Datafolha mostra que falta de comida afeta quase 40% dos brasileiros de baixa renda
Patamar mais elevado de pessoas afetadas pela falta de comida é encontrado no Nordeste (35%)
Pesquisa Datafolha aponta que 26% dos brasileiros afirmam que a quantidade de comida em casa não foi suficiente para alimentar suas famílias nos últimos meses. O percentual chega a 37% entre aqueles com renda mensal de até dois salários mínimos.
Nas famílias que recebem o Auxílio Brasil, programa social que substituiu o Bolsa Família, são 39%, ante 22% entre aquelas que não se enquadram no benefício destinado aos mais pobres.
O patamar mais elevado de pessoas afetadas pela falta de comida é encontrado no Nordeste (35%). Nas demais regiões do país, varia de 21% a 25%.
Entre as pessoas que estão desempregadas, mas à procura de emprego, 45% afirmaram não ter comida suficiente. Entre os que desistiram de encontrar uma ocupação, são 34%.
Por outro lado, estão abaixo da média os empresários (9%), estudantes (13%) e funcionários públicos (15% afirmaram não ter comida suficiente).
Também se destacam os 34% entre pessoas que votariam no ex-presidente Lula (PT) em 2022 e os 12% entre os que pretendem votar em Jair Bolsonaro (PL).
A pesquisa foi realizada de 13 a 16 de dezembro, com 3.666 brasileiros em 191 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para baixo ou para cima.
O levantamento também mostra que 15% dos brasileiros deixaram de fazer alguma refeição nos últimos meses por não ter comida em casa. O número sobe para 23% entre as famílias com renda mensal de até dois salários mínimos. Nas demais faixas, varia de 3% a 6%.
Nas famílias que recebem o Auxílio Brasil, 26% deixaram de fazer alguma refeição. São 11% entre aquelas que não se enquadram no benefício.
Por região, os maiores percentuais de pessoas afetadas estão no Centro-Oeste/Norte (20%) e Nordeste (17%). Os menores, no Sul (13%) e Sudeste (11%).
Por ocupação, se destacam os desempregados à procura de emprego (30%) em um extremo e empresários (3%) de outro.
O número chega a 17% e 15%, respectivamente, entre pardos e pretos. São 11% entre os brancos. Entre os apoiadores de Lula, 19%. Entre os que pretendem votar no atual presidente, 8%.
Ainda segundo o Datafolha, 89% dos entrevistados disseram que, nesse período de pandemia, o número de pessoas que passam fome no Brasil aumentou. Essa percepção é predominante independentemente do perfil econômico e social do entrevistado ou da região em que ele mora.
Os patamares mais baixos nos recortes por perfil foram encontrados entre empresários (81% avaliam que a fome aumentou), pessoas que afirmaram ter comida mais que suficiente para a família (79%), entrevistados com preferência pelo PL, partido de Bolsonaro, ou que votariam no presidente em primeiro turno 2022 (74% em ambos os casos). Entre os que avaliam o governo como ótimo/bom, 73% dizem que a fome aumentou.
Aumento do desemprego, queda na renda e alta da inflação estão entre os fatores que são apontados como responsáveis pelo aumento da fome durante a pandemia. Houve ainda grande oscilação em relação aos programas sociais do governo, com introdução do auxílio emergencial de até R$ 1.200 no ano passado, programa suspenso no começo do ano e que teve o valor reduzido em 2021. Posteriormente, o governo acabou com o Bolsa Família, que foi substituído pelo Auxílio Brasil.
O relatório “Insegurança Alimentar e Covid-19 no Brasil”, publicado no começo do ano pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), mostrou que 43,4 milhões de pessoas não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões de brasileiros enfrentaram a fome durante a pandemia.
A insegurança alimentar se caracteriza pela falta de acesso e disponibilidade das pessoas aos alimentos em quantidade suficiente para a sobrevivência.
A fome ganhou rosto nos últimos meses, seja nas cenas protagonizadas por famílias em busca de alimentos próximos do descarte no centro de São Paulo, buscando comida no lixo de Fortaleza ou acompanhando o trajeto do caminhão do osso no Rio de Janeiro.
Nesta semana, a cidade de São Paulo registrou protestos contra a fome em pelo menos 15 bairros.
Um deles, na frente da Bolsa de Valores, onde no início de dezembro foi colocada a escultura de uma vaca magra, em alusão a fome e miséria, após a polêmica sobre o Touro de Ouro colocado no mesmo local.
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