Insônia: estudo da USP traz novas perspectivas de tratamento e cura

Estudo da USP com 595 participantes revela que a insônia está associada a altos níveis de neuroticismo, tendo a ansiedade como fator relevante


Por Redação Educadora Publicado 13/04/2025
Insônia estudo da USP traz novas perspectivas de tratamento e cura

Insônia: estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) investiga a influência dos traços de personalidade no desenvolvimento do problema.

Dois achados chamaram a atenção: altos índices de abertura foram associados a baixos índices de insônia, enquanto o alto nível de neuroticismo (caracterizado por instabilidade emocional) foi bastante prevalente em pessoas com o distúrbio de sono.

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Os resultados estão publicados no Journal of Sleep Research.

“Decidimos estudar a influência dos traços de personalidade sobre a insônia por se tratar de um transtorno extremamente prevalente”, explica Bárbara Araújo Conway, psicóloga do sono e autora da dissertação de mestrado defendida no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM-USP.

Como explicam as autoras, a insônia é um dos distúrbios do sono mais prevalentes nos adultos.

Estima-se que cerca de 30% da população mundial sofra com o problema, caracterizado pela dificuldade de adormecer, de permanecer dormindo ou de voltar a dormir após um despertar indesejado. No Brasil, especificamente em São Paulo, esse número é ainda maior: quase metade dos paulistanos (45%) reclama de insônia, segundo dados do Estudo Epidemiológico do Sono (Episono).

Cinco traços de personalidade
De acordo com Conway, há uma teoria bem estabelecida na literatura que propõe a existência dos “3 Ps” da insônia: predisposição (fatores que tornam um indivíduo mais propenso a ter o distúrbio), precipitação (gatilhos associados ao surgimento dos sintomas) e perpetuação (comportamentos que fazem com que a pessoa se mantenha no ciclo vicioso da insônia).

Assim, os pesquisadores partiram da hipótese de que o neuroticismo, que é mais prevalente em insones, é considerado fator de predisposição ao transtorno do sono.

Além disso, eles investigaram se os sintomas de ansiedade e depressão poderiam atuar como mediadores e moderadores da associação entre o neuroticismo e a insônia.

Mas para entender como os autores chegaram aos resultados do estudo é preciso voltar um passo atrás e conhecer os traços de personalidade.

“São características, portanto, que estimam um padrão de como são os sentimentos, pensamentos e comportamentos de determinada pessoa. São um conjunto de fatores que formam a personalidade e as características do indivíduo. De acordo com a teoria Big Five, todos nós temos diferentes níveis dos cinco traços de personalidade”, explicou a psicóloga. São eles:

Extroversão: pessoas com nível de extroversão mais alto tendem a ser mais falantes, mais dominantes, com perfil de liderança. Preferem atividades em grupo, têm maior facilidade de se relacionar, de criar intimidade e costumam ser mais assertivas. Já as pessoas com baixo nível de extroversão não são necessariamente introvertidas, mas preferem ficar mais sozinhas e costumam ter mais dificuldades em trabalhar com grupos

Neuroticismo: é um traço de personalidade relacionado ao grau de estabilidade emocional. Pessoas com alto índice de neuroticismo costumam ser mais instáveis emocionalmente e tendem a focar em aspectos mais negativos da vida. São pessoas que, diante de uma adversidade, tendem a se desorganizar e sofrer mais intensamente, sendo mais suscetíveis ao estresse. A literatura científica aponta que um alto neuroticismo tem uma correlação com ansiedade e depressão

Amabilidade: é um traço de personalidade relacionado à empatia. Pessoas com altos índices de amabilidade tendem a ser mais empáticas, mais cordiais e preocupadas com o bem-estar alheio, focando muito na situação do outro (podendo até ser ingênuas e valorizarem o outro em detrimento de si próprias). Aquelas com baixos índices costumam ser mais céticas e mais desconfiadas

Abertura à experiência: a pessoa aberta a novas experiências tende a ser mais criativa, com comportamento exploratório diante da novidade. Tem interesse pelo novo, são pessoas curiosas, imaginativas e vivenciam as emoções de forma mais intensa. As pessoas com baixos índices de abertura são aquelas que preferem a rotina, evitam o desconforto e tendem a ser convencionais

Conscienciosidade: também chamada de realização. Pessoas com altos índices são determinadas, comprometidas, motivadas, perseverantes e sacrificam prazeres momentâneos em busca de um objetivo maior. Um índice muito alto pode não ser bom, porque pode levar ao perfeccionismo. Aquelas com baixos índices são menos exigentes, menos obstinadas, no senso comum seriam mais “preguiçosas”

O estudo
Para chegar aos resultados, todavia, os pesquisadores avaliaram 595 participantes, entre 18 e 59 anos, divididos em dois grupos: um formado por pacientes insones que buscaram ajuda e receberam diagnóstico formal feito por um médico especialista em sono e a outra metade era um grupo-controle, com pessoas sem queixas de insônia.

Os níveis de personalidade de cada participante, em suma, estão estabelecidos por meio de um questionário de uso exclusivo dos profissionais da psicologia, composto por 60 perguntas que estabeleceram um escore.

Os voluntários dos dois grupos responderam às questões para que os pesquisadores pudessem definir os escores dos traços de personalidade de cada um.

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