PCC lucra mais com crack na cracolândia de SP do que com cocaína em Higienópolis
De acordo com o documento, o quilo da crack está sendo comercializado no varejo pelos criminosos por até R$ 45 mil
Um trabalho de infiltração da polícia de São Paulo revela que, atualmente, os criminosos da facção criminosa PCC conseguem obter um lucro muito maior com a venda do quilo do crack na região da cracolândia, no Centro da cidade, do que com o comércio de cocaína nas regiões nobres da capital. A informação faz parte do mais recente Relatório de Inteligência da Polícia Civil de São Paulo, obtido pela reportagem, produzido ao final de quatro meses de trabalho de quatro policiais que se passaram por usuários no chamado “fluxo” da cracolândia, em uma investigação de combate ao tráfico de drogas na região.
De acordo com o documento, o quilo da crack está sendo comercializado no varejo pelos criminosos por até R$ 45 mil. Para se ter uma ideia desse valor, traficantes conseguem até R$ 30 mil com o comércio do quilo de cocaína em regiões nobres de São Paulo, como Higienópolis, Pinheiros ou Itaim Bibi – mesmo quando a cocaína tem alto grau de pureza, segundo especialistas.
O crack é um subproduto da pasta base da cocaína, uma espécie de sobra da produção da cocaína, e por muito tempo vista com certo temor pelo próprio PCC. Os chefes da facção proibiram por anos o acesso desse tipo de droga ao sistema penitenciário por conta de seu alto poder destrutivo.
Dois fatores são apontados para o alto valor cobrado pelos criminosos para o crack à venda na cracolândia: a falta de concorrência (só o PCC pode vender ali) e a segurança oferecida aos usuários para comprar e consumir entorpecentes no local sem serem incomodados pela polícia.
“Por mais incrível que parece, a pessoa tem a segurança de consumir [o entorpecente] na cracolândia. Olha que absurdo, que contrassenso. Ali, eles têm a polícia em volta. A GCM e a Polícia Militar. Além de comida, serviço social. Eles têm ali todo um aparato público em que pessoa tem a segurança de consumir muito maior do que em um biqueira”, disse o delegado Roberto Monteiro, delegado seccional da região central.
As primeiras notícias da presença do PCC na cracolândia, da região central, surgiram ao menos desde 2015. Atualmente, segundo a investigação, mantém criminosos no local que alugam barracas e garantem a segurança dos usuários com os chamados “disciplinas” -que podem até matar infratores.
“Creio que isso [o alto valor] se explica pelo controle de mercado exercido pelo PCC sobre a cracolândia: como a facção monopoliza o fornecimento do crack naquela área, consegue impor preços altos sem sofrer perda na demanda, que tradicionalmente é intensa”, disse Allan de Abreu, autor do livro “Cocaína – A Rota Caipira” e “Cabeça Branca – Caçada ao Maior Narcotraficante do País”.
O relatório obtido pela reportagem deu base à operação “Caronte”, realizada pela polícia no último dia 18, quando 500 policiais foram a cracolândia e outros endereços em São Paulo para o cumprimento de 11 mandados de prisão e 14 mandados de busca e apreensão. Até agora, oito foram presos.
Ainda segundo a investigação, são mantidas na cracolândia cerca de 36 barracas para venda de drogas, principalmente o crack, divididas em três lotes, batizados de vagões. A venda de droga no local funciona 24 horas por dia -estima-se uma venda ali de 12 quilos de crack diariamente. “Nós chegamos a uma projeção de R$ 200 milhões de lucro”, disse o delegado.
Além dos dependentes químicos que usam a droga em qualquer lugar, apelidados pela vizinhança de “mortos-vivos”, há também, segundo a polícia, pessoas de classe média que alugam quartos de hotéis na região para tem conforto para consumir o entorpecente sem risco de prisão.
“Muitos dos usuários também buscam esses hotéis para terem um atendimento VIP. São estabelecimentos simples, mas eles ficam hospedados ali e recebem por delivery cocaína, maconha, crack, e ainda pedem por aplicativos a comida que eles querem”, disse o policial. Por fim, o delegado afirma que a situação dos usuários da cracolândia é, de fato, caso de saúde , mas esse olhar humanitário não deve ser estendido aos traficantes.
“O social deve ser aplicado para o usuário, o dependente químico, aquele que precisa de socorro, que está degradado física e psicologicamente. O traficante merece cadeia e não um, digamos, beneplácito ou negligencia do poder público. É cadeia, porque precisamos acabar com aquilo”, afirmou.
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