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Vítimas de incêndio em hospital no Rio planejavam comprar casa antes de adoecerem

Ao todo, três pessoas morreram. Até a tarde desta quarta-feira (28), outros 191 pacientes haviam sido transferidos de hospital e há um que ainda aguarda vaga em outra unidade


Por Folhapress Publicado 28/10/2020
Foto: Saulo Angelo/Futura Press/Folhapress

A radiologista Núbia Rodrigues, 42, havia se mudado para uma casa com piscina e sonhava em comprar o imóvel. O garçom Marco Paulo Luiz, de 39 anos, viúvo e pai de cinco filhos, entre 6 e 18 anos, também planejava parar de pagar aluguel. Ambos morreram de parada cardíaca durante o incêndio que atingiu o Hospital Federal de Bonsucesso, na zona norte do Rio, nesta terça-feira (27).

Ao todo, três pessoas morreram. Até a tarde desta quarta-feira (28), outros 191 pacientes haviam sido transferidos de hospital e há um que ainda aguarda vaga em outra unidade.

A perícia da Polícia Civil não havia entrado no prédio, que continua interditado, ainda com alguns focos de incêndio. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que um relatório do próprio governo federal indicava que o hospital não tinha um plano de combate a incêndio.

Núbia era moradora da Penha, na zona norte do Rio. Vivia com o filho Patrick Machado, 20, e com Jéssica Lopes, 30, a sobrinha de uma amiga. Ela começou a passar mal com sintomas do novo coronavírus na última quarta, e passou pelas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento ) da Penha, na zona norte, e de Mesquita, na baixada fluminense, antes de dar entrada no hospital na sexta-feira.

Segundo a amiga e técnica de enfermagem Elaine Pereira, 45, Núbia ficou das 8h às 15h na UPA da Penha, mas passou apenas pela triagem. Saiu sem atendimento e retornou para casa.

Ainda com cansaço e falta de ar, ela foi para UPA de Mesquita. No local, não chegou a fazer o exame da Covid-19, mas saiu medicada. Ela foi internada no hospital no dia 23.

“A Núbia não teve a chance de saber se sobreviveria ao coronavírus. Ela era uma pessoa jovem, que fazia exercícios, não tinha comorbidades. Estava entubada, mas o tubo não representa uma sentença de morte”, lamenta Elaine.

A amiga conta que Núbia estava confiante de que sairia com vida da internação, apesar de 75% dos pulmões comprometidos pela Covid-19: “Ela era uma pessoa alegre, extrovertida. Em nenhum momento achou que fosse morrer”.

Núbia chegou a ser transferida do prédio 1, que pegou fogo, para o 2. No entanto, não resistiu e teve uma parada cardíaca. Familiares e amigos atribuem a morte à transferência durante o incêndio.

Órfã aos 13 anos, Núbia era filha única e foi criada por uma tia. No ano passado, perdeu o marido para um câncer. Ele também morreu no Bonsucesso. Em abril, mudou-se para Penha, na zona norte, onde morava de aluguel. “É uma casa com piscina. Estava muito feliz. Fazia planos de comprar a casa onde estava morando”, lembra Elaine.

Elaine estava de plantão quando soube do incêndio no hospital. Ficou em pânico. A amiga e o filho de Núbia receberam a notícia da morte por telefone, por uma conhecida que estava dentro do hospital. Ela será enterrada nesta quinta-feira, em Inhaúma, zona norte do Rio.

Morador do bairro Andrade, em Belford Roxo, na baixada fluminense, o garçom Marco Paulo estava internado havia três semanas no hospital devido a uma infecção por bactéria e uma pneumonia.

Segundo a cozinheira Isabel Cristina Luiz, 44, irmã de Marco, depois de ser retirado prédio, o paciente chegou a ser transferido para outra unidade. No entanto, segundo ela, não conseguiu um leito e retornou para o Bonsucesso.

Entubado e em estado grave, Marco teve três paradas cardiorrespiratórias e morreu na noite de terça-feira (27). “Aquele hospital era uma bomba relógio. Os pacientes estavam lá como cobaias de uma situação que estavas prestes a explodir. As autoridades têm que tomar alguma providência”, indigna-se Isabel.
Segunda ela, o irmão perdeu a esposa em maio deste ano em decorrência de uma profunda depressão.

“Ele era o único responsável pelos cincos filhos. Eles e a profissão dele eram sua vida. Era uma pessoa extrovertida e muito prestativa. Se pudesse tirava a roupa do corpo para ajudar outra pessoa”, emociona-se a irmã.

A família de Marco soube do incêndio pela imprensa e correu até a porta do hospital para ter notícias dele: “Meu irmão estava entubado. Não podia sair correndo e se defender. Não foi uma morte natural, houve falha humana e dos nossos governantes”.

Isabel viu na última sexta-feira o irmão, que estava sorridente. Ele planejava sair do hospital e parar de pagar aluguel comprando a casa própria.

“Com a pandemia, como ele trabalhava com eventos, perdeu muito trabalho. Mas moramos todos perto, estávamos sempre ajudando um ao outro”, conta.
O garçom, que tinha três irmãos e a mãe ainda vida, será enterrado nesta quinta-feira em Nova Iguaçu, na baixada fluminense. A terceira vítima, uma mulher de 83 anos, ainda não teve a identidade revelada.

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