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Como as mulheres podem aprender a lidar com esgotamento e burnout?

Estudo concluiu que 30% entre mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros sofrem com burnout


Por Estadão Conteúdo Publicado 20/09/2019

Esgotamento físico, mental e emocional por conta de trabalho excessivo, acrescido de vida pessoal atribulada de obrigações e um cotidiano sem espaço para o descanso e vida saudável são apenas alguns dos sintomas de burnout. Estima-se que isso ocorra em aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros e 23% em trabalhadores do mundo inteiro, com uma tendência de aumento progressivo.

Por conta disso, a Dra. Siglia Diniz juntou sua voz às de outros profissionais da área de saúde, dentro e fora do Brasil, para alertar sobre as perigosas consequências do burnout e principalmente e seu impacto na vida das mulheres.

Estatísticas apontam que enquanto mulheres vivem 10 anos mais do que os homens na população geral, as médicas, por exemplo, vivem 10 anos a menos do que os homens médicos (dados apresentados recentemente por Dra. Carmita Abdo na Conferência Burnout – Meeting the Minds). Essas discrepâncias também ocorrem em outras profissões em que a mulher acumula funções dentro e fora de casa, tendo como base a mentalidade cultural e patriarcal de que a mulher precisa ser ‘multi-tasking’, ou seja, lidar com diversos afazeres ao mesmo tempo.

Como estudos recentes mostram, as mulheres acumulam não só funções profissionais e familiares, como também cobranças sociais sutis ao longo de sua jornada de vida, como a obrigação de parecer perfeita diante da sociedade, o mito da supermãe, perda de valor pessoal com o envelhecimento, entre outros. Como consequência, algumas buscam ‘compensar’ suas atividades e obrigações, com uma performance quase sobre-humana, para se manter relevante do ponto de vista social, pessoal e profissional. Esse tipo de mindset contribui em muito para o burnout, acarretando consequências como depressão e até suicídio.

“Burnout não é um cansaço normal resultante de uma atividade, que melhora com férias e finais de semana”, esclarece a médica. “É uma situação crônica de cansaço e tensão, em que o trabalho excessivo do ponto de vista mental, emocional e físico leva a um crescente estado de esgotamento em que a pessoa não consegue relaxar, viver de uma forma feliz e produtiva”, esclarece.

Em termos estatísticos, embora ainda exista carência de dados mais precisos, principalmente quanto à incidência do burnout de acordo com as profissões, estudo recente da International Stress Management Association (Isma) concluiu que 30% entre mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros sofrem com burnout. Esses resultados provavelmente se relacionam também ao estresse causado pelo clima de insegurança em termos de empregabilidade relacionados à crise econômica e o frágil momento político do Brasil.

Diante desse problema, quais atitudes as mulheres podem tomar para prevenir ou solucionar o burnout?

A médica afirma que antes de tudo, é preciso entender que esgotamento contínuo não é um sintoma normal, que pode ser tolerado, com a fantasia de que férias ou feriados irão proporcionar o descanso necessário para a recuperação física e mental. A partir disso, as mulheres devem buscar avaliar sua situação particular e onde podem buscar ajuda e minimizar suas jornadas e atividades.

Algumas ações simples podem ajudar a amenizar (ou até evitar) os sintomas de burnout, conforme Siglia explica:

Fazer pequenos intervalos (2 ou 3 dias) de real descanso e desconexão tanto do trabalho, como de mídias sociais, e até pequenos intervalos pessoais em que a mulher descanse longe da família e dos filhos, e de suas obrigações cotidianas

Importante que ocorra uma mudança radical de consciência e mentalidade acerca do que seja real produtividade, sucesso e bem-estar e sobre o que importa realmente na vida. Por muito tempo, até muito recentemente, se vangloriavam a vida e as agendas sempre ocupadas e sobrecarregadas como se fosse glamoroso ter um estilo de vida com estresse e falta de tempo para si própria, comenta a médica.

Incorporar atividades físicas durante a semana, alimentação saudável e equilibrada, entre outras atividades que diminuam seu nível de estresse é crucial, como por exemplo: yoga, tai chi, dança, massagem, pintura, ou seja, atividades que lhe tragam uma satisfação não relacionada ao seu trabalho

Praticar a meditação tem se mostrado muito eficaz, por seu efeito não apenas na sensação de calma que a pessoa experimenta como também por proporcionar a possibilidade de treinamento cerebral para um ‘shift’, ou seja, mudar temporariamente o funcionamento mental saindo da zona de estresse contínuo para um modo mental mais eficiente para ideias e descanso.

A médica também enfatiza a importância de promover encontros de mulheres. Esses encontros, às vezes chamados de ‘women’s circles’, são reuniões para trocar ideias, se apoiar e buscar soluções que melhorem suas qualidades de vidas e podem ocorrer semanalmente ou como retiros anuais nos. Eles promovem a oportunidade da mulher se conhecer profundamente e viver com mais autenticidade.

A própria médica tem observado a importância desses encontros desde que começou a conduzir retiros para mulheres nos quais mescla a experiência de companheirismo (sisterhood) junto a descanso, aprendizado e atividades saudáveis, como yoga e meditação, junto a Neurociência – para maiores informações siga sua newsletter aqui.

Com pesquisas recentes em Neurociência demonstrando que se submeter continuamente a rotinas de extremo cansaço e estresse traz consequências prejudiciais a longo prazo para funções mentais e físicas, é crucial entender que burnout é um problema seríssimo para mulheres, com perdas significativas do ponto de vista humano, familiar, profissional e financeiro.

Isso porque o cérebro, para compensar a necessidade de respostas rápidas e alertas, coloca-se em um estado de ondas betas que gera correspondente resposta fisiológica com um resultado a longo prazo de diminuição da capacidade de memória, qualidade de vida, de produção efetiva, e de bom funcionamento do corpo em geral.

Portanto, burnout não tem nada de glamoroso e sim é um sinal biológico de extinção gradativa da vida. É fundamental reconhecer seus sintomas de esgotamento físico e mental, mudar a mentalidade relacionada a sucesso e buscar ajuda para uma melhor qualidade de vida.

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