deputada Alê Silva (PSL-MG) cobrando explicações do caso dos laranjas, revelado pela Folha de S.Paulo.
Nunes afirmou à reportagem que Bivar se comporta como um coronel, há 21 anos no comando do partido.
“Depois que expulsou o Frota, ele vai achar que pode me afrontar, então me antecipei”, disse.
Nunes vem batendo de frente com Bivar desde o começo da legislatura. “Ele me retaliou, me tirou das comissões de Ciência e Tecnologia e Turismo e me botou em outra que ninguém conhece, não lembro nem o nome”.
Na representação, Nunes citas as possíveis punições de advertência ou até expulsão. Mas ele sabe que suas chances de sucesso são escassas. “Ele controla o partido, mas tenho que fazer minha parte”.
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