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Primeiras imagens do novo acelerador de elétrons do Brasil são de proteínas do novo coronavirus

A amostra analisada foi da proteína 3CL, crucial para o desenvolvimento do vírus


Por Folhapress Publicado 11/07/2020
Foto: Sirius/CNPEM/Divulgação

Neste sábado (11) foram anunciadas as primeiras imagens do Sirius, o maior acelerador de elétrons do Brasil e um dos mais avançados do mundo. Nesses primeiros experimentos foram radiografadas proteínas do novo coronavírus. A expectativa é que a ferramenta seja cada vez mais empregada para tentar entender o vírus e combater a pandemia.

A amostra analisada foi da proteína 3CL, crucial para o desenvolvimento do vírus. Ela foi produzida no LNBio (Laboratório Nacional de Biociências), que, assim como Sirius, fica localizada no CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), em Campinas.

A 3CL é uma enzima importante para o processo de replicação viral dentro das células que ele invade. Conhecendo a estrutura dessa proteína, por exemplo, é possível construir moléculas que sirvam de inibidores, ou seja, que bloqueiem sua ação, barrando o avanço da infecção.

Sabe-se que a 3CL tem “bolsões” onde esses inibidores poderiam se ligar, impedindo a atividade da enzima. Ao se compreender a topografia desses bolsões, é mais fácil projetar moléculas que atrapalhem a atividade da 3CL do Sars-CoV-2.

“Além do nosso compromisso com a agenda pública de pesquisas com o Sars-CoV-2, coordenada pelo MCTI, o início da operação da Manacá [estação experimental utilizada] vai beneficiar a comunidade científica de todo o país.

Pesquisadores dedicados a estudar os detalhes moleculares relacionados à doença poderão submeter, a partir da próxima semana, propostas de pesquisa para utilizar essa linha de luz”, diz Mateus Cardoso, da divisão de materiais moles e biológicos do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), que abriga o Sirius.

Nesta primeira etapa, poderão aplicar propostas para usar o equipamento cientistas que já tenham familiaridade com experimentos de cristalografia de proteínas, ou seja, especializados em desvendar suas estruturas tridimensionais, para que eles possam avançar no entendimento molecular do vírus, afirma Harry Westfahl Jr.

O Sirius poderá comportar até 38 linhas de luz, ou seja, as estações experimentais onde os experimentos são feitos e os materiais analisados. São como microscópios complexos que, em vez de luz, focalizam a chamada radiação síncrotron, a fim de que ela ilumine amostras, revelando aspectos bem íntimos de sua estrutura.

A primeira linha a realizar experimentos – com a qual se obteve a imagem da 3CL – é a linha Manacá, especializada no estudo estrutural de macromoléculas biológicas, como as proteínas virais. Ao todo estão previstas 13 linhas de luz numa primeira fase. Outra linha de luz que deve ficar pronta logo e que prometa ajudar nos estudos ligados ao novo coronavírus é a Cateretê, que permitirá produzir imagens celulares tridimensionais de alta resolução.

Uma característica do Sirius, equipamento de R$ 1,8 bilhão e construído em sua maior parte com tecnologia nacional, é a aplicabilidade em diversas áreas, como energia, alimentação, ambiente, saúde e defesa.

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