Dólar sobe 1,6% e vai ao maior patamar em 3 meses
Segundo o Banco Central, o movimento de empresas sediadas no Brasil de buscar dólares para quitar dívidas em moeda estrangeira está entre os fatores que contribuíram para a alta recente da moeda norte americana
Em dia negativo para emergentes, o dólar subiu 1,590%, a R$ 4,0690, maior patamar desde 20 de maio. Nesta segunda-feira (19), a moeda americana voltou a ganhar força internacional com o temor de uma nova recessão econômica.
No Brasil, o movimento de alta também conta com a saída de investidores estrangeiros. Dentre uma cesta de emergentes, o real foi a segunda moeda que mais se desvalorizou, atrás apenas da lira turca.
O Ibovespa também foi pressionado nesta e recuou 0,34%, a 99.468 pontos, terceiro pregão abaixo do patamar dos 100 mil pontos.
GA inversão da curva de juros de longo e de curto prazo nos Estados Unidos, indício de recessão econômica, e desaceleração da economia global levam investidores a migrarem de ativos de risco, como emergentes, para produtos mais seguros, como títulos do governo americano, ouro e dólar.
Neste ano, até o dia 9 de agosto, a saída de recursos do Brasil supera a entrada em US$ 2 bilhões. No mesmo período de 2018, o saldo era positivo em US$ 29 bilhões.
“Essa porrada de 1,6% de alta hoje é uma continuidade de um movimento de aversão a risco. Além disso, faz tempo que não temos fluxo financeiro vindo para cá. Isso é um resultado da saída dos estrangeiros do país”, diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.
Segundo o Banco Central, o movimento de empresas sediadas no Brasil de buscar dólares para quitar dívidas em moeda estrangeira está entre os fatores que contribuíram para a alta recente da moeda norte americana.
Para conter o movimento, o BC irá vender dólar, das reservas internacionais, à vista a partir desta quarta (21) por uma semana.
Alguns analistas apontam que tal ação da instituição pode gerar um movimento de especulação com relação à moeda, o que pode ter contribuído para a alta expressiva desta segunda.
“Não é bem o real que está ficando fraco, e sim o dólar que fica forte. Aqui, temos dois agravantes: o fluxo de dólar para cá comprometido por Argentina e guerra comercial e a especulação contra o real”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.
No exterior, o viés foi positivo com medidas de estímulo na Alemanha e na China. O banco central chinês apresentou uma reforma dos juros no sábado (17) para ajudar a reduzir os custos de empréstimo para empresas.
No domingo (18) ministro das Finanças alemão, por sua vez, disse que o país tem a força fiscal necessária para conter qualquer crise econômica futura “com força total”, sugerindo até EUR 50 bilhões em gastos extras.
Também contribuiu para a recuperação dos mercados, a aproximação dos americanos para um acordo comercial com a China. Os Estados Unidos estenderam em 90 dias o primeiro período de isenções acordado em maio para alguns clientes e fornecedores americanos da Huawei para continuarem a trabalhar com a empresa chinesa, antes de uma proibição definitiva.
O governo americano também retomou as negociações com a China, mas o presidente Donald Trump disse ainda não estar pronto para um acordo e indicou que a Casa Branca gostaria de ver Pequim resolver primeiro os protestos em Hong Kong.
“Acho que seria muito bom para o acordo comercial”, disse Trump.
O assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, afirmou que os representantes comerciais de ambos os países vão conversar dentro de 10 dias e uma possível visita dos chineses à Washington.
Com a trégua, os índices S&P 500 e Nasdaq tiveram alta de 1,34 e 1,35% respectivamente. Dow Jones subiu 0,96%. Na Europa, Londres subiu 1,02% e Paris 1,34% e Frankfurt 1,32%.
Na Ásia, a Bolsa de Hong Kong e o índice chinês CSI 300 subiram 2% cada. A Bolsa japonesa teve alta de 0,71%.
Na Argentina, a Bolsa não abriu devido a feriado local, mas índices externos mostram uma nova deterioração da economia com a troca do ministro da Economia.
No sábado (17), o presidente da Argentina, Mauricio Macri, substituiu Nicolás Dujovne, que havia feito o empréstimo de US$ 57 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional), por Hernán Lacunza, ministro da Economia da Província de Buenos Aires, e também integrante do partido do governo. A mudança vem acompanhada do desconforto de Dujovne com o pacote de estímulo lançado por Macri.
Além disso, o candidato que lidera as pesquisas, Alberto Fernández, declarou que é impossível que a Argentina pague o empréstimo com o FMI nos atuais termos.
Com a crise no país, as agências de classificação de risco Fitch e S&P reduziram a nota de crédito da Argentina nesta sexta, citando maiores chances de um calote na esteira da provável vitória do kirchnrista Fernández. No Brasil, a aversão a emergentes foi agravada pela crise argentina e levou o Ibovespa a recuar 0,33%, a 99.468 pontos. O giro financeiro foi elevado, de R$ 26 bilhões, devido ao vencimento de opções de ações.
A Bolsa chilena acompanhou a tendência e caiu 0,23%.
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