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Pesquisa descobre substância em veneno de aranha com potencial contra células de câncer

Molécula obtida por processo patenteado causou a morte de células de leucemia; instituições buscam parceria com indústria farmacêutica


Por Redação Educadora Publicado 29/03/2024
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A Vitalius wacketi é nativa do litoral de São Paulo e pertence à mesma família das tarântulas – Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan, Comunicação Einstein e Rogério Bertani

Veneno de aranha tem potencial contra células de câncer.

O Instituto Butantan e a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein identificaram uma molécula com potencial para tratar o câncer.

Trata-se der um processo inovador e extraído do veneno da aranha caranguejeira Vitalius wacketi, que habita o litoral do Estado de São Paulo.

Removendo eventuais contaminantes e potencializando seu efeito, portanto, a substância foi capaz de eliminar células de leucemia em testes in vitro.

Estudos em andamento

Fruto de mais de 20 anos de estudos, a ferramenta que resultou na obtenção da molécula está patenteada.

Agora, a pesquisa está madura o suficiente para alçar novos estágios de desenvolvimento, com novos parceiros.

A síntese da substância feita, em suma, pelo grupo do pesquisador Pedro Ismael da Silva Junior, permite obtê-la sem precisar extrair o veneno do animal.

“Observamos que a versão sintética mantém a atividade antitumoral detectada na toxina natural do veneno”, afirma o cientista do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Butantan.

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Pedro Ismael, pesquisador do Butantan, é especialista em sintetizar moléculas extraídas da natureza com potencial terapêutico

Pesquisa descobre substância em veneno de aranha com potencial contra células de câncer

Um dos grandes diferenciais do composto é que ele consegue matar as células tumorais por apoptose (morte programada), e não por necrose.

Isso significa que a célula se autodestrói de forma controlada, sem causar uma reação inflamatória, diferente do mecanismo de grande parte dos medicamentos quimioterápicos hoje disponíveis.

“A morte por necrose é uma morte não programada na qual a célula colapsa, levando a um estado inflamatório importante”, explica o pesquisador do Einstein Thomaz Rocha e Silva.

Já na apoptose a célula tumoral sinaliza ao sistema imune que está morrendo, para que ele remova posteriormente os fragmentos celulares.

Existem outras estratégias no mercado capazes de induzir apoptose em células de câncer, como os anticorpos monoclonais, por exemplo, mas são tecnologias que exigem grande investimento.

De acordo com Thomaz, a nova molécula é pequena e o processo de síntese é muito mais simples e mais barato, o que pode facilitar uma eventual ida ao mercado e acesso ao produto.

“Outra vantagem é que, devido ao baixo peso molecular, não há problema de imunogenicidade – quando uma substância estranha no organismo provoca uma reação do sistema imune”, completa Pedro.

O composto consegue eliminar, inclusive, células leucêmicas resistentes a quimioterápicos. O próximo passo é fazer testes em células de câncer de pulmão e de ossos.

Além disso, a tecnologia será estudada em células humanas saudáveis para confirmar se não há toxicidade, isto é, se ela é seletiva e danifica somente as células cancerosas.

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O cientista Thomaz Rocha e Silva, do Einstein, testou a molécula contra células de leucemia

Devido ao potencial da invenção, as instituições patentearam o processo de produção da molécula.

O objetivo é licenciar a tecnologia para uma empresa com capacidade de produzir em maior escala e desenvolver testes em animais – e, futuramente, em humanos, caso se prove segura e eficaz.

“Já fizemos um mapeamento de potenciais interessados e estamos, portanto, em contato com algumas empresas”, diz o diretor de Inovação do Butantan, Cristiano Gonçalves.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer é a segunda maior causa de morte no mundo.

É responsável por cerca de 9,6 milhões de óbitos anualmente.

“Com uma população em envelhecimento, a tendência é que na próxima década o câncer se torne a principal causa de morte”, aponta Thomaz.

“Somos, todavia, um ecossistema de inovação em saúde”, afirma Denise Rahal, gerente de parcerias e operações da diretoria de inovação do Einstein.

União de especialidades

A molécula obtida da aranha Vitalius wacketi é uma poliamina, um tipo de toxina abundante nos venenos.

A equipe do pesquisador do Butantan Pedro Ismael é especializada em sintetizar moléculas extraídas da natureza para testar sua atividade contra microrganismos .

O cientista tem se dedicado, principalmente, ao estudo de substâncias provenientes da peçonha e do sangue de aranhas.

A purificação da molécula, em suma, é possível graças a uma nova técnica de cromatografia desenvolvida por Thomaz em 2010.

Ele estuda, portanto, a atividade biológica do veneno de aranhas caranguejeiras há cerca de 20 anos.

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