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Caminhoneiros iniciam atos no país, mas adesão à greve é incerta

Grupos iniciaram neste domingo (25) atos em protesto contra sucessivos aumentos no preço do óleo diesel no país; ainda não há clareza sobre a possibilidade de a paralisação ganhar corpo nos próximos dias


Por Folhapress Publicado 25/07/2021
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Grupos de caminhoneiros iniciaram neste domingo (25) atos em protesto contra sucessivos aumentos no preço do óleo diesel no país. As manifestações também buscam garantir a cobrança do piso mínimo do frete. A mobilização começa a ser registrada após o CNTRC (Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas) convocar uma greve a partir deste domingo, quando é celebrado o Dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas. Contudo, ainda não há clareza sobre a possibilidade de a paralisação ganhar corpo nos próximos dias.


As incertezas estão relacionadas ao fato de a categoria ser representada por entidades diversas no país. Nos últimos dias, o debate sobre uma eventual greve dividiu motoristas, já que nem todas as organizações manifestaram apoio ao movimento. No fim da tarde deste domingo, ainda era possível ler em grupos de WhatsApp da categoria mensagens indicando dúvidas sobre o início da paralisação.

À Folha o presidente do CNTRC, Plínio Dias, disse que caminhoneiros realizaram atos em pelo menos 15 estados, incluindo Paraná, Rio Grande do Sul e Ceará, ao longo do dia. Segundo o dirigente, os motoristas estacionam seus veículos em postos de combustíveis localizados às margens das rodovias. Eles carregam faixas contra o aumento nos custos de transporte, mas não interrompem o tráfego nas estradas, acrescenta Dias.

Ele acredita que a mobilização tenda a ganhar corpo no início da semana, dando sustentação para uma greve. Dias, contudo, evita projetar quantos participantes o movimento poderia somar nos próximos dias. “A categoria está achando um absurdo o aumento do combustível. A gente não sabe quando o preço vai aumentar. Quando percebe, já subiu. Tem a questão do frete também”, afirmou.

“A categoria já está aderindo [à paralisação]. Em pelo menos 15 estados o pessoal está se mobilizando. A gente encosta os caminhões em postos nas rodovias, estica faixas e vai chamando a galera”, completou.

A categoria deseja o fim do chamado PPI (Preço de Paridade de Importação) no cálculo dos combustíveis vendidos pela Petrobras. Essa política acompanha as variações de preços no mercado internacional e é afetada pelo dólar. A medida busca manter a petrolífera competitiva perante o mercado, mas pode encarecer os combustíveis e impactar o bolso dos caminhoneiros.

Ao final de junho, a Petrobras anunciou uma reunião com a diretoria do CNTRC. “O transporte modal rodoviário é muito importante para o Brasil. A Petrobras busca compreender os atores da sociedade, avalia a melhor forma de contribuir com todos eles e está sempre aberta ao diálogo”, disse na ocasião o presidente da estatal, general Joaquim Silva e Luna, em nota.

Em nota, na semana passada, o Ministério da Infraestrutura disse que CNTRC “não é entidade de classe representativa para falar em nome do setor do transporte rodoviário de cargas autônomo e que qualquer declaração feita em relação à categoria corresponde apenas à posição isolada de seus dirigentes”.

Os caminhoneiros também desejam a fiscalização dos preços de frete, que são tabelados e contam com um nível mínimo desde 2018, quando o então presidente Michel Temer (MDB) atendeu a essa demanda. Ainda hoje, a medida aguarda julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal).

Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), apoia a greve neste momento. Ele menciona que parte da categoria já começou a se mobilizar neste domingo e aposta em um crescimento dos atos a partir desta segunda-feira (26). O dirigente, entretanto, diz que é difícil estimar qual será o tamanho da adesão nos próximos dias.

“O pessoal está começando a parar. Demonstra a intenção da categoria. Mas é difícil estimar isso [a adesão]”, relata. Em São Paulo, caminhoneiros da Baixada Santista decidiram aderir à paralisação após reunião de autônomos no sábado (24). Motoristas do Vale do Paraíba, em cidades como São José dos Campos e Pindamonhangaba, também afirmaram que devem protestar na segunda pela manhã.

Alexsandro Viviani, caminhoneiro da Baixada Santista, diz acreditar na força dos protestos, que em sua região tem início previsto para a meia-noite de segunda. “O pessoal está cada dia mais insatisfeito”, afirma. No Nordeste, motoristas começaram algumas paralisações no fim da tarde de domingo. Em Brejo Santo (CE), caminhoneiros colocaram pneus na estrada para sinalizar a parada.

Em um grupo de WhatsApp da região, motoristas publicaram vídeos destacando o horário e a data, para sinalizar que são atuais, mostrando a concentração em clima de preparação para a greve.Algumas entidades decidiram não aderir ao movimento, apesar de apoiarem as pautas discutidas. A Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores), comandada por Wallace Landim, conhecido como Chorão, figura política da categoria que tomou a frente na greve de 2018, diz que a pauta não é só dos caminhoneiros, mas de toda sociedade.

“Tendo em vista que as consequências dos aumentos dos combustíveis hoje são mais graves que a da paralisação dos caminhoneiros de 2018 que parou o Brasil, a Abrava está trabalhando para que tenhamos uma paralisação mais consciente”, apontou em nota.

O presidente Jair Bolsonaro iniciou o mandato com os caminhoneiros como importante base de apoio. Após recentes desgastes, tem feito acenos à categoria.

Em maio, Bolsonaro assinou dois decretos e três medidas provisórias com benefícios para os caminhoneiros. Um dos lançamentos foi o Gigantes do Asfalto, instrumento de coordenação, articulação e incentivo a programas voltados para o setor. Ele também anunciou a redução para zero da tarifa de importação de pneus “para os caminhoneiros que passam dificuldades”.

Mesmo assim, mensagens e vídeos compartilhados em grupos mostram descontentamento de parcelas da categoria com o governo. Desde que conseguiu emplacar a histórica greve de 2018, caminhoneiros enfrentam discordâncias. Naquele ano, os trabalhadores pararam as estradas por 9 dias e chegaram a erguer pelo menos 557 pontos de bloqueio nas vias.

Houve desabastecimento à época, e 13 aeroportos ficaram sem combustível. Eles conseguiram a redução do preço do diesel em R$ 0,46 na bomba por 60 dias e isenção de cobrança de pedágios por eixo suspenso em todas as rodovias.

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