Cidade mais indígena do Brasil, no AM, registra primeiros casos de coronavírus
Com cerca de 90% da população indígena, São Gabriel da Cachoeira (AM) registrou neste domingo (26) os dois primeiros casos de Covid-19
Com cerca de 90% da população indígena, São Gabriel da Cachoeira (AM) registrou neste domingo (26) os dois primeiros casos do novo coronavírus. A cidade é a porta de entrada da região conhecida como Cabeça do Cachorro, onde vivem 23 povos indígenas, além de ser via de acesso para a Terra Indígena Yanomami, entre Amazonas e Roraima.
“A guerra começou agora, pessoal, não vamos abaixar a cabeça”, disse, com voz embargada, Franklin Quirino, coordenador do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) de São Gabriel da Cachoeira, em mensagem de áudio distribuída pelas redes sociais. “Temos de salvar muitas vidas, e é assim que a gente vai nessa guerra, com a cabeça erguida.”
Quirino é um dos integrantes do Comitê de Enfrentamento e Combate à Covid-19, criado pela prefeitura, do qual também participam as Forças Armadas, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), o Instituto Socioambiental (ISA) e a Funai, entre outros órgãos e entidades.
A confirmação dos casos é da prefeitura, que mantém outras 120 pessoas em monitoramento. A Secretaria de Saúde do Amazonas confirma um caso no município.
De tamanho comparável ao da Inglaterra, São Gabriel da Cachoeira tem cerca de 45 mil habitantes e fronteiras com a Colômbia e a Venezuela. O leito de UTI mais próximo está em Manaus, a cerca de 850 km em linha reta. Por causa da pandemia da Covid-19, os transportes aéreo e fluvial de passageiros estão suspensos.
Em reunião de emergência neste domingo (26), o comitê aprovou um toque de recolher, o uso obrigatório de máscaras em locais públicos e mais restrições ao comércio e ao transporte de passageiros dentro do município.
“A confirmação aumenta nossa preocupação com os povos indígenas e reforça a necessidade de isolamento social. O município não tem leito de UTI e, com o colapso da saúde em Manaus, os pacientes graves não terão atendimento”, afirmou Juliana Radler, representante do ISA no comitê.
“Precisamos urgentemente de um hospital de campanha, de respiradores e de médicos em condições de enfrentar essa situação grave. O município fez muito esforço para se manter isolado, mas infelizmente algumas pessoas não respeitaram a quarentena. Agora, nosso temor é que haja a contaminação comunitária, que pode levar a uma grave crise humanitária para os 23 povos indígenas do rio Negro”, disse.
Por meio do ISA, o comitê negocia com o projeto Expedicionários da Saúde, voltado a populações indígenas, o envio de ajuda médica para São Gabriel da Cachoeira.
O secretário nacional da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), Robson Silva, disse à reportagem que, por terem ocorrido na cidade, os dois casos não são responsabilidade do Dsei, mas que o órgão do Ministério da Saúde atuará para impedir que a doença entre nas Terras Indígenas da região.
“Lamentável, mas esse é um fenômeno que afeta e afetará pessoas no mundo inteiro. A Sesai continua atenta para que os problemas não cheguem às aldeias. Mas, para isso, precisamos continuar contando com apoio das populações indígenas”, afirmou. “Alguns indígenas têm saído de suas aldeias, não atendendo as barreiras sanitárias, e isso pode trazer problemas.”
Agora, o Amazonas registra casos de coronavírus em 47 dos seus 62 municípios. São 3.833 registros, dos quais 29% no interior. O estado tem a maior incidência de Covid-19 do país.
O boletim epidemiológico da Sesai aponta 85 casos confirmados de coronavírus, com 4 óbitos. A área mais afetada é o Alto Rio Solimões, também no Amazonas, com 42 registros e 2 mortes pela Covid-19.
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