Briga entre deputados na Assembleia de SP vai parar no conselho de ética
Confusão começou quando o deputado Arthur Mamãe Falei chamou deputados do PT e servidores de vagabundos
Após provocar o público que assistia à sessão de quarta-feira (4) na Assembleia Legislativa de São Paulo e se tornar alvo de ameaça de agressão por parte de deputados do PT, o deputado Arthur do Val (sem partido) voltará a encarar o Conselho de Ética da Casa, que já lhe aplicou advertência no final de outubro.
A sessão chegou a ser suspensa após o empurra-empurra generalizado durante a discussão da reforma da Previdência proposta pelo governador João Doria (PSDB). Já passava das 21h30 quando houve a confusão no plenário.
Arthur, youtuber conhecido como Mamãe Falei e segundo deputado estadual mais votado em São Paulo (com quase 480 mil votos), é membro do MBL (Movimento Brasil Livre) e pré-candidato à prefeitura da capital paulista. Recentemente, foi expulso do DEM por fazer críticas ao partido e ao governo Doria, do qual a sigla é aliada.
Ele discursava na tribuna a favor da reforma e xingou, reiteradas vezes, os sindicalistas presentes no público de vagabundos. O público também devolveu xingamentos, gritou “vai morrer” e deu as costas a ele.
“Atrás do vidro é fácil, minha briga contigo não é aqui, de terninho e gravata. Eu vou acabar com teu privilégio. Você vai parar de mamar. […] Tá com medo, eu quero ver me encarar, ô líder sindical, eu quero pegar você, que toma o dinheiro dos trabalhadores, bando de vagabundo”, disse Arthur se dirigindo a homens no público.
Foi quando o líder do PT, Teonílio Barba, que é sindicalista e metalúrgico, invadiu a tribuna com outros três deputados da sua bancada (Luiz Fernando Teixeira, Emidio de Souza e Enio Tatto). Eles não chegaram a agredir Arthur, que foi protegido pelo líder do Novo, Heni Ozi Cukier, em meio a uma grande confusão com vários deputados na tribuna. O deputado Luiz Fernando Teixeira chegou a morder Heni enquanto o deputado do Novo o continha.
Barba afirma que o PT pedirá a cassação de Arthur ao Conselho de Ética, que é formado por nove membros. Arthur, por sua vez, ainda não decidiu se entrará com alguma reclamação no conselho. Heni diz que já aceitou desculpas do deputado Teixeira e não levará o caso adiante.
A presidente do colegiado, Maria Lúcia Amary (PSDB), diz que a situação é grave e defende punição -não arrisca dizer, porém, se cabe cassação.
“Houve excessos dos dois lados, da agressão física e da incontinência verbal. Um erro não justifica o outro. Os dois comportamentos regimentalmente inadequados”, diz ela. O conselho, no entanto, só pode agir se for provocado -é possível que deputados não envolvidos diretamente na briga encaminhem representação ao colegiado.
Para Arthur, há hipocrisia do PT em pedir sua cassação. “Se pedem a minha cassação por chamar de vagabundo, o que merece quem vem dar porrada e o outro que dá mordida?”, questiona. O deputado, porém, reconhece que pode ser alvo de punição mais grave. “É um tribunal politico, infelizmente eu fico à mercê desse julgamento”, afirma.
Arthur já recebeu uma advertência verbal por ter chamado deputados de vagabundos em outra ocasião. A advertência verbal é a punição mais leve -as demais previstas são censura, perda temporária do mandato e perda definitiva.
“A reincidência causa uma situação mais complicada, mas não significa que, por conta dessa ação de ontem, seja uma pena mais grave, isso vai ser decidido isoladamente”, diz Amary.
Numa legislatura marcada por brigas e discussões, o Conselho de Ética alcançou o recorde de 19 representações em 2019.
O deputado diz que não se arrepende de sua fala, mas mudaria seus gestos -ele chegou a fazer gestos obscenos. “Quem estava galeria não era população normal, são sindicalistas vagabundos que agem com modus operandi de intimidação e ameaça”, diz.
Arthur acusa, inclusive, os sindicalistas que o hostilizaram de serem os mesmos que ameaçaram o vereador Fernando Holiday (DEM), também do MBL, na Câmara paulistana. Na época, um tiro foi disparado contra seu gabinete.
Para Barba, não há motivo para que ele e Teixeira sejam punidos. “Eu subi correndo, mas não agredi ninguém. E o Luiz Fernando já se desculpou. Foi um tumulto”, diz.
“É um absurdo o deputado da tribuna ficar provocando, poderia ocorrer invasão do plenário. Ele não gosta de trabalhadores, tem preconceito”, completa. Barba também reclama da postura de Cauê Macris (PSDB), presidente da Assembleia, por não ter tomado a palavra de Arthur. Macris pediu que Arthur não usasse a expressão vagabundo por não ser correto, mas o deputado já havia falado “vagabundo” ao menos cinco vezes.
Em nota, Macris afirmou que as cenas registradas “não condizem com a história da Assembleia Legislativa”. “O momento exige serenidade e responsabilidade, sem radicalização. O caso passará agora a ser analisado com total isenção pelo Conselho de Ética”, completou.
“Eu acho inadmissível usar a força para resolver. Que exemplo de democracia vamos dar ao país?”, questiona Heni. “Quero que todo mundo reflita e pondere aonde estamos chegando.”
Alvo da mordida de Teixeira, ele condena a provocação e o clima de beligerância na Assembleia. “Eu não gosto de jogo de cena e retórica inflamada.” A briga teve ainda um pano de fundo, segundo Arthur. Mais cedo, na mesma sessão, o deputado Enio Tatto (PT) acusou a deputada Janaina Pachoal (PSL) de aderir ao governo Doria.
“Uma deputada que logo logo vai ter que se explicar por que tão cedo ela caiu no colo do Doria”, disse ele. Janaina protestou, afirmando que a frase tem conotação sexual e que Tatto deveria respeitar as mulheres -o petista se desculpou pelo uso da expressão.
Arthur afirmou que quis defender Janaina, mas, para Barba, trata-se de uma mentira, já que o deputado não mencionou o episódio em seu discurso inflamado.
“O PT vem falar que Janaina sentou no colo do governador, mas quem votou no PSDB para a presidência da Casa foram eles. Isso me motivou a subir no plenário. Eu não quis falar o nome da Janaina, mas isso está no discurso”, argumenta Arthur.
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