Pandemia acrescenta dose de angústia e incerteza à rotina de vestibulandos
Algumas provas de meio do ano foram suspensas, em caráter definitivo ou temporário
Viver em meio a uma pandemia que demanda um isolamento social de dimensões inéditas sem data para acabar não é coisa fácil para ninguém.
Acrescente a esse contexto uma circunstância que já é, por si só, fonte de angústia – o ingresso na universidade – e terá uma ideia de como anda a vida de muitos vestibulandos pelo país.
Desde que diversos estados decidiram suspender aulas nas últimas semanas, uma dose extra de incerteza e necessidade de autodisciplina se agregou à rotina de quem se prepara para um processo seletivo.
Algumas provas de meio do ano foram suspensas, em caráter definitivo ou temporário. É o caso das da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) e Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina). Outras instituições, como a FGV, ainda avaliam a conveniência de manter a data.
Mesmo os exames previstos para o final do ano ainda podem ter de ser postergados a depender da duração das medidas de isolamento social.
Em São Paulo, por exemplo, o Conselho Estadual de Educação flexibilizou regras para considerar o ensino remoto como carga horária válida, mas, a depender do prazo da quarentena, ainda não se pode descartar que o atual ano letivo só termine no início de 2021.
Enquanto isso não há uma definição mais precisa do calendário escolar, colégios e cursinhos têm adotado alternativas de ensino a distância -aulas ao vivo ou gravadas, plantões online, envio de exercícios e redações por email, entre outras opções.
Ainda não se sabe, no entanto, quanto essa modalidade será capaz de suprir a presencial no conteúdo, nem quanto os alunos terão de disciplina e autonomia para estudar sozinhos.
Os dois fatores – incerteza sobre o calendário e nova modalidade de aulas- têm atrapalhado a preparação para a prova, conta Tayná Guimarães, 18, de Cuiabá, que quer uma vaga no curso de oceanografia.
Em casa, diz, há mais distrações. “Às vezes bate uma leve preguiça quando começo a estudar e pego o celular. Quando você está focada no cursinho, não tem isso”, afirma. “E além disso tenho que cuidar da minha saúde mental para não pensar que estou estudando para vestibulares que podem não acontecer.”
“Eu preciso estar em um lugar próprio para estudo para manter o foco”, diz Rebeka Moraes, 17, que também reconhece o celular como um risco maior de distração em casa.
Nathália Formentini, 16, conta que está se esforçando para passar em medicina, mas acha que as aulas remotas ficam a dever às presenciais, porque nelas nem sempre é possível, por exemplo, tirar uma dúvida na hora em que ela surge.
Ela lamenta o fato de que seus concorrentes que já concluíram o ensino médio terão a vantagem de ter estudado em um ano normal. “Espero que os vestibulares sejam adiados”, diz.
A sensação de falta de sorte por estar em uma fase tão crucial da vida escolar em meio a uma pandemia é comum entre vestibulandos. “Estou me preparando desde que entrei no ensino médio e agora acontece isso tudo”, lamenta Vitória Amorim, 16, de Magé (RJ), que quer estudar direito.
Na última quarta-feira (25), o ministro Abraham Weintraub afirmou em rede social que, no caso do Enem, seguirá a orientação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Se sobram incertezas, cursinhos têm sido firmes na orientação aos alunos: é preciso manter o ritmo de estudos. “Não pode parar, porque, depois que para, mesmo que seja por um tempo, fica mais difícil retomar o ritmo”, diz Vera Antunes, coordenadora do curso e colégio Objetivo.
Ela recomenda que os jovens usem todo o material de estudo que tenham à mão, seja no meio físico ou no digital.
Manter a rotina é essencial, acrescenta Daniel Cecílio, diretor do curso pré-vestibular Oficina do Estudante. Ele sugere que o aluno continue acordando na mesma hora de antes, tome café, banho, escove os dentes e siga os mesmos horários de preparação do período pré-quarentena.
Fazer um planejamento e ser fiel a ele é essencial, afirma. Outra dica que ele dá é manter-se antenado ao noticiário sobre o coronavírus, já que conteúdos relacionados ao tema podem ser cobrados em várias áreas da prova -de redação a ciências e matemática, entre outras.
Estudante de psicologia da UFF (Universidade Federal Fluminense), Maria Eduarda Thuler se ofereceu nas redes sociais para ajudar vestibulandos a estudar, uma retribuição pelos conselhos que recebeu quando estava no lugar deles.
Para ela, por mais irônico que possa ser, o atual momento pode ser usado em favor de quem tem um sonho tão importante como o de entrar em uma boa faculdade. “Acredito que o cenário de paralisação devido à pandemia seja propício para colocar em pauta projetos pessoais, sobretudo dar foco aos estudos quando possível”, diz.
DICAS PARA ESTUDAR NA QUARENTENA
1) Não pare. Manter o ritmo é fundamental;
2) Use todos os recursos que tiver à mão: livros, videoaulas, podcasts, plantões de dúvidas de cursinhos;
3) Mantenha uma rotina de estudos, se possível a mesma de antes da quarentena. E tire o pijama;
4) Fique ligado no noticiário sobre coronavírus. Questões de atualidades podem ser cobradas nas provas
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