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Após defender cadeia a ministros do STF, Weintraub diz que falava de ‘alguns, não todos’

A declaração, criticada em caráter reservado até mesmo por Bolsonaro, piorou a relação já conturbada entre Executivo e Judiciário


Por Folhapress Publicado 24/05/2020
Foto: Lula Marques

O ministro Abraham Weintraub (Educação) minimizou neste domingo (24) a crítica feita ao STF (Supremo Tribunal Federal) e revelada após a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril.

“Manifestei minha indignação, liberdade democrática, em ambiente fechado, sobre indivíduos. Alguns, não todos, são responsáveis pelo nosso sofrimento, nós cidadãos”, escreveu no Twitter. A declaração do ministro causou polêmica.

“Eu por mim colocava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”, disse Weintraub, no encontro comandado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Neste domingo, Weintraub disse que “tentam deturpar” o teor de sua fala “para desestabilizar a nação”. “Não ataquei leis, instituições ou a honra de seus ocupantes”, afirmou na rede social.

O jornal Folha de S.Paulo mostrou neste sábado (23) que Bolsonaro avalia procurar o presidente do STF, Dias Toffoli, para tentar diminuir o mal-estar e evitar retaliações após a divulgação do vídeo. A preocupação de Bolsonaro é justamente com eventuais respostas à fala de Weintraub.

A declaração, criticada em caráter reservado até mesmo por Bolsonaro, piorou a relação já conturbada entre Executivo e Judiciário. O ataque veio a público no momento em que a corte autorizou investigação para apurar se Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal, como diz o ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
O receio do presidente foi manifestado nesta sexta (22) e neste sábado a assessores presidenciais e aliados.

Ele teme que o episódio seja usado como justificativa para que o Judiciário imponha novas derrotas ao Executivo, seja no curso da investigação, seja em outros processos em tramitação no Supremo. Para tentar superar o episódio, aliados do presidente o aconselharam a procurar Toffoli.

A ideia é que Bolsonaro aproveite a conversa para minimizar a declaração de Weintraub e para reafirmar o compromisso do Executivo com a independência dos três Poderes.

Para o presidente, uma amostra de que pode haver uma reação negativa foi a decisão de Celso de Mello de encaminhar à PGR (Procuradoria-Geral da República) pedido da oposição para que seu celular seja apreendido e periciado.
Na decisão em que divulgou o vídeo da reunião, Mello citou ainda “aparente crime contra a honra dos ministros do STF” na declaração feita por Weintraub.
Para o decano da corte, houve a “absoluta falta de gravitas”, expressão em latim que significa ética ou honra.

“As expressões indecorosas, grosseiras e constrangedoras por ele [Weintraub] pronunciadas, ensejou a descoberta fortuita ou casual de aparente crime contra a honra de integrantes do STF”, escreveu Mello. Também naquela reunião, Weintraub defendeu “acabar com essa porcaria que é Brasília”. “É muito pior do que eu imaginava. As pessoas aqui perdem a percepção, empatia, a relação com o povo.”

Weintraub disse ainda que odeia o termo povos indígenas. “Só tem um povo nesse Brasil, é o povo brasileiro.” Ele defendeu ainda “acabar com esse negócio de povos e privilégios”. O mal-estar criado por Weintraub tornou ainda mas frágil a permanência do ministro no governo.

Nas últimas semanas, Bolsonaro já vinha se queixando do auxiliar presidencial. Weintraub resistiu em ceder espaço para indicados do centrão e em adiar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Os episódios foram vistos como uma oportunidade tanto pelo núcleo militar como por partidos do centrão para pressionar o presidente por uma mudança.

O desempenho da pasta é criticado pelos dois grupos desde o ano passado.

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