Morre o cantor e compositor João Donato, ícone da MPB, aos 88 anos
O artista enfrentava uma série de problemas de saúde e recentemente tratou uma infecção nos pulmões
O cantor João Donato morreu aos 88 anos, nesta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro. O artista enfrentava uma série de problemas de saúde. Recentemente, o músico tratou uma infecção nos pulmões.
De acordo com o filho, Donatinho, o compositor estave internado há cerca de duas semanas. “Vim passar uns dias para mimar o Big Donato, agora que ele teve alta do hospital. Ele pediu para eu cozinhar um dos pratos preferidos dele, o Spagabola (mais conhecido como Spaguetti a Bolognesa)”, publicou, no dia 30 de junho, no Instagram.
TRAJETÓRIA
João Donato de Oliveira Neto, mais conhecido como João Donato, nasceu em 1934 em Rio Branco, no Acre. A paixão pela música começou ainda na infância.
Anos depois, em 1945, a família se mudou para o Rio de Janeiro. À época, as primeiras apresentações no palco aconteceram em festas de colégio.
Já a primeira gravação profissional foi como integrante da banda do flautista Altamiro Carrilho. Tempos depois, ele passa a trabalhar com o violinista Fafá Lemos, como suplente de Chiquinho do Acordeom.
O artista frequentou o Sinatra-Farney Fã Clube, na Tijuca, por 17 meses. O local é considerado uma das principais escolas para a geração que criaria o movimento que ficaria conhecido como Bossa Nova.
Donato teve contato com os principais nomes do movimento, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, João Gilberto e Johnny Alf.
Embora tenha moldado a MPB nos anos 1960 e 1970 com a elegância do seu piano, e contribuído com grandes clássicos, muitos com colaborações de peso na letra — como “A Rã” (Caetano Veloso), “Bananeira”, “A Paz (Leila IV)” e “Emoriô” (Gilberto Gil) —, Donato não foi um medalhão midiático e nunca fez parte do dito “esquema”.
Ele soube disso quando gravou “Quem é Quem” em 1973, no Brasil, após uma temporada nos Estados Unidos. Com som próprio, meio bossa-nova, meio jazz (mas sempre temperado com molho latino) foi cultuado por músicos, e o álbum, listado entre os 100 melhores discos brasileiros da revista “Rolling Stone”. Na hora de lançá-lo, ouviu do dono da gravadora que o trabalho não entraria no “esquemão” de outros artistas.
“Então não vai ter nenhum esquema”, pensou Donato. “Um amigo meu me disse: ‘Se eu fosse você, pegava uma caixa de discos na divulgação, ia ao Outeiro da Glória [morro do Rio de Janeiro], jogava os discos lá de cima e pedia para a televisão filmar'”. Ele obedeceu. Com as câmeras apontadas, jogou cópias de “Quem é Quem” para o alto. “Lancei a meu modo”, relembrou, gargalhando, em entrevista ao UOL em 2016.
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