No litoral norte de SP, prefeitura recorre a trator para remover banhistas
A ofensiva da prefeitura acontece em um momento em que a rede de saúde está à beira do colapso
No primeiro fim de semana após a decretação da fase emergencial do Plano São Paulo, iniciada no último dia 15 de março, as praias do litoral norte de São Paulo ficaram movimentadas. Desde o início da manhã deste sábado (20), turistas aproveitaram o calor de 32ºC para tomar banho de sol. Em grupos, muitos se reuniam sem utilizar máscaras.
Até o próximo dia 30, quando se encerra a fase emergencial, o uso de praias, parques e espaços coletivos, assim como a instalação de mesas, cadeiras, guarda-sóis, tendas, esteiras, caixa de som, caixas térmicas e similares que estimulem a aglomeração de pessoas estão proibidos. O decreto permite apenas a prática de esportes de forma individual nas praias.
Na região sul de São Sebastião, onde estão localizadas as praias mais badaladas do litoral norte, fiscais da prefeitura e a GCM (Guarda Civil Municipal) tiveram muito trabalho para orientar os turistas, que se recusaram a deixar a areia.
Nas praias de Juquehy e Baleia, além das viaturas, até tratores foram utilizados pela prefeitura para tentar “estimular” os banhistas a retornar para suas casas. Em vão.
Assim que os tratores passavam, eles retornavam aos seus lugares, fixando os guarda-sóis e montando suas cadeiras de praia novamente O trânsito de veículos na faixa de areia é proibido por decreto estadual.
“Não entendi a necessidade de mandarem tratores para a praia para expulsarem a gente daqui. E se atropelam uma criança? Perderam a noção”, reclamou a relações públicas Ana Cláudia de Araújo, 39, de São Paulo, que caminhava sozinha pela praia de Juquehy utilizando máscara.
A utilização de tratores na areia da praia também pode causar impactos ambientais. “A compactação do solo, provocada pelas máquinas, pode reduzir o volume de vazios e interferir na capacidade de percolação da água entre os grãos”, diz a engenheira ambiental e sanitarista Larissa Mota Barbosa Correa. Ainda segundo ela, a ação pode interferir no crescimento de vegetações.
“A ação [da prefeitura] é válida pois a cidade está em uma fase crítica da pandemia. Nós também percorremos a praia para orientar os banhistas a não se aglomerarem. Eles entendem a situação e muitos guardam as cadeiras e guarda-sóis ou até retornam para suas casas. Se não houver uma ação deste gênero, a prefeitura se verá obrigada a fechar as praias”, diz o vice-presidente da Sabaleia (Sociedade Amigos do Bairro da Praia da Baleia), Sílvio Schaefer.
A ofensiva da prefeitura acontece em um momento em que a rede de saúde está à beira do colapso. De acordo com boletim divulgado às 15h deste sábado (20), nas últimas 24 horas foram registrados 211 atendimentos relacionados a sintomas de Covid-19. Segundo a administração, 80% dos leitos de UTI estão ocupados.
Até a sexta-feira (19), a cidade havia registrado 6.856 casos confirmados de Covid-19, com 86 mortes. Segundo a prefeitura, 398 pacientes estão em quarentena domiciliar. Apenas 6.033 vacinas haviam sido aplicadas até a data, diante de uma população de quase 90 mil habitantes.
Na sexta, o prefeito Felipe Augusto (PSDB) afirmou que terá que transferir pacientes graves por falta de medicamentos para intubação no mercado. Segundo ele, os fabricantes terão que enviar os insumos produzidos para o Ministério da Saúde, que por sua vez, realizará a distribuição aos municípios.
“A cidade não tem mais medicamentos para proceder a intubação de pacientes na UTI do Hospital de Clínicas Central. Diante da situação, a partir de agora, a Secretária Municipal de Saúde pedirá a transferência dos pacientes que precisarem ser intubados para o Hospital Regional de Caraguatatuba ou para onde determinar a Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde)”, explicou Augusto.
O mega feriado prolongado anunciado pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), entre 26 de março e 4 de abril, deixou os prefeitos do litoral norte preocupados diante da iminência de uma fuga de paulistanos para a região.
Os prefeitos de Caraguatatuba, José Pereira de Aguilar Jr. (MDB), e de São Sebastião, Felipe Augusto, encaminharam ofícios ao governo do estado para que medidas sejam adotadas para tentar impedir que os turistas desçam para a região.
Na sexta, o governo João Doria anunciou a suspensão da operação descida do sistema Anchieta-Imigrantes até o fim do mês, para desestimular deslocamento de pessoas para o litoral.
“Nossas autoridades municipais estão prevendo uma intensa movimentação de pessoas a partir do dia 26 de março com o início dos feriados em São Paulo. O município de Caraguatatuba é uma estância turística inserida numa região litorânea e tem apresentado elevadas temperaturas nos últimos meses e, como consequência, vem atraindo turistas das mais diversas regiões do país”, diz o prefeito Aguilar Jr.
“A decisão de São Paulo provocará, naturalmente, a migração de pessoas ao litoral norte e, consequentemente, o alto risco de contágio pela Covid-19. Nossas estruturas em hospitais estão com taxa de ocupação alta. Por isso, pedimos medidas restritivas nas rodovias. Além disso, reforçamos para que as pessoas tenham consciência e fiquem em casa neste momento”.
Segundo o boletim epidemiológico da última sexta, Caraguatatuba chegou a 10.636 casos confirmados da doença, com 226 óbitos. A taxa de ocupação dos leitos de UTI do município está em 92%, enquanto a de enfermaria chega a 49%.
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