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Aedes aegypti: entenda como os vírus podem se adaptar a diferentes mosquitos

O atual surto de dengue, que já ultrapassa 6,5 milhões de casos prováveis e 5,4 milhões confirmados só em 2024, reforça a importância de medidas como a vacinação


Por Redação Educadora Publicado 22/09/2024
Aedes aegypti entenda como os vírus podem se adaptar a diferentes mosquitos

Mesmo quem não é especialista em mosquito conhece bem – ou ao menos já ouviu falar – do Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya no Brasil.

O atual surto de dengue, que já ultrapassa 6,5 milhões de casos prováveis e 5,4 milhões confirmados só em 2024, reforça a importância de medidas como a vacinação e a eliminação de criadouros para reduzir a circulação do vetor.

Em meio a tantas doenças transmitidas por mosquitos, fica a dúvida: por que os vírus infectam algumas espécies e outras não? Será que outros mosquitos também podem se tornar uma ameaça no futuro?

As respostas, segundo a bióloga e especialista em mosquitos Rafaella Sayuri Ioshino, que faz pós-doutorado no Laboratório de Parasitologia do Instituto Butantan, estão nas características evolutivas do inseto e nas mutações virais: “O Aedes aegypti se infecta porque existe uma interação entre as suas proteínas e as dos vírus. Como chave e fechadura, esse reconhecimento entre as proteínas permite que o vírus entre nas células do mosquito”, explica.

Esse processo ocorre quando a fêmea do mosquito, que precisa de sangue para produzir seus ovos, se alimenta de uma pessoa infectada. O sangue fica armazenado no intestino médio do inseto, onde é digerido, e as partículas virais infectam as células daquele tecido. O vírus então começa a se replicar e atinge a hemolinfa (circulação), infectando tecidos secundários como a glândula salivar. Ao picar outra pessoa, o mosquito transmite as partículas virais por meio da saliva.

Quando o ser humano infectado é picado por uma espécie que não tem capacidade de transmissão (ou seja, as proteínas virais não reconhecem as proteínas do mosquito), o vírus acaba morrendo dentro do mosquito por não conseguir entrar nas células – ambiente indispensável para sua sobrevivência.

No entanto, mutações podem permitir que os vírus se repliquem em outras espécies de mosquito. O problema se intensifica quando insetos periurbanos ou silvestres se adaptam às regiões urbanas e, consequentemente, atingem um maior número de pessoas – como é o caso do Aedes aegypti. Cada fêmea pode colocar em média 100 ovos, chegando a uma média de 400 por mês. No atual surto de dengue, Rafaella conta que chegou a coletar 2 mil larvas em uma única área comercial.

Outros mosquitos podem gerar preocupação
Embora o Aedes aegypti seja o principal transmissor da dengue no Brasil, ele não é o único mosquito que transmite doenças. O Aedes albopictus, por exemplo, é o principal vetor da dengue no sudeste asiático. No Brasil, essa espécie ainda predomina no meio silvestre, mas têm migrado para regiões periurbanas (entre espaços rurais e áreas urbanas) e pode, eventualmente, se adaptar às cidades como o Aedes aegypti.

“Nas coletas de larvas realizadas no meio urbano, costumávamos encontrar somente a espécie Aedes aegypti. Hoje, já conseguimos coletar as espécies Aedes albopictus ou Aedes fluviatilis, por exemplo”, aponta a bióloga Rafaella Ioshino.

Outro arbovírus que tem chamado atenção é o vírus da Febre do Oropouche, que tem causado um surto no Amazonas desde o início do ano. Ele pode ser transmitido no meio urbano pelo Culex quinquefasciatus, o pernilongo comum, e no meio silvestre pelo Culicoides paraensis (maruim). A doença é semelhante às outras arboviroses e costumava aparecer em casos isolados nos estados da região amazônica, mas novos casos têm sido registrados em outros estados, como Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Piauí, Roraima, Minas Gerais, Amapá, Bahia e Pernambuco.

Diante da possibilidade de patógenos infectarem novos mosquitos e do impacto das mudanças climáticas na proliferação desses insetos, que têm aparecido em regiões onde antes não circulavam, a especialista ressalta que a colaboração da população é essencial para reduzir os riscos de transmissão de arboviroses.

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