Dentro de casa ou nas ruas, moradores relatam perdas
A forte chuva que atingiu São Paulo nesta segunda-feira (10) deixou moradores de vários bairros ilhados dentro de casa
“A minha casa está cheia de água. Cama, já era. Sofá, já era. Tem uma geladeira que está boiando, o fogão provavelmente já era também”, disse a dona de casa Laura Silva de Brito, 18, enquanto assistia à sua casa ser tomada pela água suja, de um andar acima.
Mesmo vivendo em bairro historicamente atingido por enchentes –a Vila Itaim, no extremo leste da cidade–, ela se surpreendeu com os efeitos das chuvas desta vez. “Estão construindo um piscinão aqui, e a gente acreditou que dessa vez não iria ter alagamento.”
A forte chuva que atingiu São Paulo nesta segunda-feira (10) deixou moradores de vários bairros ilhados dentro de casa ou presos por horas no trânsito, destruiu móveis e eletrodomésticos em residências e causou prejuízos a comerciantes.
Na Casa Verde, moradores da rua Anita Malfatti também tiveram suas casas alagadas. A via é próxima da marginal Tietê e da ponte da Casa Verde.
“Essa chuva é completamente atípica. Trouxe muita água”, disse Luci Fonseca Nakama, que fez um vídeo contando que o local alaga desde 1982, mas, após a construção de um piscinão na região, melhorou um pouco a situação.
Na zona oeste, algumas pessoas tiveram que ser resgatadas pelo Corpo de Bombeiros – caso de Priscila Irani, 43, e de seu filho Artur, 8, que moram na Vila Anastácio. Antes do salvamento, ela, o filho, o marido e a mãe ficaram refugiados na laje de casa com guarda-chuvas para se proteger da água. “A gente estava desesperado. Agora, estamos na casa de amigos”, conta.
A família perdeu quase tudo com a enchente: carro, eletrodomésticos, sofá e outros itens. É a primeira vez em 43 anos que enfrentam uma situação assim. “Nasci aqui. Já passei por enchente em que a água chegava à canela. Agora, ficou acima do joelho”, diz.
Na Vila Leopoldina, os moradores se organizaram para resgatar vizinhos e parentes ilhados. O empresário Alexandre Fuchigami, 33, por exemplo, comprou um bote em uma loja do bairro para retirar funcionários e equipamentos de sua empresa, que encheu de água.
Na rua Baumann, a administradora Maria do Carmo Massarelli, 48, foi para a casa dos pais, de 85 anos, para resgatá-los. “Preciso tirá-los de lá. Minha mãe está com pneumonia”, disse.
No mesmo bairro, moradores de um prédio ouviram por volta das 11h30 gritos de socorro de fiéis de uma igreja: um grupo de cerca de 15 pessoas estava ilhado lá dentro.
Eles começaram a se mobilizar para tentar tirá-los de lá, mas a água e um muro que precisava ser pulado eram obstáculos. “A água está subindo, eles não têm para onde ir”, disse o cozinheiro Wellington Bonfim, 42. Ele e seus vizinhos também reuniram comida, roupa e toalhas para ajudar esses fiéis.
A Polícia Militar, por sua vez, fez alguns salvamentos com helicóptero na zona norte, entre eles de duas pessoas que precisavam realizar hemodiálise. Uma das resgatadas é uma menina, de idade não informada, que se encontrava na ponte da Casa Verde (zona norte), por volta do meio-dia. O outro, de uma mulher, na ponte da Freguesia do Ó, no mesmo horário. Ambas foram levadas ao hospital e passam bem.
A chuva também deixou muita gente presa por horas no trânsito. Por volta das 13h, a professora Fátima Jani, 59, contou que estava havia oito horas tentando voltar da cidade de Ibiúna (69 km de SP) para sua casa na Freguesia do Ó. Em dias normais, a viagem dura duas horas. No carro com ela, estavam a filha de 17 anos e três cachorros, sendo um de grande porte.
Na rodovia dos Bandeirantes, um médico de 27 anos decidiu desembarcar do ônibus de onde tinha vindo de Uberlândia (MG) e caminhar até o metrô mais próximo. “Não aguentava mais. Estou sem dormir direito, comida e água e agora vou andar até o metrô mais próximo”, disse.
Em nove unidades da Fundação Casa e seis Centros de Detenção Provisória, mais de 8.000 adultos e 480 menores de idade ficaram sem receber refeição de manhã e à tarde. De acordo com a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), os adolescentes tomaram de café da manhã “merenda com bebida láctea”, que também foram servidas no almoço “como medida preventiva.”
Na Lapa, Sidnei Lucena, 30, afirmou que a quantidade de clientes que vão almoçar em seu estabelecimento caiu 30%. “Minha sorte é que a maioria do pessoal mora aqui no bairro, mas quem mora longe não conseguiu chegar”, afirmou.
O empresário disse que cinco de seus funcionários não conseguiram ir trabalhar e que alguns donos de restaurante não tiveram a mesma sorte que ele, pois nem chegaram a abrir as portas.
Um entregador de comida afirmou que todos os pedidos feitos na região da zona norte estavam sendo cancelados. “Não dá para chegar lá de moto, só de barco”, ironizou.
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