Nissan sinaliza interesse em aliança Renault-Fiat Chrysler, mas desconfia de italiana
Hoje, 15% da empresa asiática estão nas mãos do governo da França
A montadora japonesa Nissan, que tem uma aliança com a Renault, se disse nesta segunda (27) “aberta a qualquer discussão que fortaleça” a parceria. Foi uma reação polida, mas lacônica ao anúncio do começo das conversas entre a francesa e a ítalo-americana Fiat-Chrysler (FCA) com vistas a uma fusão.
A firma asiática é controlada pela Renault (que detém 43% das ações daquela). No sentido inverso, possui 15% do capital da empresa europeia, mas sem direito a voto na assembleia-geral desta, o que sempre crispou a relação entre Paris e Yokohama.
A operação desenhada pela FCA dá voz à Nissan no conselho de administração da hipotética übermontadora, que seria a terceira do mundo, com produção anual de 8,7 milhões de veículos, atrás apenas de Volkswagen e Toyota.
Se as duas japonesas se somassem à empreitada, a capacidade de entrega chegaria a 15 milhões de unidades, sem paralelo no mundo.
Além do direito a voto, que a Nissan espera desde 2002, a possível sociedade Renault-FCA tem outro atrativo para Yokohama, como destaca o jornal econômico Les Échos: enfraquece a influência, na companhia, do Estado francês, a quem os japoneses atribuem uma operação de bastidor para tentar controlá-los.
Hoje, 15% da empresa asiática estão nas mãos do governo da França. Caso a fusão Renault-FCA se concretize, a fatia cairia para 7,5% -já que o que se propõe é um acerto com 50% de capital de cada lado.
O comunicado em que a Fiat-Chrysler anuncia as negociações menciona uma economia de 1 bilhão de euros na operação de Nissan e Mitsubishi, caso a união entre as europeias vingue. A poupança seria ainda maior se as duas últimas se implicassem ativamente na parceria.
Apesar dos aparentes estímulos, a perspectiva de uma junção de forças com a FCA não entusiasma ardorosamente a Nissan. Aos Echos, fontes da empresa dizem ver mais concorrência do que complementaridade nas atividades das duas firmas. Por exemplo, ambas têm no mercado americano um pilar -o que não é o caso da Renault.
Além disso, os japoneses afirmam que as redundâncias na operação europeia da trinca forçariam cortes (fechamento de fábricas e redução de postos) para evitar perdas financeiras, medidas que seriam rechaçadas pelos governos de França e Itália.
Mas, acima de tudo, acham que a proposta da FCA é um estratagema dos italianos para adentrar o mercado chinês -o maior do mundo, onde a Nissan vai de vento em popa- e, de forma mais difusa, o circuito asiático como um todo.
A firma de Yokohama também acredita estar à frente do consórcio Fiat-Renault nas pesquisas e no desenvolvimento de modelos elétricos e autônomos, próxima fronteira da indústria.
Seja como for, a hipotética aliança será discutida nesta quarta, no Japão, em encontro do conselho da já existente parceria Renault-Nissan-Mitsubishi, em ponto morto há seis meses.
Foi quando estourou o quiproquó envolvendo o todo-poderoso chefe do grupo, Carlos Ghosn, preso sob as acusações de não declarar parte de seus vencimentos e de usar dinheiro da corporação para compensar perdas com investimentos particulares.
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