Supermercados adotam uso de máscara, mas aglomeração é desafio
A pandemia alterou o tipo de compra no supermercado e levou a um cenário parecido com o de meados dos anos 1990, quando famílias estocavam produtos para fugir da hiperinflação
Na quarta (8) que antecedeu o feriado de Páscoa, o supermercado Zaffari, em Perdizes (SP), estava vazio por volta das 12h. O baixo movimento não afrouxou a rigidez das regras adotadas pela rede durante a pandemia do coronavírus. Qualquer cliente que chegasse tinha álcool em gel borrifado por uma funcionária com máscara de acetato.
A rotina para os maiores estabelecimentos mudou desde meados de março, quando a população passou ficar em casa. No modus operandi do Zaffari, apenas metade dos caixas funciona para que haja intervalo entre as esteiras.
Os atendentes do caixa usam máscaras de acetato. Há álcool em gel disponível em todos os setores para higienização de clientes e trabalhadores; e, nas gôndolas, o produto não é mais escasso como nos primeiros dias da quarentena, quando saíam em menos de 24 horas.
Por ser um supermercado grande localizado em um shopping que agrega consumidores com alto poder aquisitivo, aglomerações não são tão comuns, segundo clientes ouvidos pela reportagem. Além disso, 6 de cada 10 consumidores que aguardavam na fila na quarta usavam máscaras.
“Se fosse no ano passado, estaria mais lotado [na pré-Páscoa], mas mesmo com o coronavírus estou achando o movimento tranquilo”, diz Sueli Santos Aquino, 63, trabalhadora da área de saúde.
Nem todos os trabalhadores usam máscara. Funcionários do açougue e da confeitaria aderiram ao acessório, mas repositores de estoques e profissionais do setor de frutas e verduras estão descobertos.
O mesmo padrão é visto no Hirota da Vila Monumento. Além de pias nos corredores, máscaras de acetato para trabalhadores do caixa, painéis de acrílico na esteira e avisos de distanciamento no chão, a máscara não é comum a todos os colaboradores.
“A adoção virou obrigatória há poucas semanas. Até então, havia dúvidas sobre a eficácia e o manuseio das máscaras para o atendimento do público”, disse Hélio Freddi Filho, diretor de Expansão da rede.
Mesmo com novas recomendações de saúde de que os funcionários da linha de frente devem ter proteção redobrada, alguns supermercados não conseguem assegurar a fiscalização da prática.
“Em alguns horários está bem mais cheio. Mas me cuido, venho de carro e uso máscara”, disse o engenheiro Airton Taira, 73, que é considerado do grupo de risco.
Em uma unidade do Dia, na Bela Vista, os caixas passaram a usar máscara na última semana. A orientação, entretanto, não é seguida à risca. Na quarta, a única caixa, que atendia a uma fila de cinco pessoas, estava sem o acessório.
No Pão de Açúcar, que também implementou uma barreira de acrílico entre o caixa e o cliente, a orientação é para o uso de máscara. Em uma filial “express” dos Jardins, alguns atendentes não utilizavam. Na loja da Abílio Soares, que tem pontos de autoatendimento, auxiliares em contato direto com o público também estavam despidos do acessório.
No Extra, da mesma rede do Pão de Açúcar, a quarta pré-feriadão teve estacionamento lotado e, apesar de horário exclusivo para que pessoas do grupo de risco possam andar com maior segurança (o local funcionava 24 horas), famílias faziam compras e muitos idosos não tinham máscara.
“Tenho receio de vir ao supermercado, mas preciso. Moro no Parque Dom Pedro e me falaram que aqui era tranquilo. Vim de ônibus, mas está cheio”, afirmou Luiz Gonzaga da Silva, 71. Ele não usava máscara e disse que não encontrou nas farmácias.
Apesar de medidas comuns às maiores redes, como opção de férias a funcionários que estivessem receosos de trabalhar, orientação interna sobre higienização e afastamento de idosos da linha de frente, evitar aglomeração é um desafio comum a todos os supermercadistas, em especial os de locais menores e mais populares.
“A cada semana, o setor tem que se adaptar a novas regras. A máscara não era mandatória até pouco tempo atrás. Já tivemos que fazer quatro edições de cartilhas durante a pandemia para atualizar com as novas boas práticas”, diz Ronaldo dos Santos, presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados).
A última cartilha da associação pede que os lojistas evitem aglomeração por meio de um cálculo que, como reconhece Santos, é difícil de cumprir. A associação orienta limite de entrada de uma pessoa por 20 m² de área de venda, observando as legislações locais.
“Essa proporção é um parâmetro sugerido”, afirma a Apas, que considera diminuir o espaço para uma pessoa por 15 m². A medição de temperatura de clientes também não é descartada de nova recomendação.
HIPERINFLAÇÃO
A pandemia alterou o tipo de compra no supermercado e levou a um cenário parecido com o de meados dos anos 1990, quando famílias estocavam produtos para fugir da hiperinflação.
Com o confinamento e o receio de contágio, as pessoas têm ido menos vezes aos supermercados, mas fazendo compras maiores em volume.
Dados divulgados nesta quinta-feira (9) pela consultoria Kantar, que pesquisa hábitos de mais de 11 mil famílias todas as semanas, mostram que, na semana de 16 de março, que antecedeu a quarentena, o volume das cestas cresceu 26% em relação à semana anterior na Grande São Paulo.
A classe AB foi a que a mais se abasteceu na semana anterior ao confinamento. Lideraram na variação de gastos os alimentos básicos e os produtos de limpeza.
Em São Paulo, o índice de variação subiu 211% para papel higiênico, seguido de 79% para detergente, 73% a cereais, 70% a acessórios de limpeza e 50% para sabonete.
Esse perfil é visto em supermercados de classe média. Sheila Winter, 50, cliente do Hirota, diz que costumava fazer compras duas ou três vezes por semana. Agora, ampliou o espaço para 15 dias. “Só compro produtos que não posso estocar, de geladeira, como frios.”
Baseado no consumo pós-quarentena da China, a Kantar prevê que produtos de limpeza sigam com desempenho igual passado o confinamento. Já a compra de itens como temperos e sorvete, ligados ao ato de cozinhar ou à indulgência, podem cair.
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