Com fumódromo, Palácio dos Bandeirantes volta a permitir cigarros após 14 anos
Em 2008, com José Serra (PSDB), o Palácio recebeu o Selo de Ambiente Livre do Tabaco, na categoria Ouro, concedido somente aos espaços 100% sem tabaco
O governador João Doria (PSDB-SP) criou um fumódromo no jardim do Palácio dos Bandeirantes, interrompendo um histórico de restrição total ao uso de cigarros e outros produtos do tipo no local que durava mais de 14 anos.
Em 2008, com José Serra (PSDB), o Palácio recebeu o Selo de Ambiente Livre do Tabaco, na categoria Ouro, concedido somente aos espaços 100% sem tabaco, em que funcionários e visitantes não fumam nas dependências, sejam internas, externas ou até mesmo dentro de veículos no estacionamento.
A gestão estadual implantou as políticas mais firmes de proibição ao cigarro no Palácio no segundo semestre de 2007. Vice-governador de José Serra no mandato, Alberto Goldman era obrigado a deixar as dependências do Palácio para fumar charutos, diz reportagem da Veja da época, por exemplo.
A Folha mostrou que os últimos cinzeiros de três fumódromos foram retirados do Palácio dos Bandeirantes em setembro daquele ano e os funcionários passaram a ser multados quando flagrados fumando, inclusive nos jardins -onde hoje está localizado o fumódromo de Doria.
Em um ano, de 2007 a 2008, 50 dos 190 funcionários que eram fumantes abandonaram o cigarro, segundo levantamento feito pela gestão Serra. Há até hoje placas nas paredes que dizem que fumar é proibido em todos os ambientes do Palácio.
A ideia de Serra com a proibição inflexível era a de transformar o Palácio em um exemplo para que estabelecimentos comerciais aderissem às políticas de restrição. O governador, atualmente senador, sancionou a Lei Estadual Antifumo em 2009, proibindo a prática nos ambientes fechados de uso coletivo.
O selo e a política associada são constantemente exaltados como motivos de orgulho das gestões tucanas em São Paulo.
O novo fumódromo do Palácio tem cinzeiros verticais de metal, bancos de madeira e fica sobre uma camada de brita. “O Palácio foi um dos primeiros lugares a se declarar 100% antifumo. É um retrocesso em relação ao exemplo que o governo do estado dá à população. Desmerece o selo que tem. É lamentável, espero que revejam a iniciativa”, diz a advogada Adriana Carvalho, diretora jurídica da ACT Promoção da Saúde (Aliança de Controle do Tabagismo).
“O selo é um reconhecimento, um compromisso de boas práticas. Tem uma questão simbólica, o Palácio adotava uma política interna mais protetiva do que a lei, era totalmente livre de tabaco, e agora está recuando”, completa Adriana.
Segundo apurou o Painel, Doria se disse incomodado com a presença dos fumantes na portaria do Palácio e por isso determinou a criação do espaço, que fica no jardim, aberto, mas próximo a mesas de almoço, o que gera potencial de dano a não-fumantes.
Em nota, o governo de SP diz que defende e respeita a Lei Antifumo e que o espaço é em uma área ao ar livre e arborizada, e “a lei permite o consumo de cigarros em ambientes abertos”. O texto também diz que a medida visa garantir mais conforto e segurança a funcionários e visitantes.
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