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Para o presidente é fácil falar, diz 1º atleta brasileiro a contrair Covid-19

Jonathas Cristian de Jesus relata ter sofrido fortes dores nas últimas semanas e discorda da declaração do presidente Jair Bolsonaro


Por Folhapress Publicado 26/03/2020
Foto: Reprodução

O atacante Jonathas Cristian de Jesus, 31, voltou em janeiro deste ano ao Elche, time da segunda divisão da Espanha, motivado a reviver os melhores dias da carreira.


Em 2015, pelo mesmo clube, ele terminou a temporada da La Liga com oito assistências e 14 gols, um a menos do que o francês Karim Benzema, do Real Madrid, e dois atrás do uruguaio Luis Suárez, do Barcelona.


No último dia 15, porém, Jonathas passou a se preocupar não mais com metas dentro de campo, mas com a própria vida. O jogador foi o primeiro caso conhecido de um atleta profissional brasileiro a receber diagnóstico positivo do novo coronavírus e desenvolveu a doença Covid-19.


Em depoimento à reportagem, ele relata ter sofrido fortes dores nas últimas semanas e discorda da declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de que pelo seu histórico de atleta teria no máximo “um resfriadinho” caso contraísse o vírus.


“Como eles [políticos] não pegaram, principalmente o presidente, falar assim é fácil”, afirma.


Até quarta-feira (25), a Espanha registrava 56.188 casos da doença e 4.089 mortes -segundo maior número, atrás somente da Itália.

“Foi tudo muito rápido. Acordei mal, mas achei que fosse só mais uma gripe, então fui levando. A partir do segundo dia percebi que havia algo estranho comigo.


Estava me sentindo muito diferente de quando fico gripado. Não conseguia caminhar, tive febre, dores de cabeça e por todo o corpo. Tossia sem parar. Vendo todo o noticiário de coronavírus, resolvi ligar para o médico do clube. Ele, imediatamente, me mandou ficar em casa.


Fiz um exame que confirmou que eu estava com a Covid-19. Passei a me submeter a algumas precauções: boa alimentação, muito líquido, nenhum treino e isolamento.


A minha família ficou no Brasil, não veio comigo para a Espanha. Tenho duas filhas, nos falamos diariamente, e tenho pedido muito para que fiquem em casa. Fazendo isso me passam uma tranquilidade maior para continuar.


É um período difícil. Tenho ficado em casa, assisto ao dobro ou triplo de filmes a que assistia antes. Procurei, também, ler livros e conversar ao máximo com os amigos.


Infelizmente, entrei para a estatística como o primeiro atleta brasileiro a ser infectado. E tenho dito para que tomem muito cuidado. Cuidem de si e do próximo, isso é muito importante. Os riscos precisam ser levados muito a sério, mas acredito que logo isso tudo vai passar.


Já são quase duas semanas e hoje me encontro bem melhor. Treino todos os dias normalmente, sem restrições, por meio dos trabalhos de vídeo passados pelo preparador físico do clube.


Antes, ainda tomava remédios para dor de cabeça e febre, que eram recorrentes, mas agora não tomo mais nada. Preciso somente ter cuidado com a alimentação.


Temos um grupo do clube em que todos se conectam e fazemos os trabalhos juntos. Antes de me recuperar, o meu corpo ficou totalmente debilitado. Diria que é impossível ter vida normal com a doença ou tentar fazer algum exercício.
Tenho acompanhado as notícias no Brasil e no mundo. Essas mortes que têm acontecido são muito tristes, principalmente na Itália.


Como eles [políticos] não pegaram, principalmente o presidente [Jair Bolsonaro], falar assim [sobre a doença ser comparada a um “resfriadinho”] é fácil.


É claro que queremos que tudo se normalize, tem muita gente perdendo os seus empregos, sendo prejudicada nos comércios, em suas empresas. Somos os primeiros que queremos que normalize, mas não é assim. Temos que pensar na saúde das pessoas.


Acho que como a economia do Brasil está caindo, querem que tudo volte ao normal logo. Estão pensando muito neles e pouco nas pessoas, principalmente as idosas que, se contraírem o vírus, têm grandes possibilidades de ficarem muito mal. Posso falar com autoridade porque passo por isso e, mesmo sendo um atleta, sofri muito com as dores. Imagine uma pessoa de mais idade?


Fui o único infectado na minha equipe. Fiquei muito mal, mas acredito estar bem agora. Devem fazer outro exame para saber se estou 100% curado, mas, pelo o que estou sentindo, acredito que o vírus já saiu do meu corpo.


Agora, há uma conversa entre capitães das equipes e responsáveis pela liga para saber o que vão fazer. Eles têm feito reuniões, mas é um assunto interno e praticamente não tem chegado nada a nós. Não sabemos, de fato, como vai ficar tudo isso.


Todos os países passam por muita indefinição, vemos jogadores contribuindo e ajudando abaixando os seus salários. O mundo todo está assim, parado, os clubes têm sido muito prejudicados, também. É normal que aconteça isso, mas tudo tem sido conversado e esclarecido.


O meu contrato vai até o final do campeonato agora, mas ainda gostaria de continuar aqui. Se não continuar, quero permanecer na Europa.”

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