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Bolsonaro divulga foto de idosa morta em 2018, e neto imagina avó ‘orgulhosíssima’

Presidente publicou em suas redes sociais a foto de Maria Nina envolta por uma bandeira do Brasil, mas idosa já faleceu


Por Folhapress Publicado 28/05/2019

Às vésperas do segundo turno da eleição presidencial de 2018, Maria Nina Rattes, 90, expressou um último desejo: votar em Jair Bolsonaro (PSL). No mesmo dia, teve um AVC que a levou à morte em 21 de novembro daquele ano.

É o que conta o advogado Leonardo Rattes Bevilacqua Pinaud Madruga, 31, neto que viu uma postagem do presidente transformar sua avó em notícia seis meses após a morte.

No último domingo (26), dia marcado por manifestações a favor do governo, Bolsonaro publicou em suas redes sociais a foto de Maria Nina envolta por uma bandeira do Brasil, marchando entre manifestantes. Uma cena trivial, se não fossem seus cabelos totalmente brancos e o andador que a conduzia na caminhada.

Na legenda, o presidente reclamou atenção de ministros, senadores, deputados, governadores, prefeitos, vereadores e juízes e alertou (em caixa alta): “vejam a nossa responsabilidade”.

Não houve menção direta afirmando que Maria Nina Rattes havia participado das manifestações, mas a descoberta de que estava morta gerou reações nas redes. “Podemos contar uma pessoa a menos nas manifestações de ontem”, disse a página do Twitter Movimento Jair Me Arrependi, com 132 mil seguidores.

O contraponto vem de familiares que se pronunciaram no Facebook, que perceberam o ato como uma homenagem. “Ela estaria orgulhosíssima”, diz Leonardo, eleitor do presidente, ao classificar a avó como pró-Bolsonaro. “Estava com muita esperança que as coisas fossem mudar, que seria um governo mais íntegro e honesto.”

Mãe de quatro filhos, avó de oito netos e bisavó de dois, nasceu em Cachoeira de Itapemirim, município do interior do Espírito Santo, e conviveu com a pobreza na infância e na juventude. No Rio de Janeiro, morou nos bairros de Copacabana e da Barra da Tijuca, sua última residência.
Graduou-se em direito tardiamente, aos 70 anos de idade, e atuou como servidora pública do Tribunal Regional do Trabalho. Foi fã incondicional do cantor e compositor Elymar Santos e alguém que costumava dizer que “um país educado pela Xuxa não poderia dar certo”, segundo o advogado.

Nina, como era conhecida, já dedicou seu voto a Lula e Dilma. Anos depois, desiludida, passou a frequentar atos pró-impeachment, como aparece em vídeo de 2015 que está sendo associado à origem da foto publicada por Bolsonaro.

O neto, no entanto, não crava a informação, já que a avó tinha o hábito de usar as mesmas roupas em diferentes manifestações. “Quando você fica mais velho, tem determinadas manias. Uma das manias da minha avó era essa.” Por isso não descarta que a foto possa ser de um ato bolsonarista, justifica.

Sobre os Bolsonaro, o advogado afirma que seu pai, José Eduardo Pinaud Madruga, lecionou na Universidade Cândido Mendes para o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e que, portanto, sua família mantinha alguma proximidade. “O Jair chegou a conhecer a minha avó pessoalmente no ano da eleição.”

A idosa, fã de passeatas, via prazer em integrar-se aos atos -mais que seus familiares, provavelmente, que se preocupavam com sua exposição ao sol e à caminhada. Mas foi essa disposição que motivou Leonardo a fazer coro às manifestações de domingo. “É engraçado como as coisas acontecem”, diz sobre a repercussão. “Eu fui em homenagem à minha avó, sabia que ela gostaria de estar ali.”

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